Negros têm quase três vezes mais risco de assassinatos: casos recentes expõem violência racial no Brasil
Edição de 30/09/2025
No Brasil, os negros têm quase três vezes mais riscos de serem assassinados. O Profissão Repórter desta terça-feira (30) contou histórias de vítimas da violência racial. Veja a íntegra do programa no vídeo acima.
'Não é possível que nossa juventude vai continuar sendo morta'
Felipe Moraes, 29 anos, foi morto a tiros por um segurança de um supermercado em Santo André, na Grande São Paulo, em agosto. Artista, capoeirista e artesão, Felipe era conhecido na região e teve a vida interrompida de forma violenta após uma abordagem dentro do estabelecimento.
“Não é possível que nossa juventude continue sendo morta por nada. Nada justifica tirarem a vida do Felipe, assim como tiraram a de outros jovens negros, com o mesmo modus operandi, dentro de supermercados”, disse Evelyn Silva, viúva de Felipe.
A irmã de Felipe, Alice Moraes de Oliveira, também falou sobre o impacto da aparência do irmão:
“A aparência dele, eu creio que a sociedade julgava muito.”
O Mercado Loyola não revelou o nome do advogado que representa o estabelecimento. O gerente Sérgio Gomes, o dono do mercado, Cléssio Fernandes de Lima e a advogada do segurança não atenderam os vários pedidos de entrevista do Profissão Repórter. Como a investigação está em sigilo, o nome do segurança não foi divulgado pela polícia.
'Ele falou que não estava conseguindo respirar'
O Profissão Repórter também voltou a Porto Alegre, cinco anos após a morte de João Alberto Silveira Freitas, assassinado dentro de uma unidade do Carrefour em 19 de novembro de 2020, véspera do Dia da Consciência Negra. João Alberto foi perseguido por seguranças, agredido no estacionamento e morreu asfixiado após pedir socorro.
O caso ganhou repercussão internacional e foi comparado à morte de George Floyd, nos Estados Unidos, ocorrida no mesmo ano. A cena, registrada em vídeo, gerou indignação e impulsionou o movimento “Black Lives Matter” — “Vidas Negras Importam”.
No caso do mercado em Porto Alegre, seis pessoas foram acusadas por homicídio triplamente qualificado: por meio cruel (asfixia), recurso que dificultou a defesa da vítima, e motivo torpe — neste caso, o racismo. Mas uma , uma decisão recente da Justiça em segunda instância retirou a motivação racial do processo. Os réus agora respondem por homicídio duplamente qualificado e aguardam julgamento em liberdade.
Para a família de João Alberto, a decisão representa um retrocesso. Desirée Freitas, filha do segurança morto, hoje com 14 anos, desenvolveu depressão após a perda do pai.
“Eu acho que foi racismo, sim. Se fosse uma pessoa branca, de cabelo loiro, eles iam querer conversar”, afirmou.
Thaynara Freitas, outra filha de João Alberto, também se manifestou:
“Isso é racismo. Espancaram ele até a morte. O que mais me doeu foi ver no vídeo ele dizendo ‘eu não estou conseguindo respirar’ e mesmo assim continuaram com o joelho em cima dele.”
Em nota, o Carrefour disse que "o grupo reconhece que nada que nada do que foi feito, e que ainda continuará sendo feito, redime a perda irreparável de João Alberto. No entanto, o episódio transformou definitivamente a companhia. Inclusão e diversidade sempre foram pilares centrais da nossa cultura e estão presentes em todas as tomadas de decisão da companhia. Após essa tragédia, entendemos que precisamos de disciplina, compromisso e investimento diário com essa agenda. A empresa segue empenhada em ser ator atuante no combate ao racismo estrutural, consciente de que esta é uma jornada contínua e de longo prazo, que exige escuta, diálogo, transparência e ação. O compromisso do Grupo Carrefour Brasil é com a construção de um futuro mais justo, inclusivo e respeitoso para todos".
Racismo estrutural
Matheus Gomes, deputado estadual e integrante do movimento negro em Porto Alegre, destacou que a perseguição a pessoas negras em estabelecimentos comerciais é comum.
“Desde pequenos, somos educados por nossas mães e avós a tomar cuidado ao entrar em supermercados. Evitar colocar a mão no bolso, mexer na mochila...”, disse.
