Por que líder supremo do Irã chefiará uma nação muito diferente quando sair do seu esconderijo
A guerra das últimas semanas enfraqueceu significativamente o Irã e seu líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Quem é o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã Depois de passar cerca de duas semanas em um bunker secreto em algum lugar do Irã, durante o conflito entre o seu país e Israel, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, pode querer usar a oportunidade do cessar-fogo para sair a público. Na quinta-feira (26/6), Khamenei fez seu primeiro pronunciamento em vídeo desde os ataques dos Estados Unidos ao seu país. Segundo ele, "nada de significativo" ocorreu nas instalações nucleares atacadas no início da semana. Khamenei tem 86 anos de idade e se tornou o líder supremo do seu país em 1989. Acredita-se que ele tenha ficado escondido e incomunicável, temendo ser assassinado por Israel. Aparentemente, nem mesmo as principais autoridades do governo iraniano vinham mantendo contato com ele. O líder teria sido aconselhado a ter cautela, apesar do frágil cessar-fogo negociado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e pelo emir do Catar, o xeque Tamim bin Hamad al-Thani. Trump teria supostamente instruído Israel a não matar o líder supremo do Irã, mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não descartou esta possibilidade. Quando – ou até se – o aiatolá Khamenei sair do seu esconderijo, ele vai encontrar um cenário de morte e destruição. Sem dúvida, ele tentará restaurar a sua imagem. Mas Khamenei também irá enfrentar novas realidades e até uma nova era. Afinal, a guerra enfraqueceu significativamente seu país e a ele próprio. Aiatolá Ali Khamenei tem 86 anos e se tornou o líder supremo do seu país em 1989 Reuters Rumores sobre dissidentes no alto comando Durante a guerra, Israel tomou rapidamente o controle de grande parte do espaço aéreo iraniano e atacou a infraestrutura militar do país. Altos comandantes do exército e da Guarda Revolucionária Iraniana foram mortos com rapidez. A extensão dos danos militares ainda é incerta e contestada. Mas os repetidos bombardeios às bases e instalações do exército e da Guarda Revolucionária sugerem que a degradação do poderio militar do Irã foi substancial. A militarização, há muito tempo, consome vasta parcela dos recursos da nação. As conhecidas instalações nucleares do Irã renderam ao país cerca de duas décadas de sanções americanas e internacionais, com custo estimado de centenas de bilhões de dólares. Agora, estas instalações foram danificadas pelos ataques aéreos. Mas ainda é difícil avaliar a extensão dos danos. E muitos perguntam de que serviu tudo isso. A guerra enfraqueceu significativamente o Irã Getty Images/BBC Um grande número de iranianos irá responsabilizar pessoalmente o aiatolá Khamenei por ter colocado o Irã em curso de colisão com Israel e os Estados Unidos, o que acabou arruinando seu país e seu povo de forma considerável. Eles irão culpar Khamenei por promover o objetivo ideológico de destruir Israel, algo que muitos iranianos não apoiam. E também irão culpá-lo pelo que eles entendem como insensatez – a sua crença de que atingir o poderio nuclear tornaria seu regime invencível. As sanções paralisaram a economia iraniana, reduzindo um dos principais exportadores de petróleo do mundo a uma pequena e abatida sombra do que era no passado. "É difícil estimar quanto tempo mais o regime iraniano pode sobreviver sujeito a uma pressão tão significativa, mas este parece o princípio do fim", afirma a professora Lina Khatib, acadêmica visitante da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Para ela, "Ali Khamenei provavelmente se tornará o último 'Líder Supremo' da República Islâmica, no pleno sentido da expressão." Grande número de iranianos irá responsabilizar o aiatolá Khamenei por ter colocado o Irã em curso de colisão com Israel e os Estados Unidos AFP/Getty Images/BBC E vêm surgindo rumores sobre dissidências no alto comando do país. No auge da guerra, uma agência de notícias semioficial do Irã informou que antigas figuras importantes do regime têm pedido a intervenção dos acadêmicos religiosos mais discretos do país, tentando mudar sua liderança. Estes acadêmicos são independentes do aiatolá e ficam na cidade sagrada de Qom. "Haverá uma apuração", segundo o professor Ali Ansari, fundador e diretor do Instituto de Estudos Iranianos da Universidade de St. Andrews, no Reino Unido. "Fica muito claro que existem enormes discordâncias entre os líderes e também imensa insatisfação entre as pessoas comuns", afirma ele. 'A raiva e a frustração irão aumentar' Nas últimas semanas, muitos iranianos enfrentaram sentimentos conflitantes entre a necessidade de defender o Irã e seu profundo rancor sobre o regime. Eles se manifestaram a favor do seu país e saíram às ruas, não para defender o regime, mas para cuidar uns dos outros. Os relatos são de ampla solidariedade e proximidade. As pessoas nas aldeias e cidades menores, longe das grandes áreas urbanas, abriram as portas para os que fugiam dos bombardeios nas grandes cidades. Comercian


