Massacre na Síria: menina de 8 anos leva tiro no rosto e finge estar morta para sobreviver
O brasileiro Gabriel Chaim está na Síria para ouvir relatos de sobreviventes dos ataques violentos
A cidade de Sweida, no sul da Síria, virou palco de um dos episódios mais violentos desde o fim do regime de Bashar al-Assad.
O fotógrafo e documentarista Gabriel Chaim registrou imagens exclusivas da região. “Aqui não tem água, não tem energia, não tem comida. Muitos corpos pelas ruas de Sweida, corpos carbonizados”, relatou.
Em meio a uma guerra civil que já dura mais de uma década, mais de 1.400 pessoas foram mortas nas últimas semanas, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos. A região, habitada majoritariamente por drusos — uma minoria étnica e religiosa — foi invadida por grupos armados, e relatos de massacres se multiplicam.
A menina Hala Al-Khatib, de oito anos, é a única sobrevivente da família. Ela levou um tiro no rosto e sobreviveu fingindo estar morta.
“Eu senti quando passou a bala e me joguei no chão. Só saí depois que tudo acabou e pedi ajuda”, contou.
O exército sírio invadiu a casa dela e matou o pai, a mãe e as duas irmãs. O rosto deformado é uma das marcas da violência que tomou conta da cidade.
Sweida fica a cerca de 100 km da capital Damasco e próxima à fronteira com Israel, que tem interesse estratégico na permanência dos drusos na região. Como forma de apoio, Israel chegou a bombardear posições do exército sírio.
Desde a queda de Bashar al-Assad, que fugiu para a Rússia há cerca de oito meses, o poder na Síria está nas mãos de Ahmed al-Sharaa, presidente interino.
A população síria é composta por diversos grupos étnicos e religiosos.
Os árabes estão em todas as regiões.
Os alauítas, ligados ao antigo regime, vivem no noroeste.
Os armênios, de influência cristã, estão em Alepo e Damasco.
Os beduínos, árabes muçulmanos sunitas nômades, vivem no centro-sul e leste.
E os drusos, com raízes no islamismo xiita, se concentram na fronteira com Israel.
Todos os lados se acusam de atos violentos. Alia Hussein Al-Ali, uma mulher beduína deslocada, relatou que milícias drusas queimaram tudo o que ela tinha. “Nos deixaram sem nada, massacraram nossos jovens.”
O empresário druso Ghassan Jamil Qardha tentou fugir com a família. Ele desviou o carro para proteger os filhos e sobrinhos, mas viu tudo de um muro.
“Os soldados atiraram na cabeça deles e eles começaram a revistar meus filhos e sobrinhos para roubar joias, dinheiro, telefone. Quando eles foram embora, eu ainda tentei levá-los pro hospital, mas já não estavam vivos.”
Chaim acompanhou os confrontos e encontrou dois mercenários escondidos em uma casa. Eles admitiram que receberam ordens para matar drusos. “As instruções eram matar”, disse um deles. O pagamento pela missão: 150 dólares.
Gabriel Chaim segue acompanhando Hala, que deve ser levada a Damasco e depois ao Líbano, onde dois cirurgiões plásticos brasileiros vão reconstruir seu rosto.
“As minorias aqui na Síria não têm nenhum tipo de proteção. Os drusos não querem entregar as armas que têm. É difícil pensar qual vai ser o futuro da Síria”, concluiu.
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A cidade de Sweida, no sul da Síria, virou palco de um dos episódios mais violentos desde o fim do regime de Bashar al-Assad.
O fotógrafo e documentarista Gabriel Chaim registrou imagens exclusivas da região. “Aqui não tem água, não tem energia, não tem comida. Muitos corpos pelas ruas de Sweida, corpos carbonizados”, relatou.
Em meio a uma guerra civil que já dura mais de uma década, mais de 1.400 pessoas foram mortas nas últimas semanas, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos. A região, habitada majoritariamente por drusos — uma minoria étnica e religiosa — foi invadida por grupos armados, e relatos de massacres se multiplicam.
A menina Hala Al-Khatib, de oito anos, é a única sobrevivente da família. Ela levou um tiro no rosto e sobreviveu fingindo estar morta.
“Eu senti quando passou a bala e me joguei no chão. Só saí depois que tudo acabou e pedi ajuda”, contou.
O exército sírio invadiu a casa dela e matou o pai, a mãe e as duas irmãs. O rosto deformado é uma das marcas da violência que tomou conta da cidade.
Sweida fica a cerca de 100 km da capital Damasco e próxima à fronteira com Israel, que tem interesse estratégico na permanência dos drusos na região. Como forma de apoio, Israel chegou a bombardear posições do exército sírio.
Desde a queda de Bashar al-Assad, que fugiu para a Rússia há cerca de oito meses, o poder na Síria está nas mãos de Ahmed al-Sharaa, presidente interino.
A população síria é composta por diversos grupos étnicos e religiosos.
Os árabes estão em todas as regiões.
Os alauítas, ligados ao antigo regime, vivem no noroeste.
Os armênios, de influência cristã, estão em Alepo e Damasco.
Os beduínos, árabes muçulmanos sunitas nômades, vivem no centro-sul e leste.
E os drusos, com raízes no islamismo xiita, se concentram na fronteira com Israel.
Todos os lados se acusam de atos violentos. Alia Hussein Al-Ali, uma mulher beduína deslocada, relatou que milícias drusas queimaram tudo o que ela tinha. “Nos deixaram sem nada, massacraram nossos jovens.”
O empresário druso Ghassan Jamil Qardha tentou fugir com a família. Ele desviou o carro para proteger os filhos e sobrinhos, mas viu tudo de um muro.
“Os soldados atiraram na cabeça deles e eles começaram a revistar meus filhos e sobrinhos para roubar joias, dinheiro, telefone. Quando eles foram embora, eu ainda tentei levá-los pro hospital, mas já não estavam vivos.”
Chaim acompanhou os confrontos e encontrou dois mercenários escondidos em uma casa. Eles admitiram que receberam ordens para matar drusos. “As instruções eram matar”, disse um deles. O pagamento pela missão: 150 dólares.
Gabriel Chaim segue acompanhando Hala, que deve ser levada a Damasco e depois ao Líbano, onde dois cirurgiões plásticos brasileiros vão reconstruir seu rosto.
“As minorias aqui na Síria não têm nenhum tipo de proteção. Os drusos não querem entregar as armas que têm. É difícil pensar qual vai ser o futuro da Síria”, concluiu.
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