A idade biológica do cérebro pode determinar nossa longevidade

Pesquisadores da Universidade Stanford já conseguem estimar o nível de envelhecimento de cada órgão e prever o risco de desenvolvimento de doenças em dez anos. No fim de junho, publiquei duas colunas sobre recentes (e fascinantes) conquistas da ciência no campo da longevidade. Na primeira, o cardiologista Eric Topol defendia que um sistema imunológico resistente é a chave para envelhecer com saúde; na segunda, cientistas da Universidade Stanford iam além: tinham criado um “relógio biológico” para medir a deterioração do organismo com base em seus níveis de inflamação. Simplificando, a “idade inflamatória” indicava a capacidade do sistema imunológico de nos proteger. Agora, houve um avanço de muitas casas: um novo biomarcador permite avaliar a idade biológica de cada órgão e a probabilidade de aparecimento de doenças dez anos depois! Quem está à frente da façanha é Tony Wyss-Coray, PhD, professor de neurologia e diretor da Iniciativa Knight para Resiliência do Cérebro, em Stanford. O estudo foi publicado no dia 9 na revista Nature Medicine. Tony Wyss-Coray, PhD, professor de neurologia e diretor da Iniciativa Knight para Resiliência do Cérebro, em Stanford Divulgação “Desenvolvemos uma maneira de, por meio do exame de sangue, estimar a idade de cada órgão e calcular o risco de desenvolvimento de uma doença em um horizonte de dez anos”, afirmou o cientista. O exame analisa 11 órgãos ou sistemas: cérebro, músculos, coração, pulmões, artérias, fígado, rins, pâncreas, sistema imunológico, intestinos e gordura corporal (sistema adiposo). Quando pensamos em idade, o que vem à mente é o número que nos acompanha até o aniversário seguinte: a chamada idade cronológica. No entanto, os órgãos envelhecem em ritmo diferentes: é nossa idade biológica. De acordo com Wyss-Coray, ela é especialmente relevante no caso do cérebro: “O cérebro é o guardião da longevidade. Se ele está envelhecido, o risco de mortalidade aumenta; se está jovem, é provável que a pessoa viva mais”. O estudo usou dados de cerca de 45 mil pessoas do UK Biobank — uma base de informações biomédicas que reúne meio milhão de britânicos. A equipe analisou quase 3 mil proteínas presentes no sangue e as informações alimentaram um algoritmo que calcula a idade biológica de 11 sistemas, além de seu desvio em relação à idade cronológica. O modelo foi capaz de prever o estado geral de cada órgão, e associá-lo ao risco de desenvolver 15 enfermidades, como Alzheimer, Parkinson, diabetes tipo 2, artrite reumatoide e osteoartrite, entre outras. Corações biologicamente envelhecidos tinham maior chance de insuficiência cardíaca; no caso dos pulmões, doença pulmonar obstrutiva crônica; para o cérebro, crescia significativamente o risco de Alzheimer. Quando a idade biológica cerebral era superior à esperada, havia três vezes mais risco de demência. Em contrapartida, indivíduos com cérebro jovem apresentavam 25% mais proteção contra a doença. No caso do cérebro, o risco era especialmente relevante: quando sua idade biológica era mais avançada, havia o triplo de chances de desenvolver demência se comparado com o órgão normal. Já quem tinha um cérebro mais jovem estava 25% mais protegido contra a doença do que alguém com o cérebro com a mesma idade biológica e cronológica. Por fim, Wyss-Coray destacou que a idade biológica do cérebro é o melhor indicador de mortalidade. Um cérebro envelhecido aumenta o risco de morte em 182% num intervalo de 15 anos, ao passo que um cérebro mais preservado reduz esse risco em 40%. O teste deverá estar disponível em dois ou três anos. Pessoas de meia idade que praticam exercícios se tornam idosos com cérebro mais saudável

Jul 13, 2025 - 04:30
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A idade biológica do cérebro pode determinar nossa longevidade

Pesquisadores da Universidade Stanford já conseguem estimar o nível de envelhecimento de cada órgão e prever o risco de desenvolvimento de doenças em dez anos. No fim de junho, publiquei duas colunas sobre recentes (e fascinantes) conquistas da ciência no campo da longevidade. Na primeira, o cardiologista Eric Topol defendia que um sistema imunológico resistente é a chave para envelhecer com saúde; na segunda, cientistas da Universidade Stanford iam além: tinham criado um “relógio biológico” para medir a deterioração do organismo com base em seus níveis de inflamação. Simplificando, a “idade inflamatória” indicava a capacidade do sistema imunológico de nos proteger. Agora, houve um avanço de muitas casas: um novo biomarcador permite avaliar a idade biológica de cada órgão e a probabilidade de aparecimento de doenças dez anos depois! Quem está à frente da façanha é Tony Wyss-Coray, PhD, professor de neurologia e diretor da Iniciativa Knight para Resiliência do Cérebro, em Stanford. O estudo foi publicado no dia 9 na revista Nature Medicine. Tony Wyss-Coray, PhD, professor de neurologia e diretor da Iniciativa Knight para Resiliência do Cérebro, em Stanford Divulgação “Desenvolvemos uma maneira de, por meio do exame de sangue, estimar a idade de cada órgão e calcular o risco de desenvolvimento de uma doença em um horizonte de dez anos”, afirmou o cientista. O exame analisa 11 órgãos ou sistemas: cérebro, músculos, coração, pulmões, artérias, fígado, rins, pâncreas, sistema imunológico, intestinos e gordura corporal (sistema adiposo). Quando pensamos em idade, o que vem à mente é o número que nos acompanha até o aniversário seguinte: a chamada idade cronológica. No entanto, os órgãos envelhecem em ritmo diferentes: é nossa idade biológica. De acordo com Wyss-Coray, ela é especialmente relevante no caso do cérebro: “O cérebro é o guardião da longevidade. Se ele está envelhecido, o risco de mortalidade aumenta; se está jovem, é provável que a pessoa viva mais”. O estudo usou dados de cerca de 45 mil pessoas do UK Biobank — uma base de informações biomédicas que reúne meio milhão de britânicos. A equipe analisou quase 3 mil proteínas presentes no sangue e as informações alimentaram um algoritmo que calcula a idade biológica de 11 sistemas, além de seu desvio em relação à idade cronológica. O modelo foi capaz de prever o estado geral de cada órgão, e associá-lo ao risco de desenvolver 15 enfermidades, como Alzheimer, Parkinson, diabetes tipo 2, artrite reumatoide e osteoartrite, entre outras. Corações biologicamente envelhecidos tinham maior chance de insuficiência cardíaca; no caso dos pulmões, doença pulmonar obstrutiva crônica; para o cérebro, crescia significativamente o risco de Alzheimer. Quando a idade biológica cerebral era superior à esperada, havia três vezes mais risco de demência. Em contrapartida, indivíduos com cérebro jovem apresentavam 25% mais proteção contra a doença. No caso do cérebro, o risco era especialmente relevante: quando sua idade biológica era mais avançada, havia o triplo de chances de desenvolver demência se comparado com o órgão normal. Já quem tinha um cérebro mais jovem estava 25% mais protegido contra a doença do que alguém com o cérebro com a mesma idade biológica e cronológica. Por fim, Wyss-Coray destacou que a idade biológica do cérebro é o melhor indicador de mortalidade. Um cérebro envelhecido aumenta o risco de morte em 182% num intervalo de 15 anos, ao passo que um cérebro mais preservado reduz esse risco em 40%. O teste deverá estar disponível em dois ou três anos. Pessoas de meia idade que praticam exercícios se tornam idosos com cérebro mais saudável