Roberta Sá canta tudo o que a moldou como artista no giro cristalino de show em que celebra 20 anos de sucesso
Roberta Sá na estreia do show ‘Tudo que cantei sou’ no Teatro Ipanema (RJ) Thaty Aguiar / Divulgação Produção Roberta Sá ♫ OPINIÃO SOBRE SHOW Título: Tudo que cantei sou Artista: Roberta Sá Data e local: 3 de junho de 2025 no Teatro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ) Cotação: ★ ★ ★ ★ 1/2 ♬ Antes de voltar para o bis na estreia do show Tudo que cantei sou, na noite de 3 de junho, Roberta Sá arrematou o roteiro com Olho de boi (2005), música de Rodrigo Maranhão que fecha Braseiro (2005), primeiro álbum da artista a chegar ao mercado fonográfico. O canto soou como reza do sertão nordestino nessa música que inclui na letra o verso que dá nome ao show Tudo que cantei sou, programado para ser apresentado no Teatro Ipanema nas terças-feiras deste mês de junho de 2025 dentro do projeto Terças no Ipanema. Na abertura do show, o ijexá Água doce (Roque Ferreira, 2010) trouxe a reza para as águas baianas com toque sagrado. Ao longo do roteiro em que a cantora reviu 20 anos de carreira, tomando como ponto de partida o lançamento do álbum Braseiro em 2005, ficou evidenciado que toda música teve louvor neste show retrospectivo de Roberta Sá, em outra prova do acerto da produtora Flávia Souza Lima na curadoria do projeto Terças no Ipanema. Até porque Roberta Sá está cantando muito bem, com a maturidade dos 44 anos de vida e dos 23 de trajetória profissional que começou a ganha relevo quando então inédita gravação do samba A vizinha do lado (Dorival Caymmi, 1946) ecoou para o Brasil, na trilha sonora da novela Celebridade (TV Globo, 2003 / 2004), o frescor e a leveza do canto dessa artista de origem potiguar e vivência carioca. Em Tudo que cantei sou, o canto de músicas como Pavilhão de espelhos (Lula Queiroga, 2012) – uma das mais belas canções do repertório de Roberta – refletiu a limpidez da voz cristalina, exposta também no canto de Juras (Rosa Passos e Fernando Oliveira, 1993), joia do cancioneiro autoral da cantora Rosa Passos. Roberta Sá se apresenta no show ‘Tudo que cantei sou’ com os músicos Alaan Monteiro (bandolim) e Gabriel de Aquino (violão) Thaty Aguiar / Divulgação Produção Roberta Sá Com o toque do bandolim lustroso de Alaan Monteiro e do violão de Gabriel de Aquino, Roberta Sá passou em revista 20 anos de discografia em formato minimalista que resultou luxuoso e eficaz, ainda que a canção Ah, se eu vou (Lula Queiroga, 2001) tenha insinuado, no bis, a necessidade de um baticum no número festivo – questão minimizada pelo fato de a cantora ter recorrido às palmas da plateia. A artista pareceu livre da obrigação de cantar hits. Tanto que a música Mais alguém (Moreno Veloso e Quito Ribeiro, 2007) – sucesso de Que belo estranho dia pra se ter alegria (2007), álbum que consolidou a carreira da cantora dois anos após Braseiro – nem foi incluída no roteiro. Aliás, o álbum de 2007 somente não foi esquecido porque Samba de um minuto (Rodrigo Maranhão, 2004) apareceu no bis, com a ressalva de que, a rigor, o samba foi apresentado por Roberta com o título A novidade em Sambas & bossas, disco gravado durante a mixagem do álbum Braseiro, mas editado antes, em 2004, como brinde exclusivo de fim de ano de empresa (esse primeiro disco ganhou edição comercial somente em 2021). Neste giro por duas décadas de discografia que nunca saiu dos trilhos, a cantora deu voz ao solar samba Sem avisar (Guilherme Monteiro, 2022) – dedicado pela artista à filha Lina, nascida em dezembro de 2022 – e ao altivo samba Virada (Marina Iris e Manu da Cuíca, 2023), novidade na voz de Roberta. Nessa janela para o novo, a artista pareceu menos vocacionada para o canto de Essa confusão (2023), música já abordada por Dora Morelenbaum e Zé Ibarra, parceiros na canção composta em 2021 e já ouvida nos shows da banda Bala Desejo (vale ouvir a gravação de Zé no disco Afim). Em contrapartida, Roberta mostrou sagacidade feminina ao citar um dos funks mais famosos de Anitta, Vai malandra (Isaac Daniel, Anitta e Brandon Green, 2017), ao fim do samba feminista Me erra (2015), presente de Adriana Calcanhotto para o sexto álbum de estúdio de Roberta, Delírio (2015), do qual a cantora também rebobinou o dengoso samba Amanhã é sábado (2015), feito para ela por Martinho da Vila, além do samba-canção Não posso esconder o que o amor me faz (Cezar Mendes e José Carlos Capinan, 2015). Do álbum Braseiro, cujos 20 anos foram mote de show festivo que energizou o Circo Voador (RJ) em 24 de maio, Roberta reconstruiu Casa pré-fabricada (Marcelo Camelo, 2001), reafirmou a devoção ao samba com o canto de Eu sambo mesmo (Janet Almeida, 1946) – tema do repertório do grupo Anjos do Inferno que João Gilberto (1931 – 2019) reavivou em 1991 – e cultivou a melancolia de Lavoura (Teresa Cristina e Pedro Amorim, 2004). Do álbum Quando o canto é reza – Canções de Roque Ferreira (2010), título lapidar da discografia de Roberta Sá, a cantora mergulhou no lirismo poético de Marejada (Roque Ferreira, 2010) e caiu no suingue buliçoso de Cocada (Roque Ferreira, 2010), samba temperad


Roberta Sá na estreia do show ‘Tudo que cantei sou’ no Teatro Ipanema (RJ) Thaty Aguiar / Divulgação Produção Roberta Sá ♫ OPINIÃO SOBRE SHOW Título: Tudo que cantei sou Artista: Roberta Sá Data e local: 3 de junho de 2025 no Teatro Ipanema (Rio de Janeiro, RJ) Cotação: ★ ★ ★ ★ 1/2 ♬ Antes de voltar para o bis na estreia do show Tudo que cantei sou, na noite de 3 de junho, Roberta Sá arrematou o roteiro com Olho de boi (2005), música de Rodrigo Maranhão que fecha Braseiro (2005), primeiro álbum da artista a chegar ao mercado fonográfico. O canto soou como reza do sertão nordestino nessa música que inclui na letra o verso que dá nome ao show Tudo que cantei sou, programado para ser apresentado no Teatro Ipanema nas terças-feiras deste mês de junho de 2025 dentro do projeto Terças no Ipanema. Na abertura do show, o ijexá Água doce (Roque Ferreira, 2010) trouxe a reza para as águas baianas com toque sagrado. Ao longo do roteiro em que a cantora reviu 20 anos de carreira, tomando como ponto de partida o lançamento do álbum Braseiro em 2005, ficou evidenciado que toda música teve louvor neste show retrospectivo de Roberta Sá, em outra prova do acerto da produtora Flávia Souza Lima na curadoria do projeto Terças no Ipanema. Até porque Roberta Sá está cantando muito bem, com a maturidade dos 44 anos de vida e dos 23 de trajetória profissional que começou a ganha relevo quando então inédita gravação do samba A vizinha do lado (Dorival Caymmi, 1946) ecoou para o Brasil, na trilha sonora da novela Celebridade (TV Globo, 2003 / 2004), o frescor e a leveza do canto dessa artista de origem potiguar e vivência carioca. Em Tudo que cantei sou, o canto de músicas como Pavilhão de espelhos (Lula Queiroga, 2012) – uma das mais belas canções do repertório de Roberta – refletiu a limpidez da voz cristalina, exposta também no canto de Juras (Rosa Passos e Fernando Oliveira, 1993), joia do cancioneiro autoral da cantora Rosa Passos. Roberta Sá se apresenta no show ‘Tudo que cantei sou’ com os músicos Alaan Monteiro (bandolim) e Gabriel de Aquino (violão) Thaty Aguiar / Divulgação Produção Roberta Sá Com o toque do bandolim lustroso de Alaan Monteiro e do violão de Gabriel de Aquino, Roberta Sá passou em revista 20 anos de discografia em formato minimalista que resultou luxuoso e eficaz, ainda que a canção Ah, se eu vou (Lula Queiroga, 2001) tenha insinuado, no bis, a necessidade de um baticum no número festivo – questão minimizada pelo fato de a cantora ter recorrido às palmas da plateia. A artista pareceu livre da obrigação de cantar hits. Tanto que a música Mais alguém (Moreno Veloso e Quito Ribeiro, 2007) – sucesso de Que belo estranho dia pra se ter alegria (2007), álbum que consolidou a carreira da cantora dois anos após Braseiro – nem foi incluída no roteiro. Aliás, o álbum de 2007 somente não foi esquecido porque Samba de um minuto (Rodrigo Maranhão, 2004) apareceu no bis, com a ressalva de que, a rigor, o samba foi apresentado por Roberta com o título A novidade em Sambas & bossas, disco gravado durante a mixagem do álbum Braseiro, mas editado antes, em 2004, como brinde exclusivo de fim de ano de empresa (esse primeiro disco ganhou edição comercial somente em 2021). Neste giro por duas décadas de discografia que nunca saiu dos trilhos, a cantora deu voz ao solar samba Sem avisar (Guilherme Monteiro, 2022) – dedicado pela artista à filha Lina, nascida em dezembro de 2022 – e ao altivo samba Virada (Marina Iris e Manu da Cuíca, 2023), novidade na voz de Roberta. Nessa janela para o novo, a artista pareceu menos vocacionada para o canto de Essa confusão (2023), música já abordada por Dora Morelenbaum e Zé Ibarra, parceiros na canção composta em 2021 e já ouvida nos shows da banda Bala Desejo (vale ouvir a gravação de Zé no disco Afim). Em contrapartida, Roberta mostrou sagacidade feminina ao citar um dos funks mais famosos de Anitta, Vai malandra (Isaac Daniel, Anitta e Brandon Green, 2017), ao fim do samba feminista Me erra (2015), presente de Adriana Calcanhotto para o sexto álbum de estúdio de Roberta, Delírio (2015), do qual a cantora também rebobinou o dengoso samba Amanhã é sábado (2015), feito para ela por Martinho da Vila, além do samba-canção Não posso esconder o que o amor me faz (Cezar Mendes e José Carlos Capinan, 2015). Do álbum Braseiro, cujos 20 anos foram mote de show festivo que energizou o Circo Voador (RJ) em 24 de maio, Roberta reconstruiu Casa pré-fabricada (Marcelo Camelo, 2001), reafirmou a devoção ao samba com o canto de Eu sambo mesmo (Janet Almeida, 1946) – tema do repertório do grupo Anjos do Inferno que João Gilberto (1931 – 2019) reavivou em 1991 – e cultivou a melancolia de Lavoura (Teresa Cristina e Pedro Amorim, 2004). Do álbum Quando o canto é reza – Canções de Roque Ferreira (2010), título lapidar da discografia de Roberta Sá, a cantora mergulhou no lirismo poético de Marejada (Roque Ferreira, 2010) e caiu no suingue buliçoso de Cocada (Roque Ferreira, 2010), samba temperado com toque de coco, além de cantar a já mencionada música Água doce. Nessa retrospectiva sem ranços nostálgicos, Roberta Sá também cantou o samba O lenço e o lençol (2019) e o xote Fogo de palha (2019) para lembrar Giro (2019), álbum que apresentou 11 músicas inéditas compostas por Gilberto Gil para a cantora, como ela ressaltou com justificado orgulho no show, acrescentando que Fogo de palha é parceria de Gil com a artista. Nesse giro embalado pelas cordas virtuosas de Alaan Monteiro e Gabriel de Aquino, músicos saudados pela plateia que lotou o carioca Teatro Ipanema na noite de terça-feira para assistir à estreia do show Tudo que cantei sou, Roberta Sá ressurgiu em ótima forma, pronta para outros voos e orações na reza popular do canto cristalino. Roberta Sá se mostra em ótima forma vocal no show ‘Tudo que cantei sou’ Rodrigo Goffredo