Propostas sedutoras, tortura e morte: como funciona esquema que alicia brasileiros para tráfico humano no Sudeste Asiático
Edição de 07/10/2025 O Profissão Repórter desta terça-feira (7) revelou como funciona uma rede internacional de recrutadores que alicia brasileiros para tráfico humano no Sudeste Asiático. As vítimas relatam que foram atraídas por propostas de emprego com promessas de salário em dólar, moradia e alimentação pagas. Ao chegarem ao destino, descobriram que o trabalho consistia em aplicar golpes e acabaram submetidos a tortura, prisão e morte para participar do esquema. Saiba mais abaixo. 'Armaram para ela' A filha de Miriam está presa no Camboja. A mãe conta que Daniela foi contratada para trabalhar com telemarketing, mas ao chegar ao país, descobriu que o trabalho envolvia aplicar golpes online. Ela teria se recusado a participar e, por isso, foi demitida e obrigada a pagar uma multa de US$ 4 mil. A família diz ter enviado o dinheiro, mas Daniela foi presa sob alegação de porte de drogas. "Eles armaram para ela. Colocaram droga no banheiro e já foram prenderam ela. Ela foi presa com a roupa do corpo. Sem dinheiro, sem banho, dormindo no chão", afirma Miriam Oliveira, mãe de Daniela. Daniela mantém contato com a família por meio do celular de uma agente penitenciária, mediante pagamento. Foi dessa forma que ela conversou com a reportagem. "Eu como se eu pago. Tem que pagar. Se você não tem dinheiro, você é tratado como ninguém aqui", relatou. Daniela também compartilhou uma foto dela na cela (veja na imagem abaixo). Daniela compartilhou foto dela presa na Camboja Reprodução/TV Globo Meses de angústia Luckas Viana também teria sido vítima da rede. Ele recebeu uma proposta para trabalhar nas Filipinas, mas acabou sendo levado para Mianmar, onde ficou preso por quatro meses em uma estrutura conhecida como KK Park, uma “fábrica de golpes” que atua internacionalmente. Após quatro meses de angústia, ele conseguiu escapar e foi repatriado ao Brasil. A reportagem conversou com ele ainda no aeroporto, logo após sua chegada. “Eles bateram na gente no último dia. Ficávamos 17 horas presos com os braços abertos parados, depois sentados por mais cinco, oito horas”, contou Luckas. Luckas reencontrou a mãe após ser repatriado Reprodução/TV Globo Morte sob suspeita Gabriel Oliveira, outro jovem brasileiro, foi levado ao Camboja após aceitar uma proposta de trabalho na Tailândia. O último contato com a família foi em 4 de julho. Dias depois, os pais receberam um certificado de óbito com poucas informações, apontando “acidente” como causa da morte. "A madrinha dele, que é minha irmã, alertou, mostrou alguns vídeos para ele, de alguns casos. Nossos familiares também conversou, mas ele estava focado de ir mesmo. Ele teve uma proposta de um bom salário, acho que foi em torno de 3 ou 5 mil dólares", afirma Lenier de Oliveira, mãe do Gabirel. Há quatro meses, a família tenta a repatriação do corpo de Gabriel. "O nosso desejo é conseguir essa repatriação para a gente poder seguir nossa vida em paz, porque nós estamos com três meses de luta para conseguir trazê-lo e fazer essa passagem de forma digna". Jovem brasileiro morreu de modo misterioso poucos meses depois chegar no Camboja Reprodução/TV Globo Rede de recrutadores brasileiros Rodrigo Machado é apontado por diversas vítimas ouvidas pela reportagem de ser um dos principais aliciadores: “Ele [Rodrigo] ganhava US$ 4 mil por cada pessoa que chegava”, disse uma das vítimas. Vídeos nas redes sociais mostram Rodrigo recepcionando brasileiros no aeroporto nas Filipinas. A reportagem acompanhou a chegada de Rodrigo ao Brasil. "No caso, os brasileiros que eu chamei no começo, tiveram opção e saíram. Foram rápidos. Dá para contar no dedo e era uma empresa normal. Não sou nenhum recrutador, quero deixar isso bem claro", afirmou Rodrigo. Rodrigo afirma que era secretário de Fabiana. Após rompimento entre os dois, ela publicou acusações contra ele: “Você fala de tráfico humano. Tu é um traficante, cara”, disse Fabiana em vídeo. Vídeos nas redes sociais mostram Rodrigo recepcionando brasileiros no aeroporto Reprodução/TV Globo O que diz a lei A legislação brasileira define os elementos que configuram crime de tráfico de pessoas. São ações como recrutar, aliciar, transportar, alojar ou comprar pessoas. Isso pode ser feito com ameaça, abuso ou alguma fraude. O objetivo do tráfico pode ser desde a remoção de órgãos, a exploração sexual, adoção ilegal, a submissão a trabalho análogo ao de escravo e a qualquer tipo de servidão. “Você recebeu uma proposta, essa proposta é enganosa. Muitas das vezes, tem a sua transferência ou não para um local. Você chegou lá, você é coagido, enganado, não pode sair, tráfico de pessoas”, explica Cíntia Meirelles, diretora da ONG The Exodus Road Brasil, que oferece ajuda a brasileiros vítimas de tráfico humano. O Ministério das Relações Exteriores afirma que a Embaixada do Brasil em Bangkok tem conhecimento dos casos citados e vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando assistência consular cabível. A nota diz ainda que em 2024


Edição de 07/10/2025 O Profissão Repórter desta terça-feira (7) revelou como funciona uma rede internacional de recrutadores que alicia brasileiros para tráfico humano no Sudeste Asiático. As vítimas relatam que foram atraídas por propostas de emprego com promessas de salário em dólar, moradia e alimentação pagas. Ao chegarem ao destino, descobriram que o trabalho consistia em aplicar golpes e acabaram submetidos a tortura, prisão e morte para participar do esquema. Saiba mais abaixo. 'Armaram para ela' A filha de Miriam está presa no Camboja. A mãe conta que Daniela foi contratada para trabalhar com telemarketing, mas ao chegar ao país, descobriu que o trabalho envolvia aplicar golpes online. Ela teria se recusado a participar e, por isso, foi demitida e obrigada a pagar uma multa de US$ 4 mil. A família diz ter enviado o dinheiro, mas Daniela foi presa sob alegação de porte de drogas. "Eles armaram para ela. Colocaram droga no banheiro e já foram prenderam ela. Ela foi presa com a roupa do corpo. Sem dinheiro, sem banho, dormindo no chão", afirma Miriam Oliveira, mãe de Daniela. Daniela mantém contato com a família por meio do celular de uma agente penitenciária, mediante pagamento. Foi dessa forma que ela conversou com a reportagem. "Eu como se eu pago. Tem que pagar. Se você não tem dinheiro, você é tratado como ninguém aqui", relatou. Daniela também compartilhou uma foto dela na cela (veja na imagem abaixo). Daniela compartilhou foto dela presa na Camboja Reprodução/TV Globo Meses de angústia Luckas Viana também teria sido vítima da rede. Ele recebeu uma proposta para trabalhar nas Filipinas, mas acabou sendo levado para Mianmar, onde ficou preso por quatro meses em uma estrutura conhecida como KK Park, uma “fábrica de golpes” que atua internacionalmente. Após quatro meses de angústia, ele conseguiu escapar e foi repatriado ao Brasil. A reportagem conversou com ele ainda no aeroporto, logo após sua chegada. “Eles bateram na gente no último dia. Ficávamos 17 horas presos com os braços abertos parados, depois sentados por mais cinco, oito horas”, contou Luckas. Luckas reencontrou a mãe após ser repatriado Reprodução/TV Globo Morte sob suspeita Gabriel Oliveira, outro jovem brasileiro, foi levado ao Camboja após aceitar uma proposta de trabalho na Tailândia. O último contato com a família foi em 4 de julho. Dias depois, os pais receberam um certificado de óbito com poucas informações, apontando “acidente” como causa da morte. "A madrinha dele, que é minha irmã, alertou, mostrou alguns vídeos para ele, de alguns casos. Nossos familiares também conversou, mas ele estava focado de ir mesmo. Ele teve uma proposta de um bom salário, acho que foi em torno de 3 ou 5 mil dólares", afirma Lenier de Oliveira, mãe do Gabirel. Há quatro meses, a família tenta a repatriação do corpo de Gabriel. "O nosso desejo é conseguir essa repatriação para a gente poder seguir nossa vida em paz, porque nós estamos com três meses de luta para conseguir trazê-lo e fazer essa passagem de forma digna". Jovem brasileiro morreu de modo misterioso poucos meses depois chegar no Camboja Reprodução/TV Globo Rede de recrutadores brasileiros Rodrigo Machado é apontado por diversas vítimas ouvidas pela reportagem de ser um dos principais aliciadores: “Ele [Rodrigo] ganhava US$ 4 mil por cada pessoa que chegava”, disse uma das vítimas. Vídeos nas redes sociais mostram Rodrigo recepcionando brasileiros no aeroporto nas Filipinas. A reportagem acompanhou a chegada de Rodrigo ao Brasil. "No caso, os brasileiros que eu chamei no começo, tiveram opção e saíram. Foram rápidos. Dá para contar no dedo e era uma empresa normal. Não sou nenhum recrutador, quero deixar isso bem claro", afirmou Rodrigo. Rodrigo afirma que era secretário de Fabiana. Após rompimento entre os dois, ela publicou acusações contra ele: “Você fala de tráfico humano. Tu é um traficante, cara”, disse Fabiana em vídeo. Vídeos nas redes sociais mostram Rodrigo recepcionando brasileiros no aeroporto Reprodução/TV Globo O que diz a lei A legislação brasileira define os elementos que configuram crime de tráfico de pessoas. São ações como recrutar, aliciar, transportar, alojar ou comprar pessoas. Isso pode ser feito com ameaça, abuso ou alguma fraude. O objetivo do tráfico pode ser desde a remoção de órgãos, a exploração sexual, adoção ilegal, a submissão a trabalho análogo ao de escravo e a qualquer tipo de servidão. “Você recebeu uma proposta, essa proposta é enganosa. Muitas das vezes, tem a sua transferência ou não para um local. Você chegou lá, você é coagido, enganado, não pode sair, tráfico de pessoas”, explica Cíntia Meirelles, diretora da ONG The Exodus Road Brasil, que oferece ajuda a brasileiros vítimas de tráfico humano. O Ministério das Relações Exteriores afirma que a Embaixada do Brasil em Bangkok tem conhecimento dos casos citados e vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando assistência consular cabível. A nota diz ainda que em 2024 foi prestada assistência a 63 brasileiros em situação de tráfico de pessoas, dos quais 41 no Sudeste Asiático. Sobre o traslado de restos mortais de brasileiros falecidos no exterior, a nota diz que um novo decreto sobre as normas está em fase de regulamentação e que as famílias são orientadas sobre o traslado das cinzas, uma alternativa menos onerosa. Propostas sedutoras, tortura e morte: como funciona esquema que alicia brasileiros para tráfico humano no Sudeste Asiático Reprodução/TV Globo Confira as últimas reportagens do Profissão Repórter: