PGR denuncia desembargador do Tribunal de Justiça de SP por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa
A defesa de Ivo de Almeida foi procurada pelo g1, mas não obteve resposta. Anteriormente, o advogado já havia afirmado que a investigação não tem fundamento e que Ivo é inocente. Desembargador Ivo de Almeida Reprodução/TJ-SP A Procuradoria-Geral da República (PGR) ofereceu denúncia ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra o desembargador Ivo de Almeida, do Tribunal de Justiça de São Paulo, pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, advocacia administrativa e associação criminosa. O filho dele, Ivo de Almeida Júnior, e outras três pessoas também foram acusadas formalmente por envolvimento no esquema ilegal de compra e venda de decisões judiciais desvendado em 2024 pela Operação Churrascada, da Polícia Federal. A denúncia preenche 147 páginas. Num dos tópicos, a PGR afirma que Ivo se valeu da condição de desembargador e dos acessos a bancos de dados restritos e a outros juízes para favorecer o ex-policial civil Marcos André de Almeida na Polícia Civil de Minas Gerais. Mensagens obtidas pela PF mostram que o ex-policial procurou Ivo de Almeida para obter informações sobre as pessoas que o acusavam de corrupção. A PGR diz que o desembargador chegou até a sugerir estratégias de defesa para o ex-policial. Nesta quarta-feira (18), o STJ deve pautar a renovação do afastamento de Ivo de Almeida. A defesa do desembargador foi procurada pelo g1, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem. Anteriormente, o advogado Átila Machado, que o representa, já havia afirmado que a investigação não tem fundamento e que Ivo é inocente. Troca de favores Segundo a PGR, em 2022, Ivo também patrocinou interesses privados do policial civil Rodrigo Alves de Oliveira Júnior e de um escrivão de polícia identificado como Adriano, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), e do delegado da Polícia Civil Reginaldo Ribeiro de Souza. "A conduta ilícita manifestou-se pela solicitação de favores que consubstanciaram interferências em decisões administrativas da Polícia Civil, visando interferir na remoção de um escrivão, na promoção de um investigador e na remoção administrativa de um Delegado de Polícia Civil", afirma a denúncia. Neste trecho, a denúncia cita conversas entre Ivo e o atual secretário-adjunto da Segurança Pública de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves. A PGR concluiu: "A intervenção do desembargador interferiu negativamente no regular funcionamento da administração da Polícia Civil do Estado de São Paulo, com subversão do interesse público. Indica-se, ademais, uma relação de troca de favores e de 'clientelismo judicial'”. O secretário não é acusado de nenhum crime. A TV Globo também o procurou, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. A PGR afirma ainda que o desembargador constituiu uma organização criminosa para cometer os crimes de lavagem de dinheiro e corrupção. Num dos casos, a Procuradoria diz que o desembargador solicitou R$ 65 mil para conceder um habeas corpus. Em outro episódio, ele é acusado de ter recebido R$ 100 mil para livrar Sérgio Armando Audi da cadeia. A denúncia da PGR assinala que, entre 2019 e 2022, Ivo de Almeida ocultou a movimentação financeira de R$ 182.440, valor que, segundo a acusação, veio do pagamento de propina. A investigação conseguiu rastrear 24 episódios de lavagem de dinheiro praticados pelo desembargador, sempre em dinheiro vivo, em valores fracionados, para enganar os órgãos de fiscalização e controle. A PGR afirma que Ivo de Almeida e o filho, Ivo de Almeida Júnior, usaram uma incorporadora para esconder a origem do dinheiro ilícito. "Para dissimular a propriedade e a origem dos valores movimentados pela pessoa jurídica, Ivo de Almeida valeu-se de seu filho Ivo de Almeida Junior, que figurou formalmente no quadro societário da empresa, ostentando cota social correspondente a R$ 225.000,00. Além disso, o filho do denunciado incorporou ao seu patrimônio um apartamento, especificamente a unidade 104, e uma vaga de garagem vinculados ao empreendimento. Trata-se de expressão patrimonial absolutamente incompatível com os rendimentos lícitos declarados de Ivo Junior, que não teria capacidade financeira para o investimento ou para as aquisições a ele relacionadas", escreveu a PGR. Em outro trecho, os procuradores dizem que "os rendimentos anuais de Ivo de Almeida Júnior variaram entre R$ 10.181,85 e R$ 31.639,16, entre os anos de 2016 e 2022. No entanto, suas despesas, apenas com uso de cartões de crédito, totalizam aproximadamente R$ 800.000,00 no mesmo período, excedendo significativamente suas receitas, que somaram pouco mais de R$ 100.000,00". O desembargador é formado em direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ele ingressou na magistratura em 1987 como juiz substituto em Bauru, interior paulista. O magistrado tomou posse como desembargador do TJ em 2013. Investigação da PF Desembargador de São Paulo é alvo da PF por suspeita de venda de sentenças A "Operação Churrascada" é um


