BaianaSystem dilata veias da América africana, lusa e caribenha no giro coeso do quinto álbum, ‘O mundo dá voltas’
Anitta, Emicida, Gilberto Gil, Melly, Seu Jorge e Vandal participam do disco produzido por Daniel Ganjaman sob direção musical de Russo Passapusso. Capa do álbum ‘O mundo dá voltas’, da banda BaianaSystem Divulgação ♫ OPINIÃO SOBRE DISCO Título: O mundo dá voltas Artista: BaianaSystem Cotação: ★ ★ ★ ★ 1/2 ♪ Quinto álbum da BayanaSystem, O mundo dá voltas chegou ao mundo na noite de ontem, 16 de janeiro – em edição da gravadora da banda, Máquina de Louco – com discurso que o caracteriza como um disco de músicas mais lentas. De fato, os beats estão mais desacelerados em músicas como Agulha, faixa que traz feat. da cantora chilena Claudia Manzo com Russo Passapusso, autor da composição e vocalista da banda baiana. Contudo, lentidão jamais rima com morosidade no dicionário musical do grupo. O disco tem viço. Sem tirar do horizonte a cidade natal de Salvador (BA), porto seguro da banda, a BaianaSystem dilata veias da América africana, lusa e caribenha no giro de O mundo dá voltas, álbum coeso, formatado ao longo dos últimos três anos com produção musical de Daniel Ganjaman sob a direção de Passapusso. A BaianaSystem gravita no disco em torno de questões sociais que envolvem os povos negros e indígenas do Brasil e do Caribe. Não por acaso, a letra de Porta-retrato da família brasileira (Dino d'Santiago, Filipe Cartaxo, Kalaf Epalanga, Russo Passapusso, Roberto Barreto, SekoBass, Ubiratan Marques e Paul Seiji) cita o termo Améfrica Ladina ao perfilar esse povo no corre diário pela sobrevivência, remando contra a maré. Améfrica Ladina é o título de livro que compila escritos da antropóloga mineira Lélia Gonzalez (1935 – 1994), ativista que cutucou as feridas abertas pelo racismo vigente nessa América ainda profundamente desigual. Cantor e músico português de ascendência cabo-verdiana, Dino D’Santiago ajuda a banda a moldar Porta-retrato da família brasileira com toque de lusofonia, inclusive pela presença do músico angolano Kalaf Epalanga. Dino também figura na faixa que abre o álbum, Batukerê (Antonio Carlos & Jocafi, Dino d'Santiago, Filipe Cartaxo, Kalaf Epalanga, Russo Passapusso, Roberto Barreto, SekoBass e Ubiratan Marques), mix de samba e ijexá que revolve a raiz da ancestralidade afro-brasileira. A participação da dupla Antonio Carlos & Jocafi na faixa e em Praia do futuro – parceria dos artistas baianos com o conterrâneo Russo Passapusso gravada com a adesão de Seu Jorge – conecta o álbum O mundo dá voltas ao disco O futuro não demora (2019). A presença da Orquestra AfroSinfônica na música-título O mundo dá voltas (Russo Passapusso, SekoBass, Filipe Cartaxo e Ubiratan Marques) é outro ponto de contato entre os dois álbuns. As águas são as mesmas, mas não ficaram paradas ao longo desses seis anos que separam os álbuns. Até porque, nesse período, a BaianaSystem, gerou álbum intermediário, OxeAxeExu (2021), situado entre dois discos em outro universo. E o fato é que a banda que mergulha nas águas de O mundo dá voltas já é outra, ainda que paradoxalmente a essência seja sempre a mesma. Entre A laje (Russo Passapusso, Emicida e Kandence Lindsey), faixa construída com versos do rapper Emicida e com o canto da baiana revelação Melly, e o raggamuffin’ Magnata (Russo Passapusso), a BaianaSystem insere a musicalidade Amazônica no mapa latino ao revolver Palheiro, tema instrumental de autoria do guitarrista paraense Manoel Cordeiro com Roberto Barreto, guitarrista da BaianaSystem. Palheiro é o tema apresentado no recente álbum de Cordeiro com Barreto, Estado de espírito (2024), com o título de Pelo caminho. Como o mundo da BaianaSystem volta sempre para Salvador (BA), mote do antológico álbum Duas cidades (2016), Pote d’água derrama a força da terra ao cair no suingue soteropolitano em gravação que junta a banda com os conterrâneos Gilberto Gil e Lourimbau, autor da música composta há cerca de 30 anos. Lourimbau é Lourival Santos Araújo, mestre na arte de fazer e tocar berimbau, instrumento das rodas de capoeira. No mundo gregário da BaianaSystem, também cabe pegar Bicho solto (Pitty, 2019) – música do mais coeso álbum de Pitty, Matriz (2019) – e colá-lo com Cobra criada, faixa que embute versos incisivos do ascendente rapper soteropolitano Vandal, parceiro de Russo Passapusso e SekoBass no tema. Música que junta a atriz Alice Carvalho e a girl from Rio Anitta com a BaianaSystem, Balacobaco (Russo Passapusso, SekoBass e Alice Carvalho) é a faixa que mais tem a pressão e a pegada habitualmente atribuídas à banda. No fim do giro do álbum O mundo dá voltas, Ogun Nilê (Antonio Carlos & Jocafi, Dino d'Santiago, Filipe Cartaxo, Kalaf Epalanga, Russo Passapusso, Roberto Barreto, SekoBass e Ubiratan Marques) dialoga em feitio de oração com a ancestralidade que banha a fé de Salvador (BA), exposta já na faixa inicial Batukerê. Ainda que em constante transformação, o vasto mundo da BaianaSystem é sempre redondo. A banda BaianaSystem lança o álbum ‘O mundo dá voltas’ com músicas inéditas gravadas com produção m
