Encanto, coragem e glitter: o que move mulheres dentro do universo cosplay e no GO Game Festival 2025

Rebecca Perillo, vestida de fada madrinha do file Shrek 2, em Goiás Arquivo pessoal/ Rebecca Perillo Por trás de tecidos cintilantes, armaduras esculpidas à mão e perucas cuidadosamente estilizadas, existem mulheres que não apenas interpretam personagens, mas vivem histórias. Histórias como as de Rebecca e Dallila, duas cosplayers goianas que fazem do GO Game Festival não só um palco para suas criações, mas um lugar onde memória afetiva, luta e arte se cruzam. Clique aqui e siga o perfil do g1 Goiás no Instagram A cena é familiar para quem já foi a um evento geek: luzes, música alta, jogos, lojas temáticas. Mas, entre tudo isso, há uma figura que inevitavelmente chama atenção, uma mulher de cabelos brancos, imponente, com vestido vermelho e brilho no olhar. Rebecca Perillo, de 35 anos, veste-se de Fada Madrinha, não a tradicional das histórias infantis, mas a irreverente vilã de Shrek 2. Em poucos minutos de evento, ela pode tirar mais de 300 fotos com crianças e adultos. “Mesmo quem não viu Shrek sabe que ela é uma Fada Madrinha. Tem muita criança que pede foto, que abraça, que elogia. Algumas vêm acompanhadas e, depois, os pais voltam para me agradecer, dizendo que fiz o dia delas”, conta. É difícil não se emocionar com esse relato, mas também impossível ignorar os contrastes. “Nem tudo são flores”, diz ela, ao lembrar episódios de assédio e gordofobia. “Com a Fada, já pediram foto e, durante a pose, um homem passou a mão em mim. Esperei as crianças se afastarem e chamei os seguranças. Ele foi retirado do evento.” Ainda assim, Rebecca permanece firme. Costura não é sua especialidade, mas dedicação e entrega são. Os tecidos do vestido foram escolhidos por ela, e a modelagem feita por uma amiga. A peruca exigiu criatividade: duas peças diferentes, spray lilás e glitter. A preparação, no entanto, vai além da estética. “Entrar no personagem e interagir com o público é o mais desafiador. Cosplay, pra mim, é mágico. Tanto eu quanto o público nos sentimos dentro daquela obra, vivendo emoções que vêm da infância, de lembranças com quem já se foi. É como reviver um pedaço da alma.” Rebecca Perillo no Primeiro GO Game Festival, em Goiás Arquivo pessoal/ Rebecca Perillo Esse sentimento de encantamento também move Dallila Virginio, de 30 anos. Sua primeira aparição no universo cosplay foi como Lagertha Lothbrok, da série Vikings. Mas no GO Game Festival 2025, ela pretende levar uma criação própria: uma personagem autoral no estilo Sweet Lolita. “Ela representa a doçura, a elegância e a fantasia de um mundo cor-de-rosa inspirado na moda japonesa. Parece saída de um conto de fadas escrito com glitter e chá de morango”, diz. Dallila parece doce, mas, como sua personagem, não é frágil. “Por trás dos babados, tem opinião. Me identifico com ela porque também acordo pronta para conquistar o mundo… depois do café ou de ajeitar a franja”, brinca. O figurino é feito com partes compradas e outras produzidas por ela mesma, como os acessórios e a peruca. Tudo com seu toque pessoal, porque, como define. “cosplay é liberdade, criatividade e amor”. Quando perguntada sobre como se sente ao se caracterizar, ela resume: “É como entrar em outra realidade. Uma mistura de diversão, orgulho e magia.” E para quem deseja começar, ela aconselha: “Comece com amor, não com perfeição. Muitos começaram adaptando roupas, usando materiais simples. Dá pra improvisar e se divertir.” As histórias de Rebecca e Dallila se encontram em muitos pontos: na paixão por personagens, na construção manual dos trajes, nas amizades feitas em eventos, nos amores que surgiram entre poses e flashes. Rebecca, por exemplo, conheceu o namorado graças à Fada Madrinha, quando ele pediu uma foto durante um evento em Brasília. Hoje, disputam juntos concursos cosplay. “Sempre um ajudando o outro”, conta. Mas é no GO Game Festival que essas conexões ganham força. O evento, que em 2025 chega à sua segunda edição, será realizado entre 18 e 20 de julho, no Passeio das Águas Shopping, e já é considerado o maior festival geek do Centro-Oeste. Com concursos, desfiles, shows de K-pop, games e artistas convidados, o festival abre espaço, e visibilidade, para a cultura cosplay em Goiás. “O GO Game ajudou o cenário cosplay de Goiás a voltar a crescer. Antes da pandemia, os eventos tinham caído em número e qualidade. Agora, já vemos mais gente de fora vindo para Goiânia, e mais atrações. Isso é demais pra todos nós”, afirma Rebecca. Apesar de ainda haver desafios, como o machismo e o preconceito, ambas destacam o acolhimento da comunidade cosplay. “A gente ouve comentários maldosos sobre corpo, idade, mas por sorte há muito apoio de outras mulheres e homens também. Existe um senso de cuidado entre nós”, diz Rebecca. Para Dallila, essa rede de apoio é fundamental para que o cosplay continue sendo o que é: um espaço de expressão sem barreiras. Enquanto se preparam para mais uma edição do evento, entre ajustes finais, glitter e ansiedade, as duas seguem tecendo muito mais do que r

Jul 18, 2025 - 08:30
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Encanto, coragem e glitter: o que move mulheres dentro do universo cosplay e no GO Game Festival 2025

Rebecca Perillo, vestida de fada madrinha do file Shrek 2, em Goiás Arquivo pessoal/ Rebecca Perillo Por trás de tecidos cintilantes, armaduras esculpidas à mão e perucas cuidadosamente estilizadas, existem mulheres que não apenas interpretam personagens, mas vivem histórias. Histórias como as de Rebecca e Dallila, duas cosplayers goianas que fazem do GO Game Festival não só um palco para suas criações, mas um lugar onde memória afetiva, luta e arte se cruzam. Clique aqui e siga o perfil do g1 Goiás no Instagram A cena é familiar para quem já foi a um evento geek: luzes, música alta, jogos, lojas temáticas. Mas, entre tudo isso, há uma figura que inevitavelmente chama atenção, uma mulher de cabelos brancos, imponente, com vestido vermelho e brilho no olhar. Rebecca Perillo, de 35 anos, veste-se de Fada Madrinha, não a tradicional das histórias infantis, mas a irreverente vilã de Shrek 2. Em poucos minutos de evento, ela pode tirar mais de 300 fotos com crianças e adultos. “Mesmo quem não viu Shrek sabe que ela é uma Fada Madrinha. Tem muita criança que pede foto, que abraça, que elogia. Algumas vêm acompanhadas e, depois, os pais voltam para me agradecer, dizendo que fiz o dia delas”, conta. É difícil não se emocionar com esse relato, mas também impossível ignorar os contrastes. “Nem tudo são flores”, diz ela, ao lembrar episódios de assédio e gordofobia. “Com a Fada, já pediram foto e, durante a pose, um homem passou a mão em mim. Esperei as crianças se afastarem e chamei os seguranças. Ele foi retirado do evento.” Ainda assim, Rebecca permanece firme. Costura não é sua especialidade, mas dedicação e entrega são. Os tecidos do vestido foram escolhidos por ela, e a modelagem feita por uma amiga. A peruca exigiu criatividade: duas peças diferentes, spray lilás e glitter. A preparação, no entanto, vai além da estética. “Entrar no personagem e interagir com o público é o mais desafiador. Cosplay, pra mim, é mágico. Tanto eu quanto o público nos sentimos dentro daquela obra, vivendo emoções que vêm da infância, de lembranças com quem já se foi. É como reviver um pedaço da alma.” Rebecca Perillo no Primeiro GO Game Festival, em Goiás Arquivo pessoal/ Rebecca Perillo Esse sentimento de encantamento também move Dallila Virginio, de 30 anos. Sua primeira aparição no universo cosplay foi como Lagertha Lothbrok, da série Vikings. Mas no GO Game Festival 2025, ela pretende levar uma criação própria: uma personagem autoral no estilo Sweet Lolita. “Ela representa a doçura, a elegância e a fantasia de um mundo cor-de-rosa inspirado na moda japonesa. Parece saída de um conto de fadas escrito com glitter e chá de morango”, diz. Dallila parece doce, mas, como sua personagem, não é frágil. “Por trás dos babados, tem opinião. Me identifico com ela porque também acordo pronta para conquistar o mundo… depois do café ou de ajeitar a franja”, brinca. O figurino é feito com partes compradas e outras produzidas por ela mesma, como os acessórios e a peruca. Tudo com seu toque pessoal, porque, como define. “cosplay é liberdade, criatividade e amor”. Quando perguntada sobre como se sente ao se caracterizar, ela resume: “É como entrar em outra realidade. Uma mistura de diversão, orgulho e magia.” E para quem deseja começar, ela aconselha: “Comece com amor, não com perfeição. Muitos começaram adaptando roupas, usando materiais simples. Dá pra improvisar e se divertir.” As histórias de Rebecca e Dallila se encontram em muitos pontos: na paixão por personagens, na construção manual dos trajes, nas amizades feitas em eventos, nos amores que surgiram entre poses e flashes. Rebecca, por exemplo, conheceu o namorado graças à Fada Madrinha, quando ele pediu uma foto durante um evento em Brasília. Hoje, disputam juntos concursos cosplay. “Sempre um ajudando o outro”, conta. Mas é no GO Game Festival que essas conexões ganham força. O evento, que em 2025 chega à sua segunda edição, será realizado entre 18 e 20 de julho, no Passeio das Águas Shopping, e já é considerado o maior festival geek do Centro-Oeste. Com concursos, desfiles, shows de K-pop, games e artistas convidados, o festival abre espaço, e visibilidade, para a cultura cosplay em