Relatório aponta que países da América Latina e Caribe ainda não conseguiram retomar o ritmo de desenvolvimento pré-pandemia

Levantamento do PNUD indica que mudanças climáticas, transformação tecnológica e aumento da fragmentação social são fatores que aumentam incertezas na região O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgou nesta quarta-feira (11/06) o relatório Sob Pressão: Recalibrando o futuro do Desenvolvimento na América Latina e Caribe que mostra que a região tem avançado nas últimas décadas, porém ainda não recuperou o ritmo de progresso anterior à pandemia. De acordo com o levantamento, nas últimas décadas, os países dessa região reduziram a taxa de pobreza pela metade, mas uma em cada quatro pessoas ainda vive em situação de pobreza. Um dos motivos que levam para essa perpetuação é que os países da América Latina e Caribe ainda não conseguiram consolidar uma classe média estável. "31% da população [na América Latina e Caribe] é categorizada como vulnerável, ficando imediatamente acima da linha de pobreza, com acesso limitado a ativos que possam servir de protetores quando crises surgem. Esse grupo permanece em risco de voltar à pobreza", aponta o relatório. Segundo a pesquisa, três fatores são responsáveis para aumentar as crises e incertezas nos países da América Latina: a rápida transformação tecnológica que se expande de forma desigual; o aumento da fragmentação social que gera desconfiança dos cidadãos às instituições e dificulta a resolução de desafios; e mudanças climáticas intensas. Como forma de guiar os países, o PNUD sugere que os governos e instituições criem mecanismos para a adaptação a crises e rápida resposta às mudanças. “A América Latina e o Caribe têm demonstrado repetidamente sua capacidade de resistir à adversidade. As pressões que enfrentamos — sejam climáticas, econômicas ou sociais — podem se tornar o ponto de partida para um novo modelo de desenvolvimento. Investir em resiliência hoje significa proteger os ganhos de desenvolvimento e garantir dignidade e segurança para todas as pessoas, especialmente as mais vulneráveis”, explicou Michelle Muschett, Diretora Regional do PNUD para a América Latina e o Caribe. Transformação digital De acordo com o relatório, os países da América Latina e Caribe conseguiram expandir as infraestruturas digitais de uma forma desequilibrada. Apenas 2% das pessoas que vivem nessa região têm acesso a rede 5G. Nas economias consideradas mais "avançadas" esse percentual é de 28%. Outro apontamento é que, de um lado, as plataformas digitais foram responsáveis pela expansão do acesso à informação, por outro, contribuíram para o crescimento da fragmentação social que prejudica a saúde mental e a coesão social. ➡️ Os países da América Latina e Caribe são os que mais usam redes sociais no mundo, com média diária de 3 horas e 32 minutos, segundo o relatório. A pesquisa alerta para a disseminação de desinformação por meio das plataformas digitais e os prejuízos que traz de diminuição da confiança e distorção de discursos públicos. "Os grupos sociais estão cada vez mais afastados e isso se combina com um aumento da polarização política, o que dificulta chegar a consensos para os governos conseguirem governar para todos", comentou Almudena Fernandez, Economista-chefe para a América Latina e o Caribe do PNUD. Mudanças climáticas As mudanças climáticas chamam atenção do PNUD, porque os eventos climáticos extremos, como enxurradas ou secas severas, tornam-se mais frequentes e os impactos mais intensos ao longo dos próximos anos. A pesquisa indica que há uma estimativa de que 31% da população dos países da América Latina e Caribe está exposta aos riscos de perigos climáticos extremos. O relatório também adverte para o aumento da temperatura média na região que pode ter sido responsável pela perda de renda de US$ 1,78 bi em 2022 relacionados a redução da produtividade do trabalho devido ao calor. Por outro lado, mostra que, mesmo o assunto sendo importante, os cidadãos ainda não o consideram como prioritário. "Estudos realizados na última década indicam consistentemente que a maioria das pessoas dá prioridade ao crescimento econômico em detrimento da proteção ambiental", diz o estudo.

Jun 11, 2025 - 15:30
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Relatório aponta que países da América Latina e Caribe ainda não conseguiram retomar o ritmo de desenvolvimento pré-pandemia
Levantamento do PNUD indica que mudanças climáticas, transformação tecnológica e aumento da fragmentação social são fatores que aumentam incertezas na região O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgou nesta quarta-feira (11/06) o relatório Sob Pressão: Recalibrando o futuro do Desenvolvimento na América Latina e Caribe que mostra que a região tem avançado nas últimas décadas, porém ainda não recuperou o ritmo de progresso anterior à pandemia. De acordo com o levantamento, nas últimas décadas, os países dessa região reduziram a taxa de pobreza pela metade, mas uma em cada quatro pessoas ainda vive em situação de pobreza. Um dos motivos que levam para essa perpetuação é que os países da América Latina e Caribe ainda não conseguiram consolidar uma classe média estável. "31% da população [na América Latina e Caribe] é categorizada como vulnerável, ficando imediatamente acima da linha de pobreza, com acesso limitado a ativos que possam servir de protetores quando crises surgem. Esse grupo permanece em risco de voltar à pobreza", aponta o relatório. Segundo a pesquisa, três fatores são responsáveis para aumentar as crises e incertezas nos países da América Latina: a rápida transformação tecnológica que se expande de forma desigual; o aumento da fragmentação social que gera desconfiança dos cidadãos às instituições e dificulta a resolução de desafios; e mudanças climáticas intensas. Como forma de guiar os países, o PNUD sugere que os governos e instituições criem mecanismos para a adaptação a crises e rápida resposta às mudanças. “A América Latina e o Caribe têm demonstrado repetidamente sua capacidade de resistir à adversidade. As pressões que enfrentamos — sejam climáticas, econômicas ou sociais — podem se tornar o ponto de partida para um novo modelo de desenvolvimento. Investir em resiliência hoje significa proteger os ganhos de desenvolvimento e garantir dignidade e segurança para todas as pessoas, especialmente as mais vulneráveis”, explicou Michelle Muschett, Diretora Regional do PNUD para a América Latina e o Caribe. Transformação digital De acordo com o relatório, os países da América Latina e Caribe conseguiram expandir as infraestruturas digitais de uma forma desequilibrada. Apenas 2% das pessoas que vivem nessa região têm acesso a rede 5G. Nas economias consideradas mais "avançadas" esse percentual é de 28%. Outro apontamento é que, de um lado, as plataformas digitais foram responsáveis pela expansão do acesso à informação, por outro, contribuíram para o crescimento da fragmentação social que prejudica a saúde mental e a coesão social. ➡️ Os países da América Latina e Caribe são os que mais usam redes sociais no mundo, com média diária de 3 horas e 32 minutos, segundo o relatório. A pesquisa alerta para a disseminação de desinformação por meio das plataformas digitais e os prejuízos que traz de diminuição da confiança e distorção de discursos públicos. "Os grupos sociais estão cada vez mais afastados e isso se combina com um aumento da polarização política, o que dificulta chegar a consensos para os governos conseguirem governar para todos", comentou Almudena Fernandez, Economista-chefe para a América Latina e o Caribe do PNUD. Mudanças climáticas As mudanças climáticas chamam atenção do PNUD, porque os eventos climáticos extremos, como enxurradas ou secas severas, tornam-se mais frequentes e os impactos mais intensos ao longo dos próximos anos. A pesquisa indica que há uma estimativa de que 31% da população dos países da América Latina e Caribe está exposta aos riscos de perigos climáticos extremos. O relatório também adverte para o aumento da temperatura média na região que pode ter sido responsável pela perda de renda de US$ 1,78 bi em 2022 relacionados a redução da produtividade do trabalho devido ao calor. Por outro lado, mostra que, mesmo o assunto sendo importante, os cidadãos ainda não o consideram como prioritário. "Estudos realizados na última década indicam consistentemente que a maioria das pessoas dá prioridade ao crescimento econômico em detrimento da proteção ambiental", diz o estudo.