Baía de Guanabara: problemas ambientais ameaçam vida marinha e sustento de trabalhadores em um dos principais cartões postais do Rio

A Baía de Guanabara é um local de contrastes: um lugar de beleza única e, ao mesmo tempo, um campo de luta pela preservação. O Globo Repórter desta sexta (18) mostrou os animais que vivem no local e as pessoas que dependem dele como fonte de renda. Programa de 18/04/2025 Baía de Guanabara, um dos principais cartões postais do Rio de Janeiro, é um lugar de beleza única e, ao mesmo tempo, um campo de luta pela preservação. O Globo Repórter desta sexta (18) mostra porque o futuro dessa joia carioca depende de um esforço conjunto para enfrentar os desafios ambientais e garantir que suas águas continuem a sustentar a vida marinha e a comunidade local. Vida que resiste Foi por ali que os portugueses chegaram, em janeiro de 1502. Acreditavam estar entrando num grande rio. Por isso, batizaram o lugar de Rio de Janeiro. Mas era uma baía: de águas calmas, transparentes, rodeadas por mangues e morros. Um verdadeiro santuário da natureza. Cinco séculos depois, a paisagem mudou. A poluição se espalhou, o lixo flutua, os manguezais foram reduzidos — mas a vida insiste. Entre os habitantes mais ilustres da baía estão os botos-cinza, símbolos do Rio de Janeiro. “Na década de 80, tínhamos cerca de 400 botos na baía. Nos anos 90, esse número caiu para 100. Hoje, não passam de 30. É uma queda muito grande e muito rápida — um dos piores exemplos de declínio populacional”, alerta o oceanógrafo José Lailson Brito Jr., coordenador do projeto MAQUA, da UERJ, que monitora os botos há mais de três décadas. A maior ameaça a esses mamíferos está debaixo d’água. A poluição, o descarte de metais pesados, as redes de pesca ilegais e o barulho dos motores afetam diretamente a vida e a reprodução desses animais. Outro símbolo da resistência na baía são as tartarugas-verdes. Com até 1,5 metro de casco, elas se alimentam das algas e vivem nos costões rochosos. Os animais são monitoradas por drones, mergulhos e até com câmeras subaquáticas — um trabalho minucioso para garantir políticas de preservação efetivas para a espécie. Fonte de renda prejudicada Com o lançamento de resíduos industriais, esgoto e lixo, as águas da baía estão cada vez mais contaminadas. A situação é especialmente grave nas áreas de manguezais, que são vitais para o equilíbrio ecológico da região e fonte de renda para catadores de caranguejos. "Em muitos pontos, a realidade é de um manguezal praticamente morto. Trabalhamos por semanas aqui e hoje não encontramos mais caranguejos devido à poluição", conta um dos catadores de caranguejos da região. Para eles, a coleta de caranguejos é mais do que uma profissão — é um meio de sustento para suas famílias e uma forma de garantir um futuro melhor para os filhos. "As fêmeas, que são as reprodutoras, precisam ser devolvidas à natureza. Cada fêmea pode colocar entre 5 mil e 10 mil ovas por ano, e se nós retirarmos todas, estamos comprometendo a renovação da espécie”, explica um pescador local. Inspiração A beleza da Baía de Guanabara também é inspiração para artistas como Renê, que transforma os morros da Guanabara em protagonistas em suas pinturas. Ele trabalha vendendo suas obras no Cristo Redentor. "Aqui eu consigo enxergar de uma forma completa e passa uma novela bem rápida na minha mente de todas as vezes em que eu desenhei o Rio de Janeiro parte por parte, junto com essa imagem da ascensão do cristo que representa para mim um símbolo espiritual muito importante", conta o artista. Ainda dá para salvar a região? Embora a Baía enfrente desafios ambientais, a resiliência das pessoas que dependem dela para viver e das iniciativas de preservação oferecem uma luz de esperança. “É possível reverter os danos. A natureza tem uma capacidade incrível de regeneração, mas precisamos agir agora”, explica o biólogo do Instituto Mar Urbano, Ricardo Gomes. Baía de Guanabara - Globo Repórter Reprodução/TV Globo

Abr 19, 2025 - 02:00
 0  1
Baía de Guanabara: problemas ambientais ameaçam vida marinha e sustento de trabalhadores em um dos principais cartões postais do Rio

A Baía de Guanabara é um local de contrastes: um lugar de beleza única e, ao mesmo tempo, um campo de luta pela preservação. O Globo Repórter desta sexta (18) mostrou os animais que vivem no local e as pessoas que dependem dele como fonte de renda. Programa de 18/04/2025 Baía de Guanabara, um dos principais cartões postais do Rio de Janeiro, é um lugar de beleza única e, ao mesmo tempo, um campo de luta pela preservação. O Globo Repórter desta sexta (18) mostra porque o futuro dessa joia carioca depende de um esforço conjunto para enfrentar os desafios ambientais e garantir que suas águas continuem a sustentar a vida marinha e a comunidade local. Vida que resiste Foi por ali que os portugueses chegaram, em janeiro de 1502. Acreditavam estar entrando num grande rio. Por isso, batizaram o lugar de Rio de Janeiro. Mas era uma baía: de águas calmas, transparentes, rodeadas por mangues e morros. Um verdadeiro santuário da natureza. Cinco séculos depois, a paisagem mudou. A poluição se espalhou, o lixo flutua, os manguezais foram reduzidos — mas a vida insiste. Entre os habitantes mais ilustres da baía estão os botos-cinza, símbolos do Rio de Janeiro. “Na década de 80, tínhamos cerca de 400 botos na baía. Nos anos 90, esse número caiu para 100. Hoje, não passam de 30. É uma queda muito grande e muito rápida — um dos piores exemplos de declínio populacional”, alerta o oceanógrafo José Lailson Brito Jr., coordenador do projeto MAQUA, da UERJ, que monitora os botos há mais de três décadas. A maior ameaça a esses mamíferos está debaixo d’água. A poluição, o descarte de metais pesados, as redes de pesca ilegais e o barulho dos motores afetam diretamente a vida e a reprodução desses animais. Outro símbolo da resistência na baía são as tartarugas-verdes. Com até 1,5 metro de casco, elas se alimentam das algas e vivem nos costões rochosos. Os animais são monitoradas por drones, mergulhos e até com câmeras subaquáticas — um trabalho minucioso para garantir políticas de preservação efetivas para a espécie. Fonte de renda prejudicada Com o lançamento de resíduos industriais, esgoto e lixo, as águas da baía estão cada vez mais contaminadas. A situação é especialmente grave nas áreas de manguezais, que são vitais para o equilíbrio ecológico da região e fonte de renda para catadores de caranguejos. "Em muitos pontos, a realidade é de um manguezal praticamente morto. Trabalhamos por semanas aqui e hoje não encontramos mais caranguejos devido à poluição", conta um dos catadores de caranguejos da região. Para eles, a coleta de caranguejos é mais do que uma profissão — é um meio de sustento para suas famílias e uma forma de garantir um futuro melhor para os filhos. "As fêmeas, que são as reprodutoras, precisam ser devolvidas à natureza. Cada fêmea pode colocar entre 5 mil e 10 mil ovas por ano, e se nós retirarmos todas, estamos comprometendo a renovação da espécie”, explica um pescador local. Inspiração A beleza da Baía de Guanabara também é inspiração para artistas como Renê, que transforma os morros da Guanabara em protagonistas em suas pinturas. Ele trabalha vendendo suas obras no Cristo Redentor. "Aqui eu consigo enxergar de uma forma completa e passa uma novela bem rápida na minha mente de todas as vezes em que eu desenhei o Rio de Janeiro parte por parte, junto com essa imagem da ascensão do cristo que representa para mim um símbolo espiritual muito importante", conta o artista. Ainda dá para salvar a região? Embora a Baía enfrente desafios ambientais, a resiliência das pessoas que dependem dela para viver e das iniciativas de preservação oferecem uma luz de esperança. “É possível reverter os danos. A natureza tem uma capacidade incrível de regeneração, mas precisamos agir agora”, explica o biólogo do Instituto Mar Urbano, Ricardo Gomes. Baía de Guanabara - Globo Repórter Reprodução/TV Globo