‘As telas estão destruindo a infância’, alerta Jonathan Haidt, autor de ‘A Geração Ansiosa’; veja dicas para proteger seus filhos

O psicólogo social, escritor e professor universitário norte-americano foi o principal convidado do 6º Congresso Socioemocional LIV, realizado no Vivo Rio, na Zona Sul, na última quarta-feira (21). Jonathan Haidt é o autor do best-seller 'A Geração Ansiosa' Rob Holysz / Divulgação "As telas estão destruindo a infância e o futuro das crianças." Essa é a mensagem que o psicólogo social Jonathan Haidt, autor do best-seller 'A Geração Ansiosa', quer transmitir a pais e educadores no Brasil. O norte-americano foi o principal convidado do 6º Congresso Socioemocional LIV, realizado no Vivo Rio, na Zona Sul, na última quarta-feira (21). Com o tema 'Tecnologia, bem-estar e infância: Reconstruindo ambientes saudáveis', o evento celebrou uma década de atuação na promoção de habilidades emocionais em mais de 500 mil alunos brasileiros. (Saiba mais no fim do texto). Diante de uma plateia de quase duas mil pessoas, entre educadores, mães e pais, Jonathan Haidt foi duro em sua palestra sobre os problemas causados pelo uso excessivo de telas na infância e adolescência. Ele também apresentou um conjunto de dicas para evitar a destruição do futuro dos jovens hiperconectados. Segundo ele, o mundo passa por uma "epidemia silenciosa". "É uma tragédia em dois atos. Primeiro perdemos a infância que era baseada em brincadeira, em liberdade. (...) Crianças precisam abraçar seus amigos, sentir e interagir. E isso acaba quando surge os smartphones", disse Haidt. "A infância baseada em brincadeiras ao ar livre foi substituída por uma infância confinada em ambientes controlados e hiperconectados", comentou o especialista. Principais problemas do excesso de telas, segundo Jonathan Haidt: Aumento de casos de ansiedade, depressão e automutilação; Irritabilidade e desregulação emocional; Problemas de visão; Distúrbios do sono; Sedentarismo e obesidade; Déficit de atenção e memória; Atraso na linguagem; Isolamento e convívio precário; Exposição a riscos virtuais; Vício em dopamina; Queda no desempenho escolar; Analfabetismo funcional; Falta de exposição ao mundo real De acordo com os estudos apresentados, o aumento do uso de celulares por crianças e adolescentes é inversamente proporcional ao tempo gasto com amigos. ‘As telas estão destruindo a infância’, alerta Jonathan Haidt, autor de ‘A Geração Ansiosa' Raoni Alves / g1 Rio Jovens de 15 a 24 anos experimentaram uma queda muito mais acentuada no tempo com amigos fora da escola do que as gerações anteriores, segundo um painel apresentado por Haidt. Outro dado que mostra a mudança de comportamento entre gerações é a liberdade oferecida pelos pais. Haidt afirmou que as gerações nascidas entre as décadas de 1960 e 1990 tinham maior autonomia para realizar tarefas sem supervisão. Já os nascidos após 1995 foram perdendo gradativamente essa exposição ao mundo real. "O computador e a internet surgem na década de 90 com mais força, depois os smartphones a partir de 2005. Aqui nesse momento começa a infância baseada no telefone. E foi onde a saúde mental dos adolescentes piorou muito rapidamente", explica o psicólogo. "Entre 2000 e 2010, o telefone celular servia só para ligar, pequenas mensagens de texto e jogar o jogo da cobrinha. Agora a geração Z provavelmente ganhou um smartphone com 12 anos, entrou no Facebook e passou a ser bombardeado por estímulos. O jovem virou o produto e está sendo vendido por publicitários", complementa. "Na minha época, se um ET viesse para a Terra, você colocava ele na bicicleta e ia andar por aí com seus amigos. Hoje não", provoca Jonathan. Geração limitada Durante o evento, Haidt também afirmou que o excesso de telas está deixando as crianças mais limitadas, com dificuldades de aprendizagem, interação e desenvolvimento. "Os telefones estão tornando os nossos alunos mais burros. As notas caíram a partir de 2020. Todos falaram: 'Olha o que a Covid causou'. Mas não foi a Covid, foi o maior tempo em telas. A humanidade está cada vez mais burra, ao mesmo tempo que as máquinas estão mais inteligentes", alertou. "Os estudantes têm muita dificuldade para ler um livro. Eles dizem: 'Não tem luz, nada se movimenta, são só palavras'. Uma aluna minha disse assim: 'Eu leio uma frase fico entediada e vou para o TikTok'", relatou Haidt. Saiba como ativar proteção para controlar tempo e atividade de crianças no celular Segundo ele, as dificuldades intelectuais também afetam os adultos, mas o impacto é mais grave nos jovens, por conta do período de formação cerebral. "O que acontece é que a capacidade de ler e responder perguntas vai caindo. É o analfabetismo funcional. Muitos adultos não conseguem ler 3 ou 4 páginas sem ter que ir para uma rede, ver e-mails, responder mensagens", ressaltou. "É uma dificuldade de ficar concentrado e pensar. Se todas as gerações acham difícil pensar, as implicações são muito mais difíceis para os jovens. É grave", reforçou. Aumento de casos de suicídios Desde 2010, coincidindo com a popularização dos smartphones, os índices de ansiedade, depre

