Trump aprofunda divisões e enterra o bipartidarismo no primeiro discurso no Congresso
Encorajado, o presidente dos EUA mantém o tom beligerante dos comícios e derrama-se em autoelogios e ofensas aos opositores. O presidente Donald Trump discursa em uma sessão conjunta do Congresso no Capitólio dos EUA em 4 de março de 2025, em Washington, DC. O vice-presidente JD Vance e o presidente da Câmara, Mike Johnson (R-LA), aplaudem atrás dele. Win McNamee/Pool via REUTERS No mundo ideal, poderia ter sido um primeiro discurso para apregoar a união do país, mas, tratando-se de Donald Trump como o orador, ele aprofundou as divisões e enterrou o bipartidarismo. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Encorajado pela claque republicana, o presidente americano persistiu no comportamento de protagonista de comício eleitoral, na longa sessão conjunta no Congresso: citou o antecessor Joe Biden 12 vezes, culpando-o tanto pela alta no preço dos ovos quanto pelos conflitos no exterior, ofendeu opositores, condenou nações aliadas e despejou uma extensa lista de falsidades aos ouvintes. A outra parte dos 100 minutos da oratória presidencial foi dedicada a autoelogios e a enaltecer seus controversos colaboradores. Afinal, conforme ressaltou, ninguém conseguiu mais do que ele em 43 dias de governo, sequer em quatro ou oito anos à frente dos EUA. Trump se vangloriou de sair de organismos internacionais antiamericanos, de erradicar a censura e a instrumentalização do governo, de decretar a morte da “tirania woke”. Homenageou o bilionário Elon Musk, afirmando falsamente que o corte de custos orquestrado por ele à frente do Departamento de Eficiência Governamental “descobriu centenas de bilhões de dólares em fraudes”. Ele atribuiu ao secretário de Saúde, o antivacinas Robert Kennedy Jr, a tarefa de investigar o aumento nos diagnósticos de autismo no país. Isso passaria despercebido se Kennedy não tivesse propagado no passado a teoria, amplamente rejeitada pela comunidade científica, de que as vacinas causam autismo. A tão esperada reação democrata variava entre risos, gritos, placas que diziam “resista” ou “isso não é normal” e saídas intempestivas de congressistas do Capitólio, denotando que ainda falta um longo caminho até articular uma mensagem consistente como oposição que compõe metade dos eleitores americanos. “Eu olho para os democratas na minha frente e percebo que não há absolutamente nada que eu possa dizer para fazê-los felizes ou fazê-los ficar de pé ou sorrir ou aplaudir, nada que eu possa fazer”, provocou candidamente o presidente. Num dia tenso, em que Trump ampliou a guerra comercial, impondo altas tarifas sobre as importações de Canadá, México e China, ele procurou minimizar seus efeitos, após a reação negativa dos mercados. “Haverá uma pequena perturbação e estamos bem com isso.” Foi a única referência de Trump à inquietação em decorrência das ações intempestivas de seu governo. Num raro momento de conciliação, o presidente disse ter apreciado a carta de Volodymyr Zelensky mostrando-se pronto para trabalhar com ele, depois da desastrada reunião do fim da semana passada no Salão Oval e da suspensão da ajuda militar dos EUA à Ucrânia. “Não seria lindo? É hora de parar com essa loucura. É hora de parar com a matança. É hora de acabar com essa guerra sem sentido. Se você quer acabar com as guerras, tem que falar com os dois lados.” Mais uma vez, ele repetiu falsamente que os EUA investiram US$ 350 milhões em ajuda militar à Ucrânia (o triplo do valor real), embora tenha sido corrigido publicamente na semana passada por Zelensky, o presidente Emmanuel Macron e o premiê Keir Starmer. Enquanto Trump divagava sobre a sua utópica ideia de paz no Congresso americano, a Ucrânia relatava um grande ataque russo, com mísseis e drones russos em todo o país.


Encorajado, o presidente dos EUA mantém o tom beligerante dos comícios e derrama-se em autoelogios e ofensas aos opositores. O presidente Donald Trump discursa em uma sessão conjunta do Congresso no Capitólio dos EUA em 4 de março de 2025, em Washington, DC. O vice-presidente JD Vance e o presidente da Câmara, Mike Johnson (R-LA), aplaudem atrás dele. Win McNamee/Pool via REUTERS No mundo ideal, poderia ter sido um primeiro discurso para apregoar a união do país, mas, tratando-se de Donald Trump como o orador, ele aprofundou as divisões e enterrou o bipartidarismo. ✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp Encorajado pela claque republicana, o presidente americano persistiu no comportamento de protagonista de comício eleitoral, na longa sessão conjunta no Congresso: citou o antecessor Joe Biden 12 vezes, culpando-o tanto pela alta no preço dos ovos quanto pelos conflitos no exterior, ofendeu opositores, condenou nações aliadas e despejou uma extensa lista de falsidades aos ouvintes. A outra parte dos 100 minutos da oratória presidencial foi dedicada a autoelogios e a enaltecer seus controversos colaboradores. Afinal, conforme ressaltou, ninguém conseguiu mais do que ele em 43 dias de governo, sequer em quatro ou oito anos à frente dos EUA. Trump se vangloriou de sair de organismos internacionais antiamericanos, de erradicar a censura e a instrumentalização do governo, de decretar a morte da “tirania woke”. Homenageou o bilionário Elon Musk, afirmando falsamente que o corte de custos orquestrado por ele à frente do Departamento de Eficiência Governamental “descobriu centenas de bilhões de dólares em fraudes”. Ele atribuiu ao secretário de Saúde, o antivacinas Robert Kennedy Jr, a tarefa de investigar o aumento nos diagnósticos de autismo no país. Isso passaria despercebido se Kennedy não tivesse propagado no passado a teoria, amplamente rejeitada pela comunidade científica, de que as vacinas causam autismo. A tão esperada reação democrata variava entre risos, gritos, placas que diziam “resista” ou “isso não é normal” e saídas intempestivas de congressistas do Capitólio, denotando que ainda falta um longo caminho até articular uma mensagem consistente como oposição que compõe metade dos eleitores americanos. “Eu olho para os democratas na minha frente e percebo que não há absolutamente nada que eu possa dizer para fazê-los felizes ou fazê-los ficar de pé ou sorrir ou aplaudir, nada que eu possa fazer”, provocou candidamente o presidente. Num dia tenso, em que Trump ampliou a guerra comercial, impondo altas tarifas sobre as importações de Canadá, México e China, ele procurou minimizar seus efeitos, após a reação negativa dos mercados. “Haverá uma pequena perturbação e estamos bem com isso.” Foi a única referência de Trump à inquietação em decorrência das ações intempestivas de seu governo. Num raro momento de conciliação, o presidente disse ter apreciado a carta de Volodymyr Zelensky mostrando-se pronto para trabalhar com ele, depois da desastrada reunião do fim da semana passada no Salão Oval e da suspensão da ajuda militar dos EUA à Ucrânia. “Não seria lindo? É hora de parar com essa loucura. É hora de parar com a matança. É hora de acabar com essa guerra sem sentido. Se você quer acabar com as guerras, tem que falar com os dois lados.” Mais uma vez, ele repetiu falsamente que os EUA investiram US$ 350 milhões em ajuda militar à Ucrânia (o triplo do valor real), embora tenha sido corrigido publicamente na semana passada por Zelensky, o presidente Emmanuel Macron e o premiê Keir Starmer. Enquanto Trump divagava sobre a sua utópica ideia de paz no Congresso americano, a Ucrânia relatava um grande ataque russo, com mísseis e drones russos em todo o país.