A defesa de Ivo de Almeida foi procurada pelo g1, mas não obteve resposta. Anteriormente, o advogado já havia afirmado que a investigação não tem fundamento e que Ivo é inocente. Desembargador Ivo de Almeida Reprodução/TJ-SP A Procuradoria-Geral da República (PGR) ofereceu denúncia ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra o desembargador Ivo de Almeida, do Tribunal de Justiça de São Paulo, pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro, advocacia administrativa e associação criminosa. O filho dele, Ivo de Almeida Júnior, e outras três pessoas também foram acusadas formalmente por envolvimento no esquema ilegal de compra e venda de decisões judiciais desvendado em 2024 pela Operação Churrascada, da Polícia Federal. A denúncia preenche 147 páginas. Num dos tópicos, a PGR afirma que Ivo se valeu da condição de desembargador e dos acessos a bancos de dados restritos e a outros juízes para favorecer o ex-policial civil Marcos André de Almeida na Polícia Civil de Minas Gerais. Mensagens obtidas pela PF mostram que o ex-policial procurou Ivo de Almeida para obter informações sobre as pessoas que o acusavam de corrupção. A PGR diz que o desembargador chegou até a sugerir estratégias de defesa para o ex-policial. Nesta quarta-feira (18), o STJ deve pautar a renovação do afastamento de Ivo de Almeida. A defesa do desembargador foi procurada pelo g1, mas não obteve resposta até a última atualização desta reportagem. Anteriormente, o advogado Átila Machado, que o representa, já havia afirmado que a investigação não tem fundamento e que Ivo é inocente. Troca de favores Segundo a PGR, em 2022, Ivo também patrocinou interesses privados do policial civil Rodrigo Alves de Oliveira Júnior e de um escrivão de polícia identificado como Adriano, do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), e do delegado da Polícia Civil Reginaldo Ribeiro de Souza. "A conduta ilícita manifestou-se pela solicitação de favores que consubstanciaram interferências em decisões administrativas da Polícia Civil, visando interferir na remoção de um escrivão, na promoção de um investigador e na remoção administrativa de um Delegado de Polícia Civil", afirma a denúncia. Neste trecho, a denúncia cita conversas entre Ivo e o atual secretário-adjunto da Segurança Pública de São Paulo, Osvaldo Nico Gonçalves. A PGR concluiu: "A intervenção do desembargador interferiu negativamente no regular funcionamento da administração da Polícia Civil do Estado de São Paulo, com subversão do interesse público. Indica-se, ademais, uma relação de troca de favores e de 'clientelismo judicial'”. O secretário não é acusado de nenhum crime. A TV Globo também o procurou, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. A PGR afirma ainda que o desembargador constituiu uma organização criminosa para cometer os crimes de lavagem de dinheiro e corrupção. Num dos casos, a Procuradoria diz que o desembargador solicitou R$ 65 mil para conceder um habeas corpus. Em outro episódio, ele é acusado de ter recebido R$ 100 mil para livrar Sérgio Armando Audi da cadeia. A denúncia da PGR assinala que, entre 2019 e 2022, Ivo de Almeida ocultou a movimentação financeira de R$ 182.440, valor que, segundo a acusação, veio do pagamento de propina. A investigação conseguiu rastrear 24 episódios de lavagem de dinheiro praticados pelo desembargador, sempre em dinheiro vivo, em valores fracionados, para enganar os órgãos de fiscalização e controle. A PGR afirma que Ivo de Almeida e o filho, Ivo de Almeida Júnior, usaram uma incorporadora para esconder a origem do dinheiro ilícito. "Para dissimular a propriedade e a origem dos valores movimentados pela pessoa jurídica, Ivo de Almeida valeu-se de seu filho Ivo de Almeida Junior, que figurou formalmente no quadro societário da empresa, ostentando cota social correspondente a R$ 225.000,00. Além disso, o filho do denunciado incorporou ao seu patrimônio um apartamento, especificamente a unidade 104, e uma vaga de garagem vinculados ao empreendimento. Trata-se de expressão patrimonial absolutamente incompatível com os rendimentos lícitos declarados de Ivo Junior, que não teria capacidade financeira para o investimento ou para as aquisições a ele relacionadas", escreveu a PGR. Em outro trecho, os procuradores dizem que "os rendimentos anuais de Ivo de Almeida Júnior variaram entre R$ 10.181,85 e R$ 31.639,16, entre os anos de 2016 e 2022. No entanto, suas despesas, apenas com uso de cartões de crédito, totalizam aproximadamente R$ 800.000,00 no mesmo período, excedendo significativamente suas receitas, que somaram pouco mais de R$ 100.000,00". O desembargador é formado em direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Ele ingressou na magistratura em 1987 como juiz substituto em Bauru, interior paulista. O magistrado tomou posse como desembargador do TJ em 2013. Investigação da PF Desembargador de São Paulo é alvo da PF por suspeita de venda de sentenças A "Operação Churrascada" é uma investigação em trâmite no STJ e decorre da "Operação Contágio", feita em 2021 pela Polícia Federal em São Paulo, que desarticulou uma organização criminosa responsável pelo desvio de verba pública da área de saúde. O nome da operação remete ao termo “churrasco” utilizado pelos investigados para indicar o dia do plantão judiciário do magistrado. Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) TJ-SP