Hyldon tem paixões expostas em filme sobre as estradas certas e erradas do artista projetado com álbum de 1975
Atração do 17º festival In-Edit Brasil, documentário disseca o disco de estreia do cantor, título antológico do soul brasileiro que faz 50 anos em 2025. Imagem exposta no filme ‘As dores do mundo – Hyldon’, documentário de Emílio Domingos e Felipe David Rodrigues Reprodução / Vídeo ♫ OPINIÃO SOBRE DOCUMENTÁRIO MUSICAL Título: As dores do mundo – Hyldon Direção e roteiro: Emílio Domingos e Felipe David Rodrigues Cotação: ★ ★ ★ ★ ♬ “Para nós, eles eram artistas do tamanho dos americanos”, confidencia Mano Brown para as câmeras dos cineastas Emílio Domingos e Felipe David Rodrigues. Eles eram os artistas que construíram a identidade do soul brasileiro ao longo da década de 1970. O rapper se refere em especial a Hyldon, cujo primeiro álbum, Na rua, na chuva, na fazenda... (1975), fez história há 50 anos. E fez o nome de Hyldon de Souza Silva, cantor, compositor e guitarrista baiano que integra a primeira geração do soul brasileiro ao lado de Cassiano (1943 – 2021), Tim Maia (1942 – 1998) e Tony Tornado. Uma das principais atrações da 17ª edição do In-Edit Brasil – Festival internacional do documentário musical, programada para acontecer em São Paulo (SP) de 11 a 22 de junho, o filme As dores do mundo – Hyldon cumpre bem a função de retratar o universo particular do artista, da infância até a juventude. O foco e o mote do doc são o álbum de 1975 que rendeu sucessos eternos como Acontecimento, As dores do mundo, Na sombra de uma árvore e, claro, a música-título Na rua, na chuva, na fazenda (Casinha de sapê). Um disco movido a paixão, pelas mulheres e pela musa música. Manuseando uma cópia do álbum em LP, artistas como Mano Brown, Liniker, Sandra de Sá e Seu Jorge discorrem sobre o impacto do disco nas vidas deles e celebram a alma romântica de Hyldon. Sem inventar moda e com edição serena, sem picotar imagens e falas, os diretores e roteiristas apresentam filme informativo que entrelaça entrevista inédita com Hyldon, números musicais do binômio 1975 / 1976, depoimentos de artistas (também falam Arnaldo Antunes e Curumin) e de uma ex-namorada Gioconda, musa inspiradora da música que batizou o primeiro álbum de Hyldon. Fica-se realmente sabendo a história pré-fama de Hyldon, baiano de Salvador (BA) que veio ao mundo em 17 de abril de 1971, filho de pai carioca e mãe baiana. O pai logo foi caiu no mundo. E Hyldon foi criado pela mãe em Senhor do Bonfim (BA), cidade do interior da Bahia. Hoje com 74 anos, Hyldon reconta a própria história em perspectiva. Lembra do fascínio de ouvir criança os repentistas nas feiras nordestinas, da descoberta de Luiz Gonzaga (1912 – 1989) – “o Tim Maia nordestino” – e de como tudo mudou quando ouviu o rock’n’roll. “Com 13, 14 anos, entrei na fase da guitarra”, recorda. E nunca mais saiu. Picado pela música, Hyldon se iniciou na profissional de cantar e tocar um instrumento com o conjunto Os Abelhas, animando os bailes da vida. Aos 15 anos, decidiu morar no Rio de Janeiro (RJ) com o primo Pedrinho da Luz, integrante dos Fevers. E o resto foi uma história que começou a acontecer para valer em 1969 quando Hyldon teve parcerias com Pedrinho da Luz gravadas por cantores como Rosa Maria Colyn (Tentei lhe esquecer) e Wanderley Cardoso, intérprete de Chora a natureza chora. “Foi a primeira gravação soul na voz de uma mulher no Brasil”, historia Rosa Maria, se referindo ao obscuro single que lançou em 1969 com as músicas Tentei lhe esquecer e Para todo sempre. O filme promove o encontro de Hyldon com Rosa Maria para sessão de estúdio. Ao longo de 90 minutos, o documentário As dores do mundo – Hyldon mostra que, antes de estourar em 1975, Hyldon teve atuação importante como guitarrista e produtor musical. Wanderléa, que gravou duas músicas do compositor (Deixa e Vida maneira) no álbum ...Maravilhosa (1972), conceitua Hyldon, em depoimento para o filme, como um “romântico moderno cujas letras falavam mais do que ‘meu benzinho, eu te amo’ ”. “Esse trabalho me abriu portas e o Hyldon fez parte dessa transformação”, ressalta Wanderléa, lembrando o teor feminista da letra de Vida maneira e contando que chamava Hyldon pelo apelido de Dundun. A modernidade de Hyldon é referendada em depoimentos como os de Alex Malheiros, baixista do trio Azymuth. Contudo, o filme não se limita a fazer ode ao artista. A teimosia e o temperamento difícil do soulman brasileiro entram na pauta na parte final do filme, sobretudo através do depoimento do produtor Jairo Pires, nome importante na gravadora Polydor naquela época. “Hyldon não tinha produtor, não tinha empresário”, lembra Jairo. Por se sentir desprestigiado na gravadora, o cantor se irritou com a Philips, foi para os Estados Unidos e, na volta, decidiu fazer um segundo álbum “para não tocar no rádio” . Dito e feito. Deus, a natureza e a música foi lançado em 1976 e mostrou o novo caminho do cantor. Nenhum hit saiu desse disco. “Sei que estou na estrada errada / Mas não posso fazer nada / E totalmente preso nas garras do desejo / De levar uma v


Atração do 17º festival In-Edit Brasil, documentário disseca o disco de estreia do cantor, título antológico do soul brasileiro que faz 50 anos em 2025. Imagem exposta no filme ‘As dores do mundo – Hyldon’, documentário de Emílio Domingos e Felipe David Rodrigues Reprodução / Vídeo ♫ OPINIÃO SOBRE DOCUMENTÁRIO MUSICAL Título: As dores do mundo – Hyldon Direção e roteiro: Emílio Domingos e Felipe David Rodrigues Cotação: ★ ★ ★ ★ ♬ “Para nós, eles eram artistas do tamanho dos americanos”, confidencia Mano Brown para as câmeras dos cineastas Emílio Domingos e Felipe David Rodrigues. Eles eram os artistas que construíram a identidade do soul brasileiro ao longo da década de 1970. O rapper se refere em especial a Hyldon, cujo primeiro álbum, Na rua, na chuva, na fazenda... (1975), fez história há 50 anos. E fez o nome de Hyldon de Souza Silva, cantor, compositor e guitarrista baiano que integra a primeira geração do soul brasileiro ao lado de Cassiano (1943 – 2021), Tim Maia (1942 – 1998) e Tony Tornado. Uma das principais atrações da 17ª edição do In-Edit Brasil – Festival internacional do documentário musical, programada para acontecer em São Paulo (SP) de 11 a 22 de junho, o filme As dores do mundo – Hyldon cumpre bem a função de retratar o universo particular do artista, da infância até a juventude. O foco e o mote do doc são o álbum de 1975 que rendeu sucessos eternos como Acontecimento, As dores do mundo, Na sombra de uma árvore e, claro, a música-título Na rua, na chuva, na fazenda (Casinha de sapê). Um disco movido a paixão, pelas mulheres e pela musa música. Manuseando uma cópia do álbum em LP, artistas como Mano Brown, Liniker, Sandra de Sá e Seu Jorge discorrem sobre o impacto do disco nas vidas deles e celebram a alma romântica de Hyldon. Sem inventar moda e com edição serena, sem picotar imagens e falas, os diretores e roteiristas apresentam filme informativo que entrelaça entrevista inédita com Hyldon, números musicais do binômio 1975 / 1976, depoimentos de artistas (também falam Arnaldo Antunes e Curumin) e de uma