Negócios de impacto sustentável geram empregos e levam água potável às comunidades da Amazônia
As belenenses Ana Lídia e Ingrid provam que a Amazônia é solo fértil para inovação, impacto social e um futuro brilhante Acervo pessoal de Ana Lídia Zoni Ribeiro A sustentabilidade está guiando o futuro dos pequenos negócios na Amazônia, onde biodiversidade e comunidades são os maiores patrimônios. É nesse chão de rios e matas que a inquieta e criativa Ana Lídia Zoni Ribeiro, 42 anos, de Belém (PA), se destaca com a Hidromel Uruçun, que transforma o mel das uruçu, abelhas nativas do Brasil, de forma sustentável em um produto milenar: o hidromel. O interesse de Ana pelas abelhas surgiu na faculdade de engenharia de produção, quando, em suas aulas, percebeu o potencial do mel como insumo. “Na minha cabeça já passava tudo: vou transformar isso num produto”, conta. Hoje, sua atuação vai muito além da produção da bebida e impacta diretamente cerca de trezentas famílias que produzem mel por meio de uma tecnologia única no mundo, desenvolvida pela empreendedora. Sua inovação leva o nome de Melipona Tech. Elaborada em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) para monitorar e otimizar a produção de mel das uruçus, utiliza inteligência artificial aplicada ao mapeamento das safras florais da região. Assim, por meio de dados coletados em campo e imagens aéreas, é possível identificar o momento ideal para a coleta do mel, considerando os ciclos da flora amazônica. Isso garante que a produção seja sustentável, respeitando o meio ambiente e beneficiando o tamanho, a cor e o sabor dos frutos da região. “Eu acho que tudo é possível. Eu carrego uma frase: ‘A cabeça só pensa onde os pés pisam’”, diz Ana. Para ela, quem vive na Amazônia é quem melhor sabe cuidar dela – Vídeo: Divulgação “Produzimos um mel diferenciado, com 40% mais água e menos doçura, o que o torna mais azedinho e ideal até para quem tem diabetes. Cada safra traz um sabor único da floresta. Me sinto uma mixologista!”, brinca. “Muito do meu público e dos meus fornecedores são mulheres. É muito bonito ver essas comunidades prosperando, com pequenos negócios que geram renda e fortalecem a floresta”, destaca Ana. Para o Sebrae, esse modelo de bioeconomia é um caminho estratégico para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Como explica Bruno Quick, coordenador de sustentabilidade da instituição: “Precisamos criar unidades produtivas dentro das comunidades e estruturar um modelo que envolva infraestrutura, energia renovável e acesso a mercado. A bioeconomia tem um potencial imenso, e o Sebrae tem a capilaridade para conectar esses negócios às oportunidades e apoios necessários.” De Belém para o mundo Em um cenário no qual apenas 6,38% das micro e pequenas empresas brasileiras incorporaram plenamente práticas de economia circular em seus negócios, Ana Lídia está à frente. Os dados são da pesquisa Engajamento dos Pequenos Negócios Brasileiros às Práticas de Economia Circular (2024). Outros 10,12% estão em fase de implementação, 16,23% ainda planejam e 6,78% nem sequer conhecem o conceito. O desafio também é grande quando se trata da presença da economia circular na cultura das empresas: 64,72% ainda não a incorporaram em missão, visão e valores, enquanto 6,26% desconhecem o tema. Apenas 5,42% afirmam tê-lo plenamente integrado à estrutura da empresa. Ana faz parte desse grupo. O hidromel de Ana já foi exportado para diversos países, como África do Sul, Alemanha, Índia, Panamá, Portugal, Suriname e mais – Acervo pessoal de Ana Lídia Zoni Ribeiro Em busca de ampliar esse impacto, Ana encontrou no programa Inova Amazônia, do Sebrae, o impulso necessário para transformar sua ideia em um negócio estruturado e exponencial. “Eu tinha um produto, mas não sabia exatamente como escalar aquilo. O programa abriu minha cabeça, me ensinou técnicas. Uma aceleração dessa é outro nível”, diz ela, que atualmente reúne sete pessoas em sua equipe. Voltada à promoção da bioeconomia e ao uso sustentável dos recursos naturais, a iniciativa conectou a engenheira a mais oportunidades. A partir dali, Ana mergulhou em capacitações como o ALI Produtividade, participou de rodadas de negócios e promoveu, com o Sebrae, treinamentos para moradores da Ilha do Combú (PA). Também