Peixes estão desaprendendo suas rotas migratórias e a culpa pode ser da pescaria, sugere estudo
A preferência pelos animais mais velhos dos cardumes está limitando a transmissão de conhecimento para peixes mais jovens. Atum passa por cardume de peixes menores, observado por um mergulhador, na Reserva Marinha de Galápagos. Jorge Silva/Reuters A pesca pode estar contribuindo para que os peixes desaprendam suas rotas migratórias, o que pode levar a extinção de espécies. É o que sugere um novo estudo conduzido pela Escola de Ciências Marinhas da Universidade do Maine, nos Estados Unidos, junto com instituições da Noruega e Austrália. Para chegar às conclusões publicadas na revista científica "Fish and Fisheries", os pesquisadores partiram da hipótese de que a pesca tende a capturar peixes mais velhos e ao remover esses animais do cardume, isso prejudica ou apaga o conhecimento social ensinado aos mais novos, o que impede a transmissão de conhecimento sobre os padrões migratórios e de desova. O estudo não apontou para regiões específicas como as mais afetadas globalmente pelo fenômeno. Ao invés disso, ele usa a classificação mais generalista dizendo que a pesca afeta peixes sociais, focando em "populações locais" e sugerindo que áreas "costeiras" e "próximas" tendem a ser afetadas primeiro pela perda de conhecimento marinho. A descoberta levanta preocupação, pois essa situação pode causar efeitos demográficos significativos como comportamentos de migração e desova menos eficazes ou mesmo incorretos. Isso pode resultar na perda da adaptação local e, eventualmente, na extinção local dessas populações que dependem desse conhecimento cultural. Transmissão vertical de conhecimento A aprendizagem social é comum entre peixes, especialmente entre as espécies consideradas de "vida longa". Ela permite que os peixes aprendam uns com os outros, reduzindo riscos e custos de adaptação ao ambiente. A partir do momento que os peixes mais velhos são capturados, a aprendizagem chamada no estudo de transmissão vertical de conhecimento não acontece, pois esse é um processo contínuo ao longo da vida dos animais, algo diferente da transmissão genética de características, feita apenas uma vez na vida. Assim, os peixes mais novos ficam mais vulneráveis e perdem o acesso a um conhecimento crucial para a manutenção da espécie. Como preservar os peixes Para mitigar os efeitos nocivos da pesca sob os peixes mais velhos, a pesquisa lista uma série de medidas. Entre elas estão: Manter a estrutura social e etária: há uma necessidade de manter todos os peixes mais velhos do cardume (machos e fêmeas) e não somente fêmeas reprodutoras. O estudo menciona as "slot rules" (regras de tamanho mínimo e máximo de captura) como potencialmente alinhadas com este objetivo. Implementar proibições de pesca: proibições locais de tempo e local podem ser uma forma mais seletiva e eficaz de manter peixes mais velhos nos cardumes. Para isso, é preciso saber como, quando e onde os peixes se movem ou se segregam por idade. Criar políticas de governança locais: criar políticas públicas para proteger as áreas de pesca de pescadores de fora, priorizando o trabalho dos que moram na região. Desenvolver novos equipamentos de pesca: criar novas tecnologias de pesca para priorizar selecionar outros tipos de peixes para manter a estrutura etária desejada.


A preferência pelos animais mais velhos dos cardumes está limitando a transmissão de conhecimento para peixes mais jovens. Atum passa por cardume de peixes menores, observado por um mergulhador, na Reserva Marinha de Galápagos. Jorge Silva/Reuters A pesca pode estar contribuindo para que os peixes desaprendam suas rotas migratórias, o que pode levar a extinção de espécies. É o que sugere um novo estudo conduzido pela Escola de Ciências Marinhas da Universidade do Maine, nos Estados Unidos, junto com instituições da Noruega e Austrália. Para chegar às conclusões publicadas na revista científica "Fish and Fisheries", os pesquisadores partiram da hipótese de que a pesca tende a capturar peixes mais velhos e ao remover esses animais do cardume, isso prejudica ou apaga o conhecimento social ensinado aos mais novos, o que impede a transmissão de conhecimento sobre os padrões migratórios e de desova. O estudo não apontou para regiões específicas como as mais afetadas globalmente pelo fenômeno. Ao invés disso, ele usa a classificação mais generalista dizendo que a pesca afeta peixes sociais, focando em "populações locais" e sugerindo que áreas "costeiras" e "próximas" tendem a ser afetadas primeiro pela perda de conhecimento marinho. A descoberta levanta preocupação, pois essa situação pode causar efeitos demográficos significativos como comportamentos de migração e desova menos eficazes ou mesmo incorretos. Isso pode resultar na perda da adaptação local e, eventualmente, na extinção local dessas populações que dependem desse conhecimento cultural. Transmissão vertical de conhecimento A aprendizagem social é comum entre peixes, especialmente entre as espécies consideradas de "vida longa". Ela permite que os peixes aprendam uns com os outros, reduzindo riscos e custos de adaptação ao ambiente. A partir do momento que os peixes mais velhos são capturados, a aprendizagem chamada no estudo de transmissão vertical de conhecimento não acontece, pois esse é um processo contínuo ao longo da vida dos animais, algo diferente da transmissão genética de características, feita apenas uma vez na vida. Assim, os peixes mais novos ficam mais vulneráveis e perdem o acesso a um conhecimento crucial para a manutenção da espécie. Como preservar os peixes Para mitigar os efeitos nocivos da pesca sob os peixes mais velhos, a pesquisa lista uma série de medidas. Entre elas estão: Manter a estrutura social e etária: há uma necessidade de manter todos os peixes mais velhos do cardume (machos e fêmeas) e não somente fêmeas reprodutoras. O estudo menciona as "slot rules" (regras de tamanho mínimo e máximo de captura) como potencialmente alinhadas com este objetivo. Implementar proibições de pesca: proibições locais de tempo e local podem ser uma forma mais seletiva e eficaz de manter peixes mais velhos nos cardumes. Para isso, é preciso saber como, quando e onde os peixes se movem ou se segregam por idade. Criar políticas de governança locais: criar políticas públicas para proteger as áreas de pesca de pescadores de fora, priorizando o trabalho dos que moram na região. Desenvolver novos equipamentos de pesca: criar novas tecnologias de pesca para priorizar selecionar outros tipos de peixes para manter a estrutura etária desejada.