O segredo da longevidade: um sistema imunológico resistente

O médico norte-americano Eric Topol lança livro sobre os “super agers” e vê com reservas o boom do mercado antienvelhecimento. O cardiologista Eric Topol acaba de lançar “Super agers: an evidence-based approach to longevity” (“Os super-velhos: uma abordagem da longevidade baseada em evidências”, em tradução livre). Ele se refere a idosos que passaram dos 80 anos com saúde, enquanto a maioria lida com pelo menos duas doenças crônicas. Fundador do Scripps Research Translational Institute, o médico e cientista chefiou pesquisadores que sequenciaram o genoma de 1.400 desses indivíduos que parecem não sentir a passagem do tempo. Foram batizados de “wellderly” – uma fusão das palavras bem e velho, ou seja, aqueles que parecem imunes ao declínio físico. Não foram achadas diferenças significativas entre eles e seus companheiros de geração, mas o grupo era consistentemente mais ativo, tinha conexões sociais e um nível de escolaridade maior. O cardiologista e cientista Eric Topol: sistema imunológico eficiente é a chave para a longevidade Divulgação Se não se tratava de uma carga genética favorável, qual o segredo desses longevos? “Eu poderia dizer que eles têm sorte, mas seria simplificar demais”, explicou em palestra on-line que acompanhei. “Na verdade, são pessoas cujo sistema imunológico tem grande resiliência e os protege das doenças”, completou. Autor de mais de 1.300 artigos científicos, Topol vê com reservas o boom do mercado antienvelhecimento: “A ciência é encorajadora e temos avanços no campo da reprogramação epigenética, mas também há clínicas nas quais as pessoas gastam dezenas de milhares de dólares com câmaras hiperbáricas, tratamentos com células-tronco e suplementos sem o devido respaldo científico”, critica. Enfatiza que o objetivo das políticas públicas de saúde deveria ser reduzir o risco de desenvolver as três condições mais comuns e associadas ao envelhecimento: câncer, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas. É onde entra a medicina preventiva de precisão. O cardiologista aprova o desenvolvimento dos chamados “organ clocks” (relógios biológicos específicos para cada órgão) – na prática, testes com biomarcadores capazes de detectar enfermidades antes do surgimento dos sintomas. Voltando ao sistema imunológico, lamenta que ainda tenhamos um arsenal tão limitado para avaliar seus problemas. “Assistimos ao crescimento do número de casos de câncer em pessoas jovens. Certamente seu sistema imunológico falhou em protegê-las”, diz. Seguem as recomendações que estão no livro: Faça treinos de força, ou seja, vá para a academia e pegue peso: uma metanálise (que combina os resultados de diversos estudos) citada na obra mostra que uma hora de treino de resistência por semana diminui o risco de morte em 25%. Incorpore à prática os exercícios de equilíbrio, fundamentais quando envelhecemos. Dormir tem que ser uma prioridade: o cérebro precisa do descanso noturno para eliminar as toxinas que se acumulam durante o dia. A fase conhecida como sono profundo é a mais importante e Topol reconheceu que seu desempenho no quesito era pífio. Agora vai dormir mais cedo e sempre no mesmo horário. Quem quiser aprender sobre a higiene do sono, poder ler a coluna que escrevi neste link. Adote uma dieta baseada em grãos, legumes, verduras e frutas, acompanhada de carnes magras. Reduza ao mínimo a ingestão de derivados do leite e simplesmente evite qualquer alimento ultraprocessado. “Nem se dê ao trabalho de ler o rótulo, todos fazem mal”, ele ensina. Quanto ao jejum intermitente, afirma que os dados não corroboram que seja um aliado da longevidade, mas aconselha: “jante cedo e não coma mais nada depois da refeição até a hora de dormir”. Proteja seu bem-estar mental: cultive amizades e relações sociais prazerosas. Um método eficiente para manter o estresse sob controle é estar em contato com a natureza. Correndo com o Hora 1: Maria de Lourdes conta o segredo para a longevidade

Jun 26, 2025 - 04:30
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O segredo da longevidade: um sistema imunológico resistente

O médico norte-americano Eric Topol lança livro sobre os “super agers” e vê com reservas o boom do mercado antienvelhecimento. O cardiologista Eric Topol acaba de lançar “Super agers: an evidence-based approach to longevity” (“Os super-velhos: uma abordagem da longevidade baseada em evidências”, em tradução livre). Ele se refere a idosos que passaram dos 80 anos com saúde, enquanto a maioria lida com pelo menos duas doenças crônicas. Fundador do Scripps Research Translational Institute, o médico e cientista chefiou pesquisadores que sequenciaram o genoma de 1.400 desses indivíduos que parecem não sentir a passagem do tempo. Foram batizados de “wellderly” – uma fusão das palavras bem e velho, ou seja, aqueles que parecem imunes ao declínio físico. Não foram achadas diferenças significativas entre eles e seus companheiros de geração, mas o grupo era consistentemente mais ativo, tinha conexões sociais e um nível de escolaridade maior. O cardiologista e cientista Eric Topol: sistema imunológico eficiente é a chave para a longevidade Divulgação Se não se tratava de uma carga genética favorável, qual o segredo desses longevos? “Eu poderia dizer que eles têm sorte, mas seria simplificar demais”, explicou em palestra on-line que acompanhei. “Na verdade, são pessoas cujo sistema imunológico tem grande resiliência e os protege das doenças”, completou. Autor de mais de 1.300 artigos científicos, Topol vê com reservas o boom do mercado antienvelhecimento: “A ciência é encorajadora e temos avanços no campo da reprogramação epigenética, mas também há clínicas nas quais as pessoas gastam dezenas de milhares de dólares com câmaras hiperbáricas, tratamentos com células-tronco e suplementos sem o devido respaldo científico”, critica. Enfatiza que o objetivo das políticas públicas de saúde deveria ser reduzir o risco de desenvolver as três condições mais comuns e associadas ao envelhecimento: câncer, doenças cardiovasculares e neurodegenerativas. É onde entra a medicina preventiva de precisão. O cardiologista aprova o desenvolvimento dos chamados “organ clocks” (relógios biológicos específicos para cada órgão) – na prática, testes com biomarcadores capazes de detectar enfermidades antes do surgimento dos sintomas. Voltando ao sistema imunológico, lamenta que ainda tenhamos um arsenal tão limitado para avaliar seus problemas. “Assistimos ao crescimento do número de casos de câncer em pessoas jovens. Certamente seu sistema imunológico falhou em protegê-las”, diz. Seguem as recomendações que estão no livro: Faça treinos de força, ou seja, vá para a academia e pegue peso: uma metanálise (que combina os resultados de diversos estudos) citada na obra mostra que uma hora de treino de resistência por semana diminui o risco de morte em 25%. Incorpore à prática os exercícios de equilíbrio, fundamentais quando envelhecemos. Dormir tem que ser uma prioridade: o cérebro precisa do descanso noturno para eliminar as toxinas que se acumulam durante o dia. A fase conhecida como sono profundo é a mais importante e Topol reconheceu que seu desempenho no quesito era pífio. Agora vai dormir mais cedo e sempre no mesmo horário. Quem quiser aprender sobre a higiene do sono, poder ler a coluna que escrevi neste link. Adote uma dieta baseada em grãos, legumes, verduras e frutas, acompanhada de carnes magras. Reduza ao mínimo a ingestão de derivados do leite e simplesmente evite qualquer alimento ultraprocessado. “Nem se dê ao trabalho de ler o rótulo, todos fazem mal”, ele ensina. Quanto ao jejum intermitente, afirma que os dados não corroboram que seja um aliado da longevidade, mas aconselha: “jante cedo e não coma mais nada depois da refeição até a hora de dormir”. Proteja seu bem-estar mental: cultive amizades e relações sociais prazerosas. Um método eficiente para manter o estresse sob controle é estar em contato com a natureza. Correndo com o Hora 1: Maria de Lourdes conta o segredo para a longevidade