ex-namorada Gioconda, musa inspiradora da música que batizou o primeiro álbum de Hyldon. Fica-se realmente sabendo a história pré-fama de Hyldon, baiano de Salvador (BA) que veio ao mundo em 17 de abril de 1971, filho de pai carioca e mãe baiana. O pai logo foi caiu no mundo. E Hyldon foi criado pela mãe em Senhor do Bonfim (BA), cidade do interior da Bahia. Hoje com 74 anos, Hyldon reconta a própria história em perspectiva. Lembra do fascínio de ouvir criança os repentistas nas feiras nordestinas, da descoberta de Luiz Gonzaga (1912 – 1989) – “o Tim Maia nordestino” – e de como tudo mudou quando ouviu o rock’n’roll. “Com 13, 14 anos, entrei na fase da guitarra”, recorda. E nunca mais saiu. Picado pela música, Hyldon se iniciou na profissional de cantar e tocar um instrumento com o conjunto Os Abelhas, animando os bailes da vida. Aos 15 anos, decidiu morar no Rio de Janeiro (RJ) com o primo Pedrinho da Luz, integrante dos Fevers. E o resto foi uma história que começou a acontecer para valer em 1969 quando Hyldon teve parcerias com Pedrinho da Luz gravadas por cantores como Rosa Maria Colyn (Tentei lhe esquecer) e Wanderley Cardoso, intérprete de Chora a natureza chora. “Foi a primeira gravação soul na voz de uma mulher no Brasil”, historia Rosa Maria, se referindo ao obscuro single que lançou em 1969 com as músicas Tentei lhe esquecer e Para todo sempre. O filme promove o encontro de Hyldon com Rosa Maria para sessão de estúdio. Ao longo de 90 minutos, o documentário As dores do mundo – Hyldon mostra que, antes de estourar em 1975, Hyldon teve atuação importante como guitarrista e produtor musical. Wanderléa, que gravou duas músicas do compositor (Deixa e Vida maneira) no álbum ...Maravilhosa (1972), conceitua Hyldon, em depoimento para o filme, como um “romântico moderno cujas letras falavam mais do que ‘meu benzinho, eu te amo’ ”. “Esse trabalho me abriu portas e o Hyldon fez parte dessa transformação”, ressalta Wanderléa, lembrando o teor feminista da letra de Vida maneira e contando que chamava Hyldon pelo apelido de Dundun. A modernidade de Hyldon é referendada em depoimentos como os de Alex Malheiros, baixista do trio Azymuth. Contudo, o filme não se limita a fazer ode ao artista. A teimosia e o temperamento difícil do soulman brasileiro entram na pauta na parte final do filme, sobretudo através do depoimento do produtor Jairo Pires, nome importante na gravadora Polydor naquela época. “Hyldon não tinha produtor, não tinha empresário”, lembra Jairo. Por se sentir desprestigiado na gravadora, o cantor se irritou com a Philips, foi para os Estados Unidos e, na volta, decidiu fazer um segundo álbum “para não tocar no rádio” . Dito e feito. Deus, a natureza e a música foi lançado em 1976 e mostrou o novo caminho do cantor. Nenhum hit saiu desse disco. “Sei que estou na estrada errada / Mas não posso fazer nada / E totalmente preso nas garras do desejo / De levar uma vida livre, sem destino, por aí...”, se situou Hyldon na letra de Estrada errada, uma das músicas do álbum de 1976. Estrada errada é ouvida ao fim de As dores do mundo – Hyldon, filme que repisa os caminhos que levaram o artista a um primeiro álbum que, 50 anos depois, resiste como um dos mais bem acabados discos de estreia de um artista brasileiro em todos os tempos. Um álbum do mesmo tamanho dos grandes discos de soul dos artistas norte-americanos, como Mano Brown dimensiona com razão no início deste filme sobre a paixão de Hyldon. Hyldon em take do filme ‘As dores do mundo – Hyldon’ , atração da 17ª edição do festival In-Edit Brasil Reprodução / Vídeo