Confira as últimas reportagens do Profissão Repórter:
Edição de 30/09/2025
No Brasil, os negros têm quase três vezes mais riscos de serem assassinados. O Profissão Repórter desta terça-feira (30) contou histórias de vítimas da violência racial. Veja a íntegra do programa no vídeo acima.
'Não é possível que nossa juventude vai continuar sendo morta'
Felipe Moraes, 29 anos, foi morto a tiros por um segurança de um supermercado em Santo André, na Grande São Paulo, em agosto. Artista, capoeirista e artesão, Felipe era conhecido na região e teve a vida interrompida de forma violenta após uma abordagem dentro do estabelecimento.
“Não é possível que nossa juventude continue sendo morta por nada. Nada justifica tirarem a vida do Felipe, assim como tiraram a de outros jovens negros, com o mesmo modus operandi, dentro de supermercados”, disse Evelyn Silva, viúva de Felipe.
A irmã de Felipe, Alice Moraes de Oliveira, também falou sobre o impacto da aparência do irmão:
“A aparência dele, eu creio que a sociedade julgava muito.”
O Mercado Loyola não revelou o nome do advogado que representa o estabelecimento. O gerente Sérgio Gomes, o dono do mercado, Cléssio Fernandes de Lima e a advogada do segurança não atenderam os vários pedidos de entrevista do Profissão Repórter. Como a investigação está em sigilo, o nome do segurança não foi divulgado pela polícia.
'Ele falou que não estava conseguindo respirar'
O Profissão Repórter também voltou a Porto Alegre, cinco anos após a morte de João Alberto Silveira Freitas, assassinado dentro de uma unidade do Carrefour em 19 de novembro de 2020, véspera do Dia da Consciência Negra. João Alberto foi perseguido por seguranças, agredido no estacionamento e morreu asfixiado após pedir socorro.
O caso ganhou repercussão internacional e foi comparado à morte de George Floyd, nos Estados Unidos, ocorrida no mesmo ano. A cena, registrada em vídeo, gerou indignação e impulsionou o movimento “Black Lives Matter” — “Vidas Negras Importam”.
No caso do mercado em Porto Alegre, seis pessoas foram acusadas por homicídio triplamente qualificado: por meio cruel (asfixia), recurso que dificultou a defesa da vítima, e motivo torpe — neste caso, o racismo. Mas uma , uma decisão recente da Justiça em segunda instância retirou a motivação racial do processo. Os réus agora respondem por homicídio duplamente qualificado e aguardam julgamento em liberdade.
Para a família de João Alberto, a decisão representa um retrocesso. Desirée Freitas, filha do segurança morto, hoje com 14 anos, desenvolveu depressão após a perda do pai.
“Eu acho que foi racismo, sim. Se fosse uma pessoa branca, de cabelo loiro, eles iam querer conversar”, afirmou.
Thaynara Freitas, outra filha de João Alberto, também se manifestou:
“Isso é racismo. Espancaram ele até a morte. O que mais me doeu foi ver no vídeo ele dizendo ‘eu não estou conseguindo respirar’ e mesmo assim continuaram com o joelho em cima dele.”
Em nota, o Carrefour disse que "o grupo reconhece que nada que nada do que foi feito, e que ainda continuará sendo feito, redime a perda irreparável de João Alberto. No entanto, o episódio transformou definitivamente a companhia. Inclusão e diversidade sempre foram pilares centrais da nossa cultura e estão presentes em todas as tomadas de decisão da companhia. Após essa tragédia, entendemos que precisamos de disciplina, compromisso e investimento diário com essa agenda. A empresa segue empenhada em ser ator atuante no combate ao racismo estrutural, consciente de que esta é uma jornada contínua e de longo prazo, que exige escuta, diálogo, transparência e ação. O compromisso do Grupo Carrefour Brasil é com a construção de um futuro mais justo, inclusivo e respeitoso para todos".
Racismo estrutural
Matheus Gomes, deputado estadual e integrante do movimento negro em Porto Alegre, destacou que a perseguição a pessoas negras em estabelecimentos comerciais é comum.
“Desde pequenos, somos educados por nossas mães e avós a tomar cuidado ao entrar em supermercados. Evitar colocar a mão no bolso, mexer na mochila...”, disse.
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