A guerra das últimas semanas enfraqueceu significativamente o Irã e seu líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. Quem é o aiatolá Ali Khamenei, líder supremo do Irã Depois de passar cerca de duas semanas em um bunker secreto em algum lugar do Irã, durante o conflito entre o seu país e Israel, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, pode querer usar a oportunidade do cessar-fogo para sair a público. Na quinta-feira (26/6), Khamenei fez seu primeiro pronunciamento em vídeo desde os ataques dos Estados Unidos ao seu país. Segundo ele, "nada de significativo" ocorreu nas instalações nucleares atacadas no início da semana. Khamenei tem 86 anos de idade e se tornou o líder supremo do seu país em 1989. Acredita-se que ele tenha ficado escondido e incomunicável, temendo ser assassinado por Israel. Aparentemente, nem mesmo as principais autoridades do governo iraniano vinham mantendo contato com ele. O líder teria sido aconselhado a ter cautela, apesar do frágil cessar-fogo negociado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e pelo emir do Catar, o xeque Tamim bin Hamad al-Thani. Trump teria supostamente instruído Israel a não matar o líder supremo do Irã, mas o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, não descartou esta possibilidade. Quando – ou até se – o aiatolá Khamenei sair do seu esconderijo, ele vai encontrar um cenário de morte e destruição. Sem dúvida, ele tentará restaurar a sua imagem. Mas Khamenei também irá enfrentar novas realidades e até uma nova era. Afinal, a guerra enfraqueceu significativamente seu país e a ele próprio. Aiatolá Ali Khamenei tem 86 anos e se tornou o líder supremo do seu país em 1989 Reuters Rumores sobre dissidentes no alto comando Durante a guerra, Israel tomou rapidamente o controle de grande parte do espaço aéreo iraniano e atacou a infraestrutura militar do país. Altos comandantes do exército e da Guarda Revolucionária Iraniana foram mortos com rapidez. A extensão dos danos militares ainda é incerta e contestada. Mas os repetidos bombardeios às bases e instalações do exército e da Guarda Revolucionária sugerem que a degradação do poderio militar do Irã foi substancial. A militarização, há muito tempo, consome vasta parcela dos recursos da nação. As conhecidas instalações nucleares do Irã renderam ao país cerca de duas décadas de sanções americanas e internacionais, com custo estimado de centenas de bilhões de dólares. Agora, estas instalações foram danificadas pelos ataques aéreos. Mas ainda é difícil avaliar a extensão dos danos. E muitos perguntam de que serviu tudo isso. A guerra enfraqueceu significativamente o Irã Getty Images/BBC Um grande número de iranianos irá responsabilizar pessoalmente o aiatolá Khamenei por ter colocado o Irã em curso de colisão com Israel e os Estados Unidos, o que acabou arruinando seu país e seu povo de forma considerável. Eles irão culpar Khamenei por promover o objetivo ideológico de destruir Israel, algo que muitos iranianos não apoiam. E também irão culpá-lo pelo que eles entendem como insensatez – a sua crença de que atingir o poderio nuclear tornaria seu regime invencível. As sanções paralisaram a economia iraniana, reduzindo um dos principais exportadores de petróleo do mundo a uma pequena e abatida sombra do que era no passado. "É difícil estimar quanto tempo mais o regime iraniano pode sobreviver sujeito a uma pressão tão significativa, mas este parece o princípio do fim", afirma a professora Lina Khatib, acadêmica visitante da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Para ela, "Ali Khamenei provavelmente se tornará o último 'Líder Supremo' da República Islâmica, no pleno sentido da expressão." Grande número de iranianos irá responsabilizar o aiatolá Khamenei por ter colocado o Irã em curso de colisão com Israel e os Estados Unidos AFP/Getty Images/BBC E vêm surgindo rumores sobre dissidências no alto comando do país. No auge da guerra, uma agência de notícias semioficial do Irã informou que antigas figuras importantes do regime têm pedido a intervenção dos acadêmicos religiosos mais discretos do país, tentando mudar sua liderança. Estes acadêmicos são independentes do aiatolá e ficam na cidade sagrada de Qom. "Haverá uma apuração", segundo o professor Ali Ansari, fundador e diretor do Instituto de Estudos Iranianos da Universidade de St. Andrews, no Reino Unido. "Fica muito claro que existem enormes discordâncias entre os líderes e também imensa insatisfação entre as pessoas comuns", afirma ele. 