Por que o Brasil enviou batata-doce e grão-de-bico para o espaço com a Katy Perry?
Estudo quer tornar o plantio de alimentos possível fora do planeta. Aisha Bowe, ex-engenheira de foguetes da Nasa e integrante da tripulação, conduziu experimento. Sementes brasileiras vão para o espaço Quais são os efeitos da falta de gravidade em uma planta? Responder essa pergunta foi uma das motivações para cientistas brasileiros enviarem uma muda de batata-doce e sementes de grão-de-bico na viagem espacial da nave New Shepard, da Blue Origin, com a cantora Katy Perry, no último dia 14. Os dois alimentos fazem parte de um estudo que quer tornar possível o plantio fora do planeta, desenvolvido pela Rede Space Farming Brazil, uma parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Agência Espacial Brasileira (AEB), que reúne diversas instituições brasileiras. A viagem dura apenas cerca de 10 minutos, mas pode mudar a estrutura da planta. Até os genes podem ser afetados. Isso acontece por causa do intenso estresse gerado ao deixar o cultivo em um ambiente sem gravidade, explica uma das pesquisadoras da Embrapa que participa do projeto, Larissa Vendrame. Entenda abaixo. Por que plantar no espaço? O estudo do cultivo de plantas fora do planeta é fundamental para a exploração espacial, explica Vendrame. A pesquisa vai ajudar a desenvolver variedades dos alimentos que aguentem situações mais extremas, como de baixa disponibilidade de água e nutrientes. Isto é útil também para o cultivo na Terra, considerando o cenário de mudanças climáticas, que já prejudica o plantio de diversos produtos. Os cientistas estão selecionando as espécies com maior potencial de sucesso. A batata-doce e o grão-de-bico foram os escolhidos porque crescem rápido, são fáceis de cuidar e se adaptam bem. Além disso, podem ser 100% aproveitados. Por exemplo, as folhas e a raiz da batata-doce podem ser consumidas. Já o grão-de-bico é rico em proteínas. Por enquanto, apenas as duas espécies são estudadas, aponta a pesquisadora. As pesquisadoras Sarita Meireles e Larissa Vendrame analisam a muda de batata-doce antes de ser enviada ao espaço. Divulgação / Embrapa Leia também: VÍDEO: Veja Katy e a tripulação feminina flutuando no espaço VÍDEOS mostram momento a momento do voo O que muda na planta? A participação brasileira no voo ocorreu por um convite da instituição da Winston-Salem State University (WSSU), da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Quem conduziu os experimentos com as espécies brasileiras foi uma das seis integrantes da tripulação: Aisha Bowe, ex-cientista de foguetes da Nasa e engenheira aeroespacial. Os alimentos foram enviados para o Texas (EUA), estado onde aconteceu o lançamento, e ainda não retornaram ao Brasil, para análise. Para preservar os efeitos de qualquer alteração provocada, os pesquisadores aplicaram uma solução que fixa o estado da planta como ela estava no momento em que voltou do espaço. Além disso, clones foram deixados na Terra para que os pesquisadores possam comparar os efeitos. Apesar de não haver resultados deste lançamento, em 2024, uma pesquisa similar foi publicada. Nela, a flor Arabidopsis thaliana, da família da mostarda, foi enviada nas mesmas condições, explica Vendrame. O estudo constatou a alteração de 6 genes que regulam as funções biológicas da planta, ligadas à resposta ao estresse e ao metabolismo. "Imagina a microgravidade, que é praticamente a gravidade zero. Ela é uma condição de estresse para a planta. Ela vai pensar 'gente, para onde eu vou crescer agora?' Porque ela sabe que tem que desenvolver as raízes no sentido do solo", explica a pesquisadora. O estudo não depende unicamente de oportunidades para ir ao espaço. Aqui na Terra, os cientistas conseguem colocar as plantas em ambientes que simulam a gravidade e a radiação espacial. Grão-de-bico brasileiro viajou ao espaço em nave da Blue Origin junto com Katy Perry e tripulação feminina Reprodução/Blue Origin e Rogério Monteiro/Embrapa Rede espacial brasileira A participação da Rede Espacial Brasileira no Programa Artemis, da Nasa, que reúne projetos de colaboração internacional, teve início em 2023. Atualmente, 56 pesquisadores de 22 instituições brasileiras participam da iniciativa. Os estudos querem garantir a produção de alimentos em condições de elevada radiação, baixa gravidade e ausência de solo, com o desenvolvimento de novas variedades adaptadas. Como foi a viagem


Estudo quer tornar o plantio de alimentos possível fora do planeta. Aisha Bowe, ex-engenheira de foguetes da Nasa e integrante da tripulação, conduziu experimento. Sementes brasileiras vão para o espaço Quais são os efeitos da falta de gravidade em uma planta? Responder essa pergunta foi uma das motivações para cientistas brasileiros enviarem uma muda de batata-doce e sementes de grão-de-bico na viagem espacial da nave New Shepard, da Blue Origin, com a cantora Katy Perry, no último dia 14. Os dois alimentos fazem parte de um estudo que quer tornar possível o plantio fora do planeta, desenvolvido pela Rede Space Farming Brazil, uma parceria entre a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Agência Espacial Brasileira (AEB), que reúne diversas instituições brasileiras. A viagem dura apenas cerca de 10 minutos, mas pode mudar a estrutura da planta. Até os genes podem ser afetados. Isso acontece por causa do intenso estresse gerado ao deixar o cultivo em um ambiente sem gravidade, explica uma das pesquisadoras da Embrapa que participa do projeto, Larissa Vendrame. Entenda abaixo. Por que plantar no espaço? O estudo do cultivo de plantas fora do planeta é fundamental para a exploração espacial, explica Vendrame. A pesquisa vai ajudar a desenvolver variedades dos alimentos que aguentem situações mais extremas, como de baixa disponibilidade de água e nutrientes. Isto é útil também para o cultivo na Terra, considerando o cenário de mudanças climáticas, que já prejudica o plantio de diversos produtos. Os cientistas estão selecionando as espécies com maior potencial de sucesso. A batata-doce e o grão-de-bico foram os escolhidos porque crescem rápido, são fáceis de cuidar e se adaptam bem. Além disso, podem ser 100% aproveitados. Por exemplo, as folhas e a raiz da batata-doce podem ser consumidas. Já o grão-de-bico é rico em proteínas. Por enquanto, apenas as duas espécies são estudadas, aponta a pesquisadora. As pesquisadoras Sarita Meireles e Larissa Vendrame analisam a muda de batata-doce antes de ser enviada ao espaço. Divulgação / Embrapa Leia também: VÍDEO: Veja Katy e a tripulação feminina flutuando no espaço VÍDEOS mostram momento a momento do voo O que muda na planta? A participação brasileira no voo ocorreu por um convite da instituição da Winston-Salem State University (WSSU), da Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Quem conduziu os experimentos com as espécies brasileiras foi uma das seis integrantes da tripulação: Aisha Bowe, ex-cientista de foguetes da Nasa e engenheira aeroespacial. Os alimentos foram enviados para o Texas (EUA), estado onde aconteceu o lançamento, e ainda não retornaram ao Brasil, para análise. Para preservar os efeitos de qualquer alteração provocada, os pesquisadores aplicaram uma solução que fixa o estado da planta como ela estava no momento em que voltou do espaço. Além disso, clones foram deixados na Terra para que os pesquisadores possam comparar os efeitos. Apesar de não haver resultados deste lançamento, em 2024, uma pesquisa similar foi publicada. Nela, a flor Arabidopsis thaliana, da família da mostarda, foi enviada nas mesmas condições, explica Vendrame. O estudo constatou a alteração de 6 genes que regulam as funções biológicas da planta, ligadas à resposta ao estresse e ao metabolismo. "Imagina a microgravidade, que é praticamente a gravidade zero. Ela é uma condição de estresse para a planta. Ela vai pensar 'gente, para onde eu vou crescer agora?' Porque ela sabe que tem que desenvolver as raízes no sentido do solo", explica a pesquisadora. O estudo não depende unicamente de oportunidades para ir ao espaço. Aqui na Terra, os cientistas conseguem colocar as plantas em ambientes que simulam a gravidade e a radiação espacial. Grão-de-bico brasileiro viajou ao espaço em nave da Blue Origin junto com Katy Perry e tripulação feminina Reprodução/Blue Origin e Rogério Monteiro/Embrapa Rede espacial brasileira A participação da Rede Espacial Brasileira no Programa Artemis, da Nasa, que reúne projetos de colaboração internacional, teve início em 2023. Atualmente, 56 pesquisadores de 22 instituições brasileiras participam da iniciativa. Os estudos querem garantir a produção de alimentos em condições de elevada radiação, baixa gravidade e ausência de solo, com o desenvolvimento de novas variedades adaptadas. Como foi a viagem