Arquiteto da Casacor denuncia injúria racial de visitante: 'Não é a primeira vez que acontece e não vai ser a última'
Arquiteto premiado da CasaCor relata ter sido vítima de injúria racial durante evento O arquiteto Gabriel Rosa, de 24 anos, denunciou ter sido vítima de injúria racial cometida por uma visitante, na sexta-feira (25), durante a Casacor São Paulo. O evento voltado à arquitetura e ao design de interiores, acontece no Parque da Água Branca, na Zona Oeste da capital, e vai se estender até 3 de agosto. Vencedor do prêmio de Melhor Ambiente da Casacor SP 2024 e participante da edição de 2025, Gabriel foi responsável pelo projeto "Adega Legado", com tema de resgate da ancestralidade africana. Ele contou ao g1 que estava no seu ambiente, recebendo os visitantes, quando foi abordado por uma mulher. Ao longo da conversa, ela fez comentários preconceitos sobre cotas raciais, médicos negros e o comportamento de pessoas pretas em espaços públicos (veja acima). ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 SP no WhatsApp “Ela entrou no ambiente, pegou um panfleto com a minha foto e chegou até mim com um tom de deboche perguntando se eu era o arquiteto”, lembra Gabriel. O jovem confirmou e começou a explicar o conceito do projeto à mulher, que se apresentou como sendo advogada. Segundo Gabriel, a visitante — que afirmou morar no Rio de Janeiro — não alterou o tom da voz nem o comportamento em nenhum momento, porém a conversa foi se transformando em uma opinião racista. “Ela começou a falar que tem dia que se senta na calçada para tomar café e fica vendo que 'até esses pretos que são pobres andam como se fossem da realeza, enquanto os brancos andam de forma desleixada'", relembrou. O arquiteto continuou estimulando a conversa com a mulher até que ela disse: "Para você que é arquiteto não conta muito, mas eu, por exemplo, não vou mais em médico quando é preto", segundo relato dele. Diante das falas, Gabriel decidiu registrar em vídeo parte da conversa, especialmente quando a advogada passou a criticar a política de cotas raciais. Confira o que ela disse no vídeo: "Depois que pode entrar [na universidade] com cota, eu não vou mais a médico preto. Por quê? Lá na UnB, por exemplo. Eu morei em Brasília por anos, ainda tenho casa lá. Eu conheço professores de medicina que, se eles derem nota baixa para um preto, que tirou nota baixa, que não estudou, o preto processa o professor. Então, nenhum professor dá nota baixa. Aí o que fazem? As pessoas de cor e as de cadeira de roda, todas as cotas, os professores dão nota. Como eu vou me consultar com um médico que passou voando na faculdade de medicina?" Gabriel contou que ter ficado em estado de choque após a abordagem e se questionou se, de fato, havia sofrido racismo. Para ele, o mais chocante foi o tom de naturalidade com que a mulher falou. “Parecia uma conversa normal, como se ela estivesse conversando com uma amiga dela numa tarde normal. Isso que mais me choca, o lugar em que ela se colocou, não imaginando que ela estava falando com um arquiteto preto na frente dela." Depois do episódio, o arquiteto procurou a organização da Casacor, que o auxiliou a localizar a visitante e acionar a polícia. Segundo Gabriel, a mulher confirmou aos policiais as declarações, mas disse que “não queria magoar”. O arquiteto afirmou que denunciou o episódio para dar um exemplo a outros profissionais e trabalhadores negros. “Eu fiz isso não só por mim, mas para todo corpo de pessoas pretas que trabalham na Casacor. Os recepcionistas, 90% são pretos, e eles escutam cada barbaridade..." Arquiteto Gabriel Rosa Arquivo pessoal Eu poderia deixar passar [o episódio], porém há cinco dias eu dei uma entrevista falando sobre como é ser um arquiteto preto, tendo o destaque que eu tenho dentro da maior mostra de arquitetura, onde, por exemplo, de 73 arquitetos, só três são pessoas negras. A arquitetura é uma profissão muito elitista. Como que eu deixo uma coisa dessa passar? Procurada, a Secretaria da Segurança Pública não retornou até a última atualização desta reportagem. O g1 não localizou a defesa da visitante. Representatividade negra na arquitetura A presença de Gabriel na Casacor tem significado duplo. Ele participa da mostra pelo segundo ano seguido. No ano passado, aos 22 anos, estreou como o arquiteto mais jovem da história da Casacor. Neste ano, assina o ambiente “Adega Legado”. “Quando foi me dado o ambiente de adega, eu queria entender de onde partia esse início de fermentação do preparo do vinho. A gente aprende que o vinho vem da Europa, dos gregos. Só que, na verdade, essa prática inicia há 5.000 anos ainda no Egito”, observa. Para ele, o projeto é uma forma de resgatar a ancestralidade negra e combater o apagamento histórico. “Legado porque quero trazer de volta isso que nos foi tirado. Quero trazer de forma potente, de forma clássica, uma narrativa que as pessoas não conhecem e que ficou perdida no meio de toda essa história.” O que diz a Casacor "A CASACOR repudia veementemente qualquer ato de racismo, discriminação ou violência. São atitudes inaceitáveis e criminosas, que não têm lugar em


Arquiteto premiado da CasaCor relata ter sido vítima de injúria racial durante evento O arquiteto Gabriel Rosa, de 24 anos, denunciou ter sido vítima de injúria racial cometida por uma visitante, na sexta-feira (25), durante a Casacor São Paulo. O evento voltado à arquitetura e ao design de interiores, acontece no Parque da Água Branca, na Zona Oeste da capital, e vai se estender até 3 de agosto. Vencedor do prêmio de Melhor Ambiente da Casacor SP 2024 e participante da edição de 2025, Gabriel foi responsável pelo projeto "Adega Legado", com tema de resgate da ancestralidade africana. Ele contou ao g1 que estava no seu ambiente, recebendo os visitantes, quando foi abordado por uma mulher. Ao longo da conversa, ela fez comentários preconceitos sobre cotas raciais, médicos negros e o comportamento de pessoas pretas em espaços públicos (veja acima). ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 SP no WhatsApp “Ela entrou no ambiente, pegou um panfleto com a minha foto e chegou até mim com um tom de deboche perguntando se eu era o arquiteto”, lembra Gabriel. O jovem confirmou e começou a explicar o conceito do projeto à mulher, que se apresentou como sendo advogada. Segundo Gabriel, a visitante — que afirmou morar no Rio de Janeiro — não alterou o tom da voz nem o comportamento em nenhum momento, porém a conversa foi se transformando em uma opinião racista. “Ela começou a falar que tem dia que se senta na calçada para tomar café e fica vendo que 'até esses pretos que são pobres andam como se fossem da realeza, enquanto os brancos andam de forma desleixada'", relembrou. O arquiteto continuou estimulando a conversa com a mulher até que ela disse: "Para você que é arquiteto não conta muito, mas eu, por exemplo, não vou mais em médico quando é preto", segundo relato dele. Diante das falas, Gabriel decidiu registrar em vídeo parte da conversa, especialmente quando a advogada passou a criticar a política de cotas raciais. Confira o que ela disse no vídeo: "Depois que pode entrar [na universidade] com cota, eu não vou mais a médico preto. Por quê? Lá na UnB, por exemplo. Eu morei em Brasília por anos, ainda tenho casa lá. Eu conheço professores de medicina que, se eles derem nota baixa para um preto, que tirou nota baixa, que não estudou, o preto processa o professor. Então, nenhum professor dá nota baixa. Aí o que fazem? As pessoas de cor e as de cadeira de roda, todas as cotas, os professores dão nota. Como eu vou me consultar com um médico que passou voando na faculdade de medicina?" Gabriel contou que ter ficado em estado de choque após a abordagem e se questionou se, de fato, havia sofrido racismo. Para ele, o mais chocante foi o tom de naturalidade com que a mulher falou. “Parecia uma conversa normal, como se ela estivesse conversando com uma amiga dela numa tarde normal. Isso que mais me choca, o lugar em que ela se colocou, não imaginando que ela estava falando com um arquiteto preto na frente dela." Depois do episódio, o arquiteto procurou a organização da Casacor, que o auxiliou a localizar a visitante e acionar a polícia. Segundo Gabriel, a mulher confirmou aos policiais as declarações, mas disse que “não queria magoar”. O arquiteto afirmou que denunciou o episódio para dar um exemplo a outros profissionais e trabalhadores negros. “Eu fiz isso não só por mim, mas para todo corpo de pessoas pretas que trabalham na Casacor. Os recepcionistas, 90% são pretos, e eles escutam cada barbaridade..." Arquiteto Gabriel Rosa Arquivo pessoal Eu poderia deixar passar [o episódio], porém há cinco dias eu dei uma entrevista falando sobre como é ser um arquiteto preto, tendo o destaque que eu tenho dentro da maior mostra de arquitetura, onde, por exemplo, de 73 arquitetos, só três são pessoas negras. A arquitetura é uma profissão muito elitista. Como que eu deixo uma coisa dessa passar? Procurada, a Secretaria da Segurança Pública não retornou até a última atualização desta reportagem. O g1 não localizou a defesa da visitante. Representatividade negra na arquitetura A presença de Gabriel na Casacor tem significado duplo. Ele participa da mostra pelo segundo ano seguido. No ano passado, aos 22 anos, estreou como o arquiteto mais jovem da história da Casacor. Neste ano, assina o ambiente “Adega Legado”. “Quando foi me dado o ambiente de adega, eu queria entender de onde partia esse início de fermentação do preparo do vinho. A gente aprende que o vinho vem da Europa, dos gregos. Só que, na verdade, essa prática inicia há 5.000 anos ainda no Egito”, observa. Para ele, o projeto é uma forma de resgatar a ancestralidade negra e combater o apagamento histórico. “Legado porque quero trazer de volta isso que nos foi tirado. Quero trazer de forma potente, de forma clássica, uma narrativa que as pessoas não conhecem e que ficou perdida no meio de toda essa história.” O que diz a Casacor "A CASACOR repudia veementemente qualquer ato de racismo, discriminação ou violência. São atitudes inaceitáveis e criminosas, que não têm lugar em nossos ambientes. Nosso compromisso com o respeito, a diversidade e a dignidade humana é inegociável. Trabalhamos para garantir que a mostra seja sempre um espaço seguro, acolhedor e representativo para todas as pessoas. Seguiremos atentos e atuantes para impedir qualquer forma de discriminação." Entenda a diferença entre racismo e injúria racial