Como Cristiano Marcello quebrou paradigmas e revolucionou o jiu-jítsu na Chute Boxe

No início da década de 2000, uma escolha fez com que a vida do carioca Cristiano Marcello mudasse para sempre. Apesar do nome consolidado como atleta de jiu-jítsu, ele não estava satisfeito com suas conquistas dentro do tatame. Na flor da idade, então com 23 anos, queria os holofotes proporcionados pelo famigerado vale-tudo. Veja também:+ […]

Mai 14, 2025 - 14:30
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Como Cristiano Marcello quebrou paradigmas e revolucionou o jiu-jítsu na Chute Boxe

No início da década de 2000, uma escolha fez com que a vida do carioca Cristiano Marcello mudasse para sempre.

Apesar do nome consolidado como atleta de jiu-jítsu, ele não estava satisfeito com suas conquistas dentro do tatame. Na flor da idade, então com 23 anos, queria os holofotes proporcionados pelo famigerado vale-tudo.

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Foi então que recorreu a uma lenda do mundo das artes marciais: o empresário Jorge Guimarães, apresentador do lendário ‘Passando a Guarda’, do SporTV. Cristiano, que fazia reportagens e editava o próprio material para o programa pioneiro de MMA na TV brasileira, recebeu a orientação que definiu sua trajetória.

“Um dia eu estava editando o programa e já tinha falado que queria voltar a lutar para o Joinha. Ele era sócio do Rudimar Fedrigo [líder da Chute Boxe]. Falou para o mestre que tinha um sobrinho que era top no jiu-jítsu e que iria encaixar perfeitamente na Chute Boxe”, relembra o lutador, que num piscar de olhos trocou as praias encaloradas do Rio de Janeiro pela fria e cinzenta Curitiba.

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Cristiano Marcello, Murilo Ninja, Jorge Guimarães, Assuério Silva e Maurício Shogun. Foto: Reprodução/Instagram.

Cristiano Marcello chegou na capital paranaense para um período de dois meses de treinos, mas já acumula 25 anos na terra que é celeiro de lutadores. Antes do sucesso, no entanto, o carioca precisou provar seu valor com “sangue, suor e lágrimas” na maior escola de MMA do mundo.

“Eu vim do Rio, lugar de praia, calor, local onde em dois segundos as pessoas estão dentro da sua casa. Pelo frio, as pessoas são mais fechadas em Curitiba. Mas são maravilhosas e extremamente educadas. No começo, era um frio absurdo. Era muito dolorido pra eu praticar o muay thai. Tive que ter calma, pois estava chegando na casa dos outros. Carioca, faixa-preta de jiu-jítsu, as pessoas estranhavam. A academia era muito fechada. Eu quebrei um pouco disso. Foi ali que eu fui mostrando que era um deles, mesmo sendo um forasteiro”.

O ex-atleta e hoje líder da equipe CM System é o terceiro convidado da série “Terra fria, Sangue Quente”, que revisita a carreira de grandes personalidades das lutas de Curitiba.

Dentro da maior equipe do mundo, a Chute Boxe

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Cristiano Marcello (primeiro à esquerda) ao lado das lendas da Chute Boxe. Foto: Arquivo pessoal.

Cristiano Marcello fez parte de um dos maiores times de toda a história do MMA. Na Chute Boxe, o carioca treinou ao lado de lendas como Wanderlei Silva, Maurício Shogun, Anderson Silva, José Pelé Landi, Murilo Ninja, entre outros.

“Eu vi a ascensão de todos aqueles atletas. Foi uma época muito rica para mim. Eu cheguei para ser atleta, fazer uma preparação de dois meses e, no fim, fiquei nove anos na equipe”, ressalta Cristiano, que quebrou um enorme paradigma na Chute Boxe.

O carioca deixou sua carreira um pouco de lado para se tornar o principal treinador de jiu-jítsu do time, que era reconhecido como uma academia quase que exclusivamente de muay thai, o famoso estilo e luta tailandês.

Nesta época, Cristiano protagonizou um dos momentos mais icônicos da história do MMA. Nos bastidores de uma edição do Pride, no Japão, o carioca “saiu na mão” com o norte-americano Charles Bennett, apelidado de “Crazy Horse”.

“Eu o desafiei. Só que todo mundo esqueceu que ele e parte do time dele estava junto no mesmo vestiário. As câmeras ficavam filmando os atletas. Naquela adrenalina, o Crazy Horse ficou resmungando e olhando para a minha cara. Aí o Wanderlei falou ‘esse cara é um folgado’. Fui tirar satisfação com ele”, recorda, sobre o famoso vídeo que soma milhões de visualizações no Youtube.

“Ele levantou e fez o que fez. Começou a me sentar a porrada, eu mantive a tranquilidade e o finalizei no triângulo, botando ele pra dormir. Foi ali que o ‘bota dormir’ se tornou popular”, brinca o Cristiano, que reencontrou o rival dez anos depois, também no Japão.

“Todo mundo ficou tenso, ele me olhou, meteu um joinha e eu também, e ali morreu a treta. A vida bateu muito nele por escolhas erradas, mas quero muito o bem dele. Ele fez parte da minha história. Gosto muito dele”, completa.

Saída da Chute Boxe e o início de uma nova trajetória

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CM System em 2025. Foto: Reprodução/Instagram.

Em 2009, Cristiano Marcello optou por um novo caminho em sua carreira. Ele deixou a equipe Chute Boxe para criar a própria academia: a CM System. Por cinco anos, seguiu a trajetória de atleta/treinador. A despedida dos octógonos ocorreu em 2014, quando ainda atuava pelo UFC.

Desde então, a missão tem sido formar novos atletas e consagrar lutadores que já têm feito bonito em grandes eventos, como Elizeu Capoeira, Vitor Petrino e Luan Miau.

“Em oito meses da criação da equipe, a gente estava sendo eleita a academia revelação. E por sete anos seguidos ganhamos como o melhor time de MMA do estado. Como técnico, já recebi premiações também. Com 16 anos de academia, ela segue em projeção e o índice de vitórias é impressionante. Hoje a gente tem tudo o que o atleta precisa”, frisa o líder da CM System.

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