Anitta, Emicida, Gilberto Gil, Melly, Seu Jorge e Vandal participam do disco produzido por Daniel Ganjaman sob direção musical de Russo Passapusso. Capa do álbum ‘O mundo dá voltas’, da banda BaianaSystem Divulgação ♫ OPINIÃO SOBRE DISCO Título: O mundo dá voltas Artista: BaianaSystem Cotação: ★ ★ ★ ★ 1/2 ♪ Quinto álbum da BayanaSystem, O mundo dá voltas chegou ao mundo na noite de ontem, 16 de janeiro – em edição da gravadora da banda, Máquina de Louco – com discurso que o caracteriza como um disco de músicas mais lentas. De fato, os beats estão mais desacelerados em músicas como Agulha, faixa que traz feat. da cantora chilena Claudia Manzo com Russo Passapusso, autor da composição e vocalista da banda baiana. Contudo, lentidão jamais rima com morosidade no dicionário musical do grupo. O disco tem viço. Sem tirar do horizonte a cidade natal de Salvador (BA), porto seguro da banda, a BaianaSystem dilata veias da América africana, lusa e caribenha no giro de O mundo dá voltas, álbum coeso, formatado ao longo dos últimos três anos com produção musical de Daniel Ganjaman sob a direção de Passapusso. A BaianaSystem gravita no disco em torno de questões sociais que envolvem os povos negros e indígenas do Brasil e do Caribe. Não por acaso, a letra de Porta-retrato da família brasileira (Dino d'Santiago, Filipe Cartaxo, Kalaf Epalanga, Russo Passapusso, Roberto Barreto, SekoBass, Ubiratan Marques e Paul Seiji) cita o termo Améfrica Ladina ao perfilar esse povo no corre diário pela sobrevivência, remando contra a maré. Améfrica Ladina é o título de livro que compila escritos da antropóloga mineira Lélia Gonzalez (1935 – 1994), ativista que cutucou as feridas abertas pelo racismo vigente nessa América ainda profundamente desigual. Cantor e músico português de ascendência cabo-verdiana, Dino D’Santiago ajuda a banda a moldar Porta-retrato da família brasileira com toque de lusofonia, inclusive pela presença do músico angolano Kalaf Epalanga. Dino também figura na faixa que abre o álbum, Batukerê (Antonio Carlos & Jocafi, Dino d'Santiago, Filipe Cartaxo, Kalaf Epalanga, Russo Passapusso, Roberto Barreto, SekoBass e Ubiratan Marques), mix de samba e ijexá que revolve a raiz da ancestralidade afro-brasileira. A participação da dupla Antonio Carlos & Jocafi na faixa e em Praia do futuro – parceria dos artistas baianos com o conterrâneo Russo Passapusso gravada com a adesão de Seu Jorge – conecta o álbum O mundo dá voltas ao disco O futuro não demora (2019). A presença da Orquestra AfroSinfônica na música-título O mundo dá voltas (Russo Passapusso, SekoBass, Filipe Cartaxo e Ubiratan Marques) é outro ponto de contato entre os dois álbuns. As águas são as mesmas, mas não ficaram paradas ao longo desses seis anos que separam os álbuns. Até porque, nesse período, a BaianaSystem, gerou álbum intermediário, OxeAxeExu (2021), situado entre dois discos em outro universo. E o fato é que a banda que mergulha nas águas de O mundo dá voltas já é outra, ainda que paradoxalmente a essência seja sempre a mesma. Entre A laje (Russo Passapusso, Emicida e Kandence Lindsey), faixa construída com versos do rapper Emicida e com o canto da baiana revelação Melly, e o raggamuffin’ Magnata (Russo Passapusso), a BaianaSystem insere a musicalidade Amazônica no mapa latino ao revolver Palheiro, tema instrumental de autoria do guitarrista paraense Manoel Cordeiro com Roberto Barreto, guitarrista da BaianaSystem. Palheiro é o tema apresentado no recente álbum de Cordeiro com Barreto, Estado de espírito (2024), com o título de Pelo caminho. Como o mundo da BaianaSystem volta sempre para Salvador (BA), mote do antológico álbum Duas cidades (2016), Pote d’água derrama a força da terra ao cair no suingue soteropolitano em gravação que junta a banda com os conterrâneos Gilberto Gil e Lourimbau, autor da música composta há cerca de 30 anos. Lourimbau é Lourival Santos Araújo, mestre na arte de fazer e tocar berimbau, instrumento das rodas de capoeira. No mundo gregário da BaianaSystem, também cabe pegar Bicho solto (Pitty, 2019) – música do mais coeso álbum de Pitty, Matriz (2019) – e colá-lo com Cobra criada, faixa que embute versos incisivos do ascendente rapper soteropolitano Vandal, parceiro de Russo Passapusso e SekoBass no tema. Música que junta a atriz Alice Carvalho e a girl from Rio Anitta com a BaianaSystem, Balacobaco (Russo Passapusso, SekoBass e Alice Carvalho) é a faixa que mais tem a pressão e a pegada habitualmente atribuídas à banda. No fim do giro do álbum O mundo dá voltas, Ogun Nilê (Antonio Carlos & Jocafi, Dino d'Santiago, Filipe Cartaxo, Kalaf Epalanga, Russo Passapusso, Roberto Barreto, SekoBass e Ubiratan Marques) dialoga em feitio de oração com a ancestralidade que banha a fé de Salvador (BA), exposta já na faixa inicial Batukerê. Ainda que em constante transformação, o vasto mundo da BaianaSystem é sempre redondo. A banda BaianaSystem lança o álbum ‘O mundo dá voltas’ com músicas inéditas gravadas com produção musical de Daniel Ganjaman Bob Wolfenson / Divulgação