Cantor sertanejo que sobreviveu a queda de avião e 24 dias na selva relembra experiência que marcou sua vida: 'Achei que ia morrer'

Tudo começou com uma paixão daquelas sem medidas. Desde os 12 anos, Matheus Soliman frequentava o aeroporto de Primavera do Leste, em Mato Grosso, para ficar perto dos aviões que sobem e descem. Após queda de avião, cantor sertanejo passou 24 dias perdido na floresta: 'foi um milagre' Tudo começou com uma paixão daquelas sem medidas. Desde os 12 anos, o cantor sertanejo Matheus Soliman frequentava o aeroporto de Primavera do Leste, em Mato Grosso, para ficar perto dos aviões que sobem e descem. “Eu vinha toda tarde, ajudava a lavar os aviões, descarregar malas", conta. Aos poucos, ele foi aprendendo a pilotar. Mesmo sem o brevê, Matheus chegou a pilotar algumas vezes, sempre acompanhado. Até que, em 2020, aceitou um trabalho arriscado: levar um avião que estava parado havia dois anos até uma fazenda em Rondônia. “Eu fui porque a gente estava passando perrengue. Na época, eu tinha minha mulher grávida de oito meses, da minha filha”, lembra. Assim, Matheus embarcou com um colega em uma aventura traumática que marcaria a vida dele para sempre. Matheus em foto antiga dentro de um avião Reprodução/TV Globo Queda e desespero O que Matheus não esperava era que o motor esquerdo da aeronave falharia em pleno voo. “Tentei reacender, mas tivemos a pane, perdemos altitude e caímos”, relata. O avião caiu no meio da floresta amazônica. A notícia chegou primeiro ao pai, caminhoneiro, por telefone: “Disseram que o avião caiu e que ninguém sobreviveu. Foram os 24 dias mais longos da nossa vida”, lembra Erlon Francisco da Silva, emocionado. Sobrevivência na selva Matheus e o colega de voo sobreviveram à queda, mas enfrentaram 24 dias de fome, sede e medo na floresta. “A gente seguiu o rio, porque pelo menos tinha água. Mas passamos por cobras, jacarés, ariranhas e até uma onça, o susto foi grande”, conta. Após cinco dias, uma árvore caída bloqueou o caminho. Eles decidiram entrar na mata e seguir o sol como bússola. “Foram três dias sem água. Aí o desespero bateu. Achei que eu ia morrer”, diz. No dia 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, veio o primeiro milagre: uma chuva intensa que durou cerca de horas. "Eu sempre fui muito católico, né? E aí eu olhava para aquilo e falava: ‘A senhora vai deixar eu morrer bem no dia da senhora?’ E aí foi o primeiro milagre.” O segundo milagre veio em forma de sonho. “Sonhei que minha filha tinha nascido. Quando acordei, decidimos passar por cima de um tronco. Do outro lado, encontramos uma estrada.” A filha, Lívia, nasceu no mesmo dia: 24 de outubro. Foram mais quatro dias de caminhada até encontrarem ajuda. Matheus foi internado por quase uma semana, com 30 quilos a menos e feridas por todo o corpo. “A recuperação mental foi ainda mais difícil. Eu não conseguia sair de casa, nem falar.” Após queda de avião, Matheus sobreviveu 24 dias perdidos na floresta Reprodução/TV Globo Recomeço Hoje, Matheus vive com a esposa e filhos e trabalha em uma empresa de ar-condicionado automotivo. Mas não abandonou seus sonhos. Ele forma uma dupla sertaneja com o irmão, Junior, e se apresenta em bares da cidade. “Não me vejo sem música. Mas a aviação também é uma paixão. As duas estão empatadas no meu coração”, diz. Matheus tocando e cantando em bar Reprodução/TV Globo No braço, carrega uma tatuagem com o símbolo da Força Aérea e uma bússola apontando para o oeste — direção que o salvou. “Fiz dois anos antes do acidente. Quem vai explicar um negócio desse?" Matheus mostra tatuagem com o símbolo da Força Aérea e uma bússola apontando para o oeste Reprodução/TV Globo Matheus ainda sonha em voar novamente. “Mas agora, sem ser na correria, sem impulsos. É amor pela aviação.” Matheus fala sobre sonho de voar novamente Reprodução/TV Globo Confira as últimas reportagens do Globo Repórter:

Jun 16, 2025 - 06:00
 0  0
Cantor sertanejo que sobreviveu a queda de avião e 24 dias na selva relembra experiência que marcou sua vida: 'Achei que ia morrer'

Tudo começou com uma paixão daquelas sem medidas. Desde os 12 anos, Matheus Soliman frequentava o aeroporto de Primavera do Leste, em Mato Grosso, para ficar perto dos aviões que sobem e descem. Após queda de avião, cantor sertanejo passou 24 dias perdido na floresta: 'foi um milagre' Tudo começou com uma paixão daquelas sem medidas. Desde os 12 anos, o cantor sertanejo Matheus Soliman frequentava o aeroporto de Primavera do Leste, em Mato Grosso, para ficar perto dos aviões que sobem e descem. “Eu vinha toda tarde, ajudava a lavar os aviões, descarregar malas", conta. Aos poucos, ele foi aprendendo a pilotar. Mesmo sem o brevê, Matheus chegou a pilotar algumas vezes, sempre acompanhado. Até que, em 2020, aceitou um trabalho arriscado: levar um avião que estava parado havia dois anos até uma fazenda em Rondônia. “Eu fui porque a gente estava passando perrengue. Na época, eu tinha minha mulher grávida de oito meses, da minha filha”, lembra. Assim, Matheus embarcou com um colega em uma aventura traumática que marcaria a vida dele para sempre. Matheus em foto antiga dentro de um avião Reprodução/TV Globo Queda e desespero O que Matheus não esperava era que o motor esquerdo da aeronave falharia em pleno voo. “Tentei reacender, mas tivemos a pane, perdemos altitude e caímos”, relata. O avião caiu no meio da floresta amazônica. A notícia chegou primeiro ao pai, caminhoneiro, por telefone: “Disseram que o avião caiu e que ninguém sobreviveu. Foram os 24 dias mais longos da nossa vida”, lembra Erlon Francisco da Silva, emocionado. Sobrevivência na selva Matheus e o colega de voo sobreviveram à queda, mas enfrentaram 24 dias de fome, sede e medo na floresta. “A gente seguiu o rio, porque pelo menos tinha água. Mas passamos por cobras, jacarés, ariranhas e até uma onça, o susto foi grande”, conta. Após cinco dias, uma árvore caída bloqueou o caminho. Eles decidiram entrar na mata e seguir o sol como bússola. “Foram três dias sem água. Aí o desespero bateu. Achei que eu ia morrer”, diz. No dia 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, veio o primeiro milagre: uma chuva intensa que durou cerca de horas. "Eu sempre fui muito católico, né? E aí eu olhava para aquilo e falava: ‘A senhora vai deixar eu morrer bem no dia da senhora?’ E aí foi o primeiro milagre.” O segundo milagre veio em forma de sonho. “Sonhei que minha filha tinha nascido. Quando acordei, decidimos passar por cima de um tronco. Do outro lado, encontramos uma estrada.” A filha, Lívia, nasceu no mesmo dia: 24 de outubro. Foram mais quatro dias de caminhada até encontrarem ajuda. Matheus foi internado por quase uma semana, com 30 quilos a menos e feridas por todo o corpo. “A recuperação mental foi ainda mais difícil. Eu não conseguia sair de casa, nem falar.” Após queda de avião, Matheus sobreviveu 24 dias perdidos na floresta Reprodução/TV Globo Recomeço Hoje, Matheus vive com a esposa e filhos e trabalha em uma empresa de ar-condicionado automotivo. Mas não abandonou seus sonhos. Ele forma uma dupla sertaneja com o irmão, Junior, e se apresenta em bares da cidade. “Não me vejo sem música. Mas a aviação também é uma paixão. As duas estão empatadas no meu coração”, diz. Matheus tocando e cantando em bar Reprodução/TV Globo No braço, carrega uma tatuagem com o símbolo da Força Aérea e uma bússola apontando para o oeste — direção que o salvou. “Fiz dois anos antes do acidente. Quem vai explicar um negócio desse?" Matheus mostra tatuagem com o símbolo da Força Aérea e uma bússola apontando para o oeste Reprodução/TV Globo Matheus ainda sonha em voar novamente. “Mas agora, sem ser na correria, sem impulsos. É amor pela aviação.” Matheus fala sobre sonho de voar novamente Reprodução/TV Globo Confira as últimas reportagens do Globo Repórter: