Francês percorre 8 mil km do Sul ao Norte do Brasil a pé: 'o mais complicado é sair do sofá para caminhar'
Johann Grondin, de 47 anos, iniciou travessia do Chuí, no Rio Grande do Sul, ao Oiapoque, no Amapá, em 24 de fevereiro de 2024. Ele está no Piauí e o próximo destino é o Ceará. Caminhada deve durar aproximadamente um ano e seis meses. Francês percorre 8 mil km do Sul ao Norte do Brasil a pé: 'sair do sofá' Do Chuí, no Rio Grande do Sul, ao Oiapoque, no Amapá. Percorrer cerca de 8 mil quilômetros de um extremo a outro do Brasil é o desafio proposto pelo francês Johann Grondin, de 47 anos. O longo percurso poderia ser feito em poucas horas de avião ou alguns dias de carro, mas ele decidiu se aventurar de outra forma: a pé. ➡️ Em 1998, o extremo Norte do Brasil foi atualizado para o Monte Caburaí, localizado no município de Uiramutã, em Roraima, e a mais de 80 quilômetros de Oiapoque (AP). Apesar disso, a expressão "do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS)" ficou marcada como símbolo da extensão territorial do país. ✅ Siga o canal do g1 Piauí no WhatsApp Natural de Soulan, na França, Johann mudou-se para o Brasil há cerca de sete anos, após casar com uma brasileira. Ele se radicou em Caeté, Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais. "Quando cheguei no Brasil, eu queria saber quem eu seria. Aprender uma nova língua, uma nova cultura, achei muito interessante a ideia de, aos 40 anos, começar uma nova vida, reaprender a falar, a conversar com as pessoas", pontuou. Francês percorre a pé 8 mil quilômetros do Sul ao Norte do Brasil: 'o mais complicado é sair do sofá pra caminhar' Reprodução O francês passou então a explorar atrativos naturais, históricos e culturais do país por meio de escaladas e caminhadas. Chegou a atravessar a Serra da Mantiqueira - cadeia montanhosa que se estende pelos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro -, e viajar até o Espírito Santo, para visitar o Mosteiro Morro Zen da Vargem, em Ibiraçu. Johann conversou com o g1 enquanto percorria 54 quilômetros para chegar à Colônia do Piauí, no improviso mesmo. É assim que ele tem vivido desde 24 de fevereiro de 2024, quando iniciou a travessia pelo Brasil. Em entrevista, ele contou que a caminhada deve durar um ano e meio e que a ideia surgiu em um momento de insatisfação pessoal. "Você não decide fazer uma caminhada assim se está muito bem, porque sabe que tem muito desafio, sabe que vai precisar se ultrapassar, que vai ter medo e outras sensações. Se tá tudo bem na sua vida, para que fazer isso? Eu estava triste na minha casa, com esse vazio que acho que carreguei a vida toda na minha barriga, no meu coração. Mas quando tenho desafios, sou feliz. E pensei 'vou saber quem sou e por que estou nesse mundo'", contou. 'Coragem e determinação' Francês percorre a pé 8 mil quilômetros do Sul ao Norte do Brasil: 'o mais complicado é sair do sofá pra caminhar' Reprodução A travessia exige, sobretudo, coragem e determinação, segundo Johann. Antes de iniciá-la, ele até traçou um roteiro, mas não adotou qualquer rotina intensa de preparação. O francês, que praticou esportes durante toda a vida, confiou no condicionamento físico e, para custear eventuais gastos, recorreu a uma reserva de dinheiro que mantinha. "Eu só pensei na primeira semana. Falei 'vou pesquisar, saber onde vou passar, saber o caminho mais bonito'. Você não precisa saber tudo. Se quer saber tudo, você nunca vai. Você precisa saber o mínimo e depois você vai entender seu caminho, escolher a opção para um lugar, para o outro. Você precisa se aventurar", garantiu. Para sair pela estrada, Johann optou por vestimentas que o protegem do sol. Na mochila, organizou um saco de dormir - que no Piauí, deu lugar a uma rede, capa de chuva, bastão de caminhada e outros poucos itens pessoais. Além, claro, de um caderno para anotações diárias. Os primeiros meses, conforme o francês, serviram para entender melhor o corpo e avaliar quais as reais necessidades, para, por exemplo, não carregar peso à toa. "Nos dois primeiros meses, você vai ter muita dor nas costas, nos pés, nos joelhos. Os três primeiros dias são um horror. Mas quanto mais você andar, mais seu corpo vai se adaptar. Você vai perder gordura, vai criar músculo onde precisa, vai entender como aliviar o sofrimento, como cuidar das bolhas. Vai perceber que se caminha 40 ou 50 quilômetros em um dia, o dia depois vai ser complicado", explicou. "Então fazer 50 quilômetros pra chegar em um lugar seguro, ok. Pra chegar em lugar algum, não vale a pena. São muitos detalhes. Pra mim, a escola é a vida. Se uma pessoa me fala 'ah, eu quero fazer a mesma caminhada, o que você poderia me sugerir?', eu falo 'vai'. O mais complicado é sair do sofá pra caminhar. O resto flui", completou. Durante a travessia, Johann conta com a RedeTrilhas, uma iniciativa do Governo Federal que mapeia trilhas em todo o país e auxilia usuários com a indicação de locais de interesse turístico, bases para pernoite, alimentação e outros pontos de apoio. Alguns desses turistas são convidados a realizar visitas e palestras - em instituições de ensino, por exemp


Johann Grondin, de 47 anos, iniciou travessia do Chuí, no Rio Grande do Sul, ao Oiapoque, no Amapá, em 24 de fevereiro de 2024. Ele está no Piauí e o próximo destino é o Ceará. Caminhada deve durar aproximadamente um ano e seis meses. Francês percorre 8 mil km do Sul ao Norte do Brasil a pé: 'sair do sofá' Do Chuí, no Rio Grande do Sul, ao Oiapoque, no Amapá. Percorrer cerca de 8 mil quilômetros de um extremo a outro do Brasil é o desafio proposto pelo francês Johann Grondin, de 47 anos. O longo percurso poderia ser feito em poucas horas de avião ou alguns dias de carro, mas ele decidiu se aventurar de outra forma: a pé. ➡️ Em 1998, o extremo Norte do Brasil foi atualizado para o Monte Caburaí, localizado no município de Uiramutã, em Roraima, e a mais de 80 quilômetros de Oiapoque (AP). Apesar disso, a expressão "do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS)" ficou marcada como símbolo da extensão territorial do país. ✅ Siga o canal do g1 Piauí no WhatsApp Natural de Soulan, na França, Johann mudou-se para o Brasil há cerca de sete anos, após casar com uma brasileira. Ele se radicou em Caeté, Região Metropolitana de Belo Horizonte, em Minas Gerais. "Quando cheguei no Brasil, eu queria saber quem eu seria. Aprender uma nova língua, uma nova cultura, achei muito interessante a ideia de, aos 40 anos, começar uma nova vida, reaprender a falar, a conversar com as pessoas", pontuou. Francês percorre a pé 8 mil quilômetros do Sul ao Norte do Brasil: 'o mais complicado é sair do sofá pra caminhar' Reprodução O francês passou então a explorar atrativos naturais, históricos e culturais do país por meio de escaladas e caminhadas. Chegou a atravessar a Serra da Mantiqueira - cadeia montanhosa que se estende pelos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro -, e viajar até o Espírito Santo, para visitar o Mosteiro Morro Zen da Vargem, em Ibiraçu. Johann conversou com o g1 enquanto percorria 54 quilômetros para chegar à Colônia do Piauí, no improviso mesmo. É assim que ele tem vivido desde 24 de fevereiro de 2024, quando iniciou a travessia pelo Brasil. Em entrevista, ele contou que a caminhada deve durar um ano e meio e que a ideia surgiu em um momento de insatisfação pessoal. "Você não decide fazer uma caminhada assim se está muito bem, porque sabe que tem muito desafio, sabe que vai precisar se ultrapassar, que vai ter medo e outras sensações. Se tá tudo bem na sua vida, para que fazer isso? Eu estava triste na minha casa, com esse vazio que acho que carreguei a vida toda na minha barriga, no meu coração. Mas quando tenho desafios, sou feliz. E pensei 'vou saber quem sou e por que estou nesse mundo'", contou. 'Coragem e determinação' Francês percorre a pé 8 mil quilômetros do Sul ao Norte do Brasil: 'o mais complicado é sair do sofá pra caminhar' Reprodução A travessia exige, sobretudo, coragem e determinação, segundo Johann. Antes de iniciá-la, ele até traçou um roteiro, mas não adotou qualquer rotina intensa de preparação. O francês, que praticou esportes durante toda a vida, confiou no condicionamento físico e, para custear eventuais gastos, recorreu a uma reserva de dinheiro que mantinha. "Eu só pensei na primeira semana. Falei 'vou pesquisar, saber onde vou passar, saber o caminho mais bonito'. Você não precisa saber tudo. Se quer saber tudo, você nunca vai. Você precisa saber o mínimo e depois você vai entender seu caminho, escolher a opção para um lugar, para o outro. Você precisa se aventurar", garantiu. Para sair pela estrada, Johann optou por vestimentas que o protegem do sol. Na mochila, organizou um saco de dormir - que no Piauí, deu lugar a uma rede, capa de chuva, bastão de caminhada e outros poucos itens pessoais. Além, claro, de um caderno para anotações diárias. Os primeiros meses, conforme o francês, serviram para entender melhor o corpo e avaliar quais as reais necessidades, para, por exemplo, não carregar peso à toa. "Nos dois primeiros meses, você vai ter muita dor nas costas, nos pés, nos joelhos. Os três primeiros dias são um horror. Mas quanto mais você andar, mais seu corpo vai se adaptar. Você vai perder gordura, vai criar músculo onde precisa, vai entender como aliviar o sofrimento, como cuidar das bolhas. Vai perceber que se caminha 40 ou 50 quilômetros em um dia, o dia depois vai ser complicado", explicou. "Então fazer 50 quilômetros pra chegar em um lugar seguro, ok. Pra chegar em lugar algum, não vale a pena. São muitos detalhes. Pra mim, a escola é a vida. Se uma pessoa me fala 'ah, eu quero fazer a mesma caminhada, o que você poderia me sugerir?', eu falo 'vai'. O mais complicado é sair do sofá pra caminhar. O resto flui", completou. Durante a travessia, Johann conta com a RedeTrilhas, uma iniciativa do Governo Federal que mapeia trilhas em todo o país e auxilia usuários com a indicação de locais de interesse turístico, bases para pernoite, alimentação e outros pontos de apoio. Alguns desses turistas são convidados a realizar visitas e palestras - em instituições de ensino, por exemplo, para comentar sobre as próprias vivências, como já aconteceu com Johann. "Um apoio humano é bem melhor que o apoio financeiro. Então em cada lugar que vou chegar, vão me apoiar pra achar uma pessoa que vai me receber. É como uma rede muito poderosa no Brasil, sempre vai ter alguém, uma prefeitura, um secretário de turismo, um guia, isso me alivia muito", explicou. Rotina é compartilhada nas redes sociais Francês percorre a pé 8 mil quilômetros do Sul ao Norte do Brasil: 'o mais complicado é sair do sofá pra caminhar' Reprodução Diariamente, o francês caminha em torno de 40 quilômetros. O recorde, no entanto, chega a ser o dobro. "O máximo que eu fiz foi 80 quilômetros. Já fiz muito 60 quilômetros também. Mas quando você vai passar dos 50 [quilômetros], você gasta muita energia. Para mim, o ideal é não ultrapassar 40 quilômetros. Assim você pode desfrutar do resto do dia para descobrir uma cidade, o lugar onde você está e conversar com as pessoas", alegou Johann. "De vez em quando, eu vou chegar numa cidade e vou descansar dois dias. Depende. Vou escutar meu corpo, minha mente vai falar se eu preciso parar, se eu preciso andar, se eu preciso ter ritmo", acrescentou. Para facilitar o deslocamento e tornar o percurso mais confortável, Johann ocasionalmente busca alternativas. O francês chegou a relatar nas redes sociais um conselho recebido em São Raimundo Nonato, no Piauí, que o surpreendeu. "Eu estava procurando palmilhas para colocar no meu tênis, fui em uma farmácia, [disseram] 'não tem', segunda farmácia, 'não tem'. Na terceira farmácia, uma moça me falou 'não tem, mas eu tenho outra solução, mais confortável e barata'. Seria de usar absorventes, ela disse 'pode colocar um ou, se preferir, dois e vai absorver todo o suor dos seus pés', e deu certo", publicou. Desde que começou a aventura, ele compartilha a rotina com os seguidores. O virtual, inclusive, tem sido importante, não só para falar com a família, mas para trocar figurinhas com outros aventureiros A cada quilômetro percorrido, o francês se depara com a possibilidade de refletir sobre o passado, o futuro e de se renovar como ser humano. Além do autoconhecimento, entre o que o motiva a continuar caminhando país afora, está a oportunidade de fazer novos amigos. "O desafio maior é da mente. Às vezes você sai de um lugar querido, onde fez amizade e se apegou às pessoas, e é complicado. Nessa viagem, eu quase desisti duas ou três vezes. Mas sei que é normal e quando isso acontece, preciso superar", disse. A previsão de Johann é chegar ao Oiapoque em agosto deste ano. Para acompanhá-lo, o filho adolescente, de 16 anos e também natural da França, deve vir ao Brasil. A meta é que pai e filho encerrem a jornada juntos. "Acho que achei uma paz. Sei quem eu sou, para onde vou. Sei que estou em um caminho justo para mim e acho que sou feliz de verdade pela primeira vez na minha vida. Muito feliz", concluiu. Francês percorre a pé 8 mil quilômetros do Sul ao Norte do Brasil: 'o mais complicado é sair do sofá pra caminhar' Reprodução