recebeu apoio direto na formalização do negócio, deixando o status de MEI e tornando-se microempresária, além de ser mentoreada pelo próprio superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno. “Foi uma das pessoas que mais acreditou na minha ideia”, afirmou. Rubens apresentou o negócio de Ana como case de sucesso pelo Sebrae na National Retail Federation (NRF), em Nova York, a maior feira de varejo do mundo. A empreendedora teve acesso a ferramentas de qualificação para exportação e passou a participar de feiras internacionais, incluindo uma missão para a Alemanha com foco em bebidas sustentáveis. Mais recentemente, integrou o grupo estratégico do Sebrae COP30, na área de alimentos e bebidas, com o objetivo de fomentar o empreendedorismo local no evento. No entanto, a trajetória até aqui não foi fácil. “Peguei


As belenenses Ana Lídia e Ingrid provam que a Amazônia é solo fértil para inovação, impacto social e um futuro brilhante Acervo pessoal de Ana Lídia Zoni Ribeiro A sustentabilidade está guiando o futuro dos pequenos negócios na Amazônia, onde biodiversidade e comunidades são os maiores patrimônios. É nesse chão de rios e matas que a inquieta e criativa Ana Lídia Zoni Ribeiro, 42 anos, de Belém (PA), se destaca com a Hidromel Uruçun, que transforma o mel das uruçu, abelhas nativas do Brasil, de forma sustentável em um produto milenar: o hidromel. O interesse de Ana pelas abelhas surgiu na faculdade de engenharia de produção, quando, em suas aulas, percebeu o potencial do mel como insumo. “Na minha cabeça já passava tudo: vou transformar isso num produto”, conta. Hoje, sua atuação vai muito além da produção da bebida e impacta diretamente cerca de trezentas famílias que produzem mel por meio de uma tecnologia única no mundo, desenvolvida pela empreendedora. Sua inovação leva o nome de Melipona Tech. Elaborada em parceria com a Universidade Federal do Pará (UFPA) para monitorar e otimizar a produção de mel das uruçus, utiliza inteligência artificial aplicada ao mapeamento das safras florais da região. Assim, por meio de dados coletados em campo e imagens aéreas, é possível identificar o momento ideal para a coleta do mel, considerando os ciclos da flora amazônica. Isso garante que a produção seja sustentável, respeitando o meio ambiente e beneficiando o tamanho, a cor e o sabor dos frutos da região. “Eu acho que tudo é possível. Eu carrego uma frase: ‘A cabeça só pensa onde os pés pisam’”, diz Ana. Para ela, quem vive na Amazônia é quem melhor sabe cuidar dela – Vídeo: Divulgação “Produzimos um mel diferenciado, com 40% mais água e menos doçura, o que o torna mais azedinho e ideal até para quem tem diabetes. Cada safra traz um sabor único da floresta. Me sinto uma mixologista!”, brinca. “Muito do meu público e dos meus fornecedores são mulheres. É muito bonito ver essas comunidades prosperando, com pequenos negócios que geram renda e fortalecem a floresta”, destaca Ana. Para o Sebrae, esse modelo de bioeconomia é um caminho estratégico para o desenvolvimento sustentável da Amazônia. Como explica Bruno Quick, coordenador de sustentabilidade da instituição: “Precisamos criar unidades produtivas dentro das comunidades e estruturar um modelo que envolva infraestrutura, energia renovável e acesso a mercado. A bioeconomia tem um potencial imenso, e o Sebrae tem a capilaridade para conectar esses negócios às oportunidades e apoios necessários.” De Belém para o mundo Em um cenário no qual apenas 6,38% das micro e pequenas empresas brasileiras incorporaram plenamente práticas de economia circular em seus negócios, Ana Lídia está à frente. Os dados são da pesquisa Engajamento dos Pequenos Negócios Brasileiros às Práticas de Economia Circular (2024). Outros 10,12% estão em fase de implementação, 16,23% ainda planejam e 6,78% nem sequer conhecem o conceito. O desafio também é grande quando se trata da presença da economia circular na cultura das empresas: 64,72% ainda não a incorporaram em missão, visão e valores, enquanto 6,26% desconhecem o tema. Apenas 5,42% afirmam tê-lo plenamente integrado à estrutura da empresa. Ana faz parte desse grupo. O hidromel de Ana já foi exportado para diversos países, como África do Sul, Alemanha, Índia, Panamá, Portugal, Suriname e mais – Acervo pessoal de Ana