'A raiva e a frustração irão aumentar' Nas últimas semanas, muitos iranianos enfrentaram sentimentos conflitantes entre a necessidade de defender o Irã e seu profundo rancor sobre o regime. Eles se manifestaram a favor do seu país e saíram às ruas, não para defender o regime, mas para cuidar uns dos outros. Os relatos são de ampla solidariedade e proximidade. As pessoas nas aldeias e cidades menores, longe das grandes áreas urbanas, abriram as portas para os que fugiam dos bombardeios nas grandes cidades. Comerciantes ofereciam produtos básicos com desconto e vizinhos batiam à porta uns dos outros para ver se eles precisavam de alguma coisa. Mas muitas pessoas também sabiam que Israel provavelmente buscava uma mudança de regime no Irã. Muitos iranianos desejam a mudança do regime. Mas eles talvez rejeitem uma mudança engendrada e imposta por potências estrangeiras. O aiatolá Khamenei é um dos autocratas há mais tempo no poder em todo o mundo. E, nos seus quase 40 anos de liderança, ele dizimou a oposição do país. Os líderes políticos oposicionistas ou estão na prisão, ou fugiram do Irã. E, no exterior, eles foram incapazes de elaborar um posicionamento que unificasse a oposição ao regime iraniano. Os oposicionistas não conseguiram estabelecer nenhum tipo de organização que pudesse ser capaz de assumir o poder no país, se surgisse a ocasião. O colapso do regime poderia ter sido uma possibilidade, se a guerra das últimas duas semanas permanecesse indefinidamente. Mas, durante as duas semanas de conflito, muitos acreditaram que o cenário provável para o dia seguinte à queda do regime atual não seria a tomada do poder pela oposição, mas sim a entrada do país no caos e na anarquia. "É improvável que a oposição doméstica derrube o regime iraniano", segundo Khatib. "O regime segue forte internamente e irá reforçar a opressão para esmagar os dissidentes." Os iranianos, agora, receiam que o regime aumente a repressão. Pelo menos seis pessoas foram executadas nas últimas semanas, desde o início da guerra contra Israel. Elas foram acusadas de espionagem para o Estado judaico. E as autoridades afirmam terem detido cerca de 700 pessoas sob a mesma acusação. Uma mulher iraniana declarou ao Serviço Persa da BBC que, mais do que a morte e a destruição causadas pela guerra, o seu receio é que um regime ferido e humilhado dirija sua raiva contra seu próprio povo. "Se o regime for incapaz de fornecer mercadorias e serviços básicos, a raiva e a frustração irão aumentar", segundo Ansari. "Vejo um processo em etapas. Não vejo como algo que, no sentido popular, irá necessariamente se enraizar por muito tempo após o término dos bombardeios." Poucas pessoas no Irã acreditam que o cessar-fogo negociado na segunda-feira (23/6) vá durar muito tempo. Muitos acreditam que Israel ainda não tenha encerrado seus ataques, agora que o país detém total superioridade nos céus do Irã. Mísseis balísticos do Irã Grande parte das bases balísticas do Irã parecem ter escapado da destruição. Israel teve muita dificuldade para localizá-las, já que estão instaladas em túneis dentro de montanhas por todo o país. O chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, Eyal Zamir, declarou que, quando seu país lançou seu primeiro ataque à República Islâmica, sabia-se que "o Irã possuía cerca de 2,5 mil mísseis de superfície". Os mísseis disparados pelo Irã causaram mortes e considerável destruição em Israel. O Estado judaico deve estar preocupado com os 1,5 mil mísseis possivelmente restantes, ainda nas mãos do lado iraniano. Existem também sérias preocupações em Tel Aviv, Washington e outras capitais da região e do Ocidente, de que o Irã ainda possa correr para construir uma bomba nuclear – um objetivo que o país sempre negou até agora. As instalações nucleares iranianas, com quase toda certeza, foram danificadas – ou, possivelmente, inutilizadas – durante os bombardeios de Israel e dos Estados Unidos. O Irã, no entanto, afirma ter transferido seu estoque de urânio altamente enriquecido para um lugar secreto e seguro. Este estoque de urânio a 60%, se for enriquecido até 90% (o que é um processo relativamente fácil), é suficiente para produzir cerca de nove bombas, segundo os especialistas. Pouco antes do início da guerra, o Irã havia anunciado a construção de uma nova instalação secreta de enriquecimento de urânio, que deveria entrar em operação em breve. O Parlamento iraniano decidiu reduzir severamente sua cooperação com o órgão regulador atômico das Nações Unidas, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Esta medida ainda requer aprovação, mas, se entrar em vigor, deixará o país a um passo da sua retirada do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, como propõem as autoridades linha-dura que apoiam o líder supremo, liberando o Irã para construir a bomba. O aiatolá Khamenei pode, agora, ter a confiança de que seu regime sobreviveu. Mas, doente e com 86 anos de idade, ele também sabe que seus dias de vida podem estar contados. Por isso, talvez ele deseje garantir a continuidade do regime com uma transição de poder pacífica, para outro religioso sênior ou, até mesmo, um conselho de líderes. De qualquer forma, os principais comandantes remanescentes da Guarda Revolucionária Iraniana, leais ao líder supremo, podem buscar exercer o poder nos bastidores.