Mai 22, 2025 - 06:00
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‘As telas estão destruindo a infância’, alerta Jonathan Haidt, autor de ‘A Geração Ansiosa’; veja dicas para proteger seus filhos

O psicólogo social, escritor e professor universitário norte-americano foi o principal convidado do 6º Congresso Socioemocional LIV, realizado no Vivo Rio, na Zona Sul, na última quarta-feira (21). Jonathan Haidt é o autor do best-seller 'A Geração Ansiosa' Rob Holysz / Divulgação "As telas estão destruindo a infância e o futuro das crianças." Essa é a mensagem que o psicólogo social Jonathan Haidt, autor do best-seller 'A Geração Ansiosa', quer transmitir a pais e educadores no Brasil. O norte-americano foi o principal convidado do 6º Congresso Socioemocional LIV, realizado no Vivo Rio, na Zona Sul, na última quarta-feira (21). Com o tema 'Tecnologia, bem-estar e infância: Reconstruindo ambientes saudáveis', o evento celebrou uma década de atuação na promoção de habilidades emocionais em mais de 500 mil alunos brasileiros. (Saiba mais no fim do texto). Diante de uma plateia de quase duas mil pessoas, entre educadores, mães e pais, Jonathan Haidt foi duro em sua palestra sobre os problemas causados pelo uso excessivo de telas na infância e adolescência. Ele também apresentou um conjunto de dicas para evitar a destruição do futuro dos jovens hiperconectados. Segundo ele, o mundo passa por uma "epidemia silenciosa". "É uma tragédia em dois atos. Primeiro perdemos a infância que era baseada em brincadeira, em liberdade. (...) Crianças precisam abraçar seus amigos, sentir e interagir. E isso acaba quando surge os smartphones", disse Haidt. "A infância baseada em brincadeiras ao ar livre foi substituída por uma infância confinada em ambientes controlados e hiperconectados", comentou o especialista. Principais problemas do excesso de telas, segundo Jonathan Haidt: Aumento de casos de ansiedade, depressão e automutilação; Irritabilidade e desregulação emocional; Problemas de visão; Distúrbios do sono; Sedentarismo e obesidade; Déficit de atenção e memória; Atraso na linguagem; Isolamento e convívio precário; Exposição a riscos virtuais; Vício em dopamina; Queda no desempenho escolar; Analfabetismo funcional; Falta de exposição ao mundo real De acordo com os estudos apresentados, o aumento do uso de celulares por crianças e adolescentes é inversamente proporcional ao tempo gasto com amigos. ‘As telas estão destruindo a infância’, alerta Jonathan Haidt, autor de ‘A Geração Ansiosa' Raoni Alves / g1 Rio Jovens de 15 a 24 anos experimentaram uma queda muito mais acentuada no tempo com amigos fora da escola do que as gerações anteriores, segundo um painel apresentado por Haidt. Outro dado que mostra a mudança de comportamento entre gerações é a liberdade oferecida pelos pais. Haidt afirmou que as gerações nascidas entre as décadas de 1960 e 1990 tinham maior autonomia para realizar tarefas sem supervisão. Já os nascidos após 1995 foram perdendo gradativamente essa exposição ao mundo real. "O computador e a internet surgem na década de 90 com mais força, depois os smartphones a partir de 2005. Aqui nesse momento começa a infância baseada no telefone. E foi onde a saúde mental dos adolescentes piorou muito rapidamente", explica o psicólogo. "Entre 2000 e 2010, o telefone celular servia só para ligar, pequenas mensagens de texto e jogar o jogo da cobrinha. Agora a geração Z provavelmente ganhou um smartphone com 12 anos, entrou no Facebook e passou a ser bombardeado por estímulos. O jovem virou o produto e está sendo vendido por publicitários", complementa. "Na minha época, se um ET viesse para a Terra, você colocava ele na bicicleta e ia andar por aí com seus amigos. Hoje não", provoca Jonathan. Geração limitada Durante o evento, Haidt também afirmou que o excesso de telas está deixando as crianças mais limitadas, com dificuldades de aprendizagem, interação e desenvolvimento. "Os telefones estão tornando os nossos alunos mais burros. As notas caíram a partir de 2020. Todos falaram: 'Olha o que a Covid causou'. Mas não foi a Covid, foi o maior tempo em telas. A humanidade está cada vez mais burra, ao mesmo tempo que as máquinas estão mais inteligentes", alertou. "Os estudantes têm muita dificuldade para ler um livro. Eles dizem: 'Não tem luz, nada se movimenta, são só palavras'. Uma aluna minha disse assim: 'Eu leio uma frase fico entediada e vou para o TikTok'", relatou Haidt. Saiba como ativar proteção para controlar tempo e atividade de crianças no celular Segundo ele, as dificuldades intelectuais também afetam os adultos, mas o impacto é mais grave nos jovens, por conta do período de formação cerebral. "O que acontece é que a capacidade de ler e responder perguntas vai caindo. É o analfabetismo funcional. Muitos adultos não conseguem ler 3 ou 4 páginas sem ter que ir para uma rede, ver e-mails, responder mensagens", ressaltou. "É uma dificuldade de ficar concentrado e pensar. Se todas as gerações acham difícil pensar, as implicações são muito mais difíceis para os jovens. É grave", reforçou. Aumento de casos de suicídios Desde 2010, coincidindo com a popularização dos smartphones, os índices de ansiedade, depressão e automutilação entre adolescentes dispararam globalmente. Nos EUA, 20% das adolescentes relatam pensamentos suicidas. No Brasil, as internações psiquiátricas de jovens começaram a subir rapidamente a partir de 2015. Aumento de casos de suicídios no Brasil Raoni Alves / g1 Rio Dados do Ministério da Saúde apresentados por Haidt mostram que o número de adultos jovens brasileiros que tiraram a própria vida aumentou drasticamente a partir de 2016. Recuperação da infância: o plano de ação de Haidt Apesar do tom de alerta, Haidt apresentou soluções para reverter esse cenário. Seu plano de ação é baseado em quatro pilares: Nada de smartphones antes dos 14 anos "No dia em que você entrega um celular ao seu filho, o telefone se torna o centro da vida." Haidt sugere adiar ao máximo o acesso, idealmente até os 18, mas defende os 14 como limite mínimo. Redes sociais apenas após os 16 anos A puberdade é um período crítico para o desenvolvimento cerebral. A exposição a estranhos online é comparada a "deixar uma criança conversar com abusadores no parque". Escolas 100% livres de celulares O Brasil foi elogiado por leis que proíbem dispositivos não apenas em sala de aula, mas também nos recreios. "Nas escolas sem celular, as crianças voltaram a rir e conversar", relatou. Independência real para as crianças Promover atividades sem supervisão constante, como ir à padaria sozinho. "A cura para a ansiedade é a exposição gradual ao mundo real", explicou, citando o exemplo de sua filha de 6 anos que aprendeu a levar seu almoço ao trabalho. Haidt também elogiou o Brasil por regulamentar o uso de celulares nas escolas. Em fevereiro, o presidente Lula publicou um decreto que restringe o uso de celulares, permitindo-o apenas para estudantes com deficiência ou necessidades de saúde. Outras dicas do especialista: Nenhuma tela no quarto: computadores apenas em áreas comuns Limites de horário: nada de dispositivos após as 21 Substituir telas por atividades analógicas: brincadeiras ao ar livre, leitura e interações familiares O especialista encerrou sua participação com uma mensagem de otimismo. Para ele, as normas sugeridas para reduzir o impacto das telas nos jovens não tem custo financeiro. "Podemos fazer e já estamos fazendo. Vamos mudar a forma como nossos filhos são criados. E isso tem sido liderado por mulheres, mães. Estamos vendo uma rebelião das mães. Não quero deixar os pais de fora, mas as mães são as principais". "Se a indústria tecnológica vai enfrentar todas as mães do mundo, eu aposto nas mães", provocou Haidt. Congresso Socioemocinal LIV O Congresso Socioemocional LIV é um dos maiores eventos da América Latina voltados à educação socioemocional. Jovens hiperconectados preocupam famílias no mundo todo Ele é promovido pelo Programa LIV, que atua em escolas de todo o Brasil com foco no desenvolvimento das competências socioemocionais de crianças e adolescentes, da Educação Infantil ao Ensino Médio. Em 2025, o evento realizado no Rio de Janeiro contou com debates importantes para o meio acadêmico e para a sociedade de forma geral. Como tema central sobre 'o papel das competências socioemocionais na formação de crianças e jovens', o evento contou com Mia Couto, escritor moçambicano, Vanessa Cavalieri, juíza da Infância e Juventude, e Daniel Becker, pediatra, entre outros.