Lídia Zoni Ribeiro Em busca de ampliar esse impacto, Ana encontrou no programa Inova Amazônia, do Sebrae, o impulso necessário para transformar sua ideia em um negócio estruturado e exponencial. “Eu tinha um produto, mas não sabia exatamente como escalar aquilo. O programa abriu minha cabeça, me ensinou técnicas. Uma aceleração dessa é outro nível”, diz ela, que atualmente reúne sete pessoas em sua equipe. Voltada à promoção da bioeconomia e ao uso sustentável dos recursos naturais, a iniciativa conectou a engenheira a mais oportunidades. A partir dali, Ana mergulhou em capacitações como o ALI Produtividade, participou de rodadas de negócios e promoveu, com o Sebrae, treinamentos para moradores da Ilha do Combú (PA). Também recebeu apoio direto na formalização do negócio, deixando o status de MEI e tornando-se microempresária, além de ser mentoreada pelo próprio superintendente do Sebrae no Pará, Rubens Magno. “Foi uma das pessoas que mais acreditou na minha ideia”, afirmou. Rubens apresentou o negócio de Ana como case de sucesso pelo Sebrae na National Retail Federation (NRF), em Nova York, a maior feira de varejo do mundo. A empreendedora teve acesso a ferramentas de qualificação para exportação e passou a participar de feiras internacionais, incluindo uma missão para a Alemanha com foco em bebidas sustentáveis. Mais recentemente, integrou o grupo estratégico do Sebrae COP30, na área de alimentos e bebidas, com o objetivo de fomentar o empreendedorismo local no evento. No entanto, a trajetória até aqui não foi fácil. “Peguei duas gestações direto, ia pra fábrica com oito meses de barriga. O pessoal dizia que eu precisava tomar cuidado, mas eu sabia o que estava fazendo. Não podia deixar a oportunidade passar”, lembra. Valeu a pena, Ana. Hoje, você já alcançou mais de três mil pessoas diretamente com seu trabalho, promovendo geração de renda e inovação baseadas nos saberes e riquezas da Amazônia! O amanhã começa com uma semente A Hidromel Uruçun ainda tem conexão com outro negócio belenense, a Ver-o-Fruto, de Ingrid Monique Oliveira Teles, 32 anos. O projeto das duas empreendedoras (que se conheceram no programa Inova Amazônia) visa criar um hidromel feito com água purificada pelo sistema filtrante feito das sementes de açaí — que por muitos é visto como um simples resíduo. Também nascida em Belém (PA), Ingrid é engenheira de produção pela UFPA, e ali também está realizando seu mestrado em engenharia industrial. Como fundadora da startup, sua inquietação surgiu nas feiras da cidade enquanto era estudante da faculdade e notava o desperdício de sementes jogadas no chão de Belém. “A Ver-o-Fruto nasceu desse incômodo”, afirma Ingrid. Para a engenheira, empreender é um propósito diário em prol da primeira etapa de desenvolvimento nas regiões ribeirinhas: água potável – Acervo pessoal de Ingrid Monique de Oliveira Teles Estratégica e visionária, ela sabia que de pronto sua empresa não avançaria sem capital. Por isso, viu a saída na produção de sabonetes faciais líquidos a partir do açaí. Hoje, seis anos depois, a cada venda de um produto de sua marca, Amazon Seed, cinco litros de água são revertidos para comunidades ribeirinhas sem acesso à água potável. Com o apoio do Sebrae, a empreendedora encontrou os caminhos para estruturar e dar escala a seu negócio, que une beleza, tecnologia e impacto social. “Iniciei minha caminhada com o Sebrae participando de um programa com várias atividades e, numa dessas, ouvi uma palestra que me chamou muita atenção. Depois descobri que o palestrante era Renato Coelho, do Sebrae Pará. Precisei tirar dúvidas sobre meu MEI, fui até o Sebrae e encontrei com ele. Foi quando ele me apresentou o Inova Amazônia, um programa de aceleração para negócios de bioeconomia na região”, lembra Ingrid. Antes, o que era só uma ideia, a instituição a ajudou a entender como um negócio de impacto. “O Sebrae foi quem nos moldou como empresa mesmo”, conta. Desde então, Ingrid mergulhou em consultorias, formações e mentorias, incluindo suporte para adequação ao SisGen, Sistema Nacional de Gestão do Patrimônio Genético e do Conhecimento Tradicional Associado. A estruturação trouxe resultados. Hoje, a Ver-o-Fruto oferece ainda mais produtos de cuidados com a pele com ingredientes amazônicos e desenvolve sistemas de purificação de água fáceis de instalar, compactos e de baixo custo. Ao lado de sua diretora técnica, Thamna Lourinho, Ingrid leva água potável para diversas comunidades da Ilha do Combú, da Ilha das Onças e para um quilombo no interior do Amapá. Dentre suas experiências marcantes, ela conta sobre uma surpresa que teve. Durante a instalação de um dos primeiros sistemas, um imprevisto técnico impediu o uso pleno do equipamento, o suficiente para deixá-la frustrada. “Meu objetivo era que o sistema funcionasse perfeitamente, com água própria para beber e cozinhar. Mas aí vi uma grávida se aproximando e dizendo: ‘Minha filha vai ser a primeira a nascer na ilha com roupa limpa’. Aquilo me desmontou.” É essa visão que move a empreendedora a ampliar ainda mais os horizontes. A meta agora é testar o sistema em outros países, como a África do Sul, e tornar-se referência em desenvolvimento local sustentável. “Quero ver as pessoas falando de bioeconomia, mas também ver quem faz a bioeconomia na base sendo beneficiado por isso. E sei que o primeiro passo é o acesso à água.” Agenda 2030, um compromisso a ser feito Essa atuação direta nas comunidades conversa com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), compromisso global da ONU para 2030. Embora 59% dos pequenos negócios brasileiros se declarem comprometidos com os ODS, as ações ainda são, em grande parte, isoladas e sem planejamento estruturado, segundo a pesquisa A contribuição das pequenas empresas brasileiras na Agenda 2030 da ONU (2024). Entre as motivações para a adoção de práticas sustentáveis, destacam-se a preservação ambiental e a justiça social (36,49%), seguidas da redução de custos (30,02%), melhoria da reputação e imagem (18,35%) e exigências de compliance (15,14%). Quando o assunto é água, 26,63% dos empreendedores ainda não adotam nenhuma prática para economizar. Entre os que adotam, as ações mais comuns são o reuso de água para fins não potáveis (30,90%) e a captação de água da chuva (28,98%). Nesse cenário, soluções como as da Ver-o-Fruto ganham ainda mais relevância. Com os olhos na COP30, Ingrid trabalha para instalar dez pontos de hidratação com seu sistema filtrante em diferentes locais estratégicos de Belém, unindo impacto ambiental, justiça social e inovação. E está em busca de empresas parceiras para ampliar esse alcance, enfrentando também desafios regulatórios, como o ICMS sobre produtos de impacto socioambiental. “A gente não quer só mostrar o que é possível, mas garantir que isso permaneça depois do evento. Um legado que continue gerando dignidade para quem vive aqui”, reforça. O propósito da Ver-o-Fruto? “Transformar”, diz a engenheira. A trilha até a COP30 já começou A motivação de Ingrid está alinhada com o que vem sendo discutido nos bastidores da COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em novembro deste ano em Belém (PA). O evento, que vai reunir representantes de diversos países para debater os rumos do meio ambiente, contará pela primeira vez com a presença ativa dos pequenos negócios brasileiros. O Sebrae será a voz desses empreendedores e, segundo o presidente da instituição, Décio Lima, essa participação pode abrir novos caminhos. “A COP30 não pode ser apenas um palco para grandes corporações e governos. Ela precisa ser um espaço para que pequenas empresas compartilhem suas experiências e suas soluções. Ao ouvi-las, o Brasil terá a oportunidade de aprender com quem realmente entende a floresta e de construir um futuro mais justo, próspero e sustentável para todos”, destaca. A seguir, fique por dentro das ideias que já estão moldando o presente e vão transformar o futuro dos pequenos negócios no Brasil e no mundo. Centro Sebrae de Sustentabilidade mostra como os pequenos negócios inovam e traz dicas para colocar a responsabilidade ambiental e social no seu projeto – Divulgação Assim como Ana Lídia e Ingrid fizeram do cuidado com a terra e as comunidades o seu próprio negócio, você também pode dar um passo em direção à sustentabilidade com os cursos e conteúdos gratuitos do Sebrae. Curso | Como criar um modelo de negócio de impacto socioambiental E-book | Economia circular para pequenas empresas Consultoria de inovação | Sebraetec Diagnóstico | Maturidade ESG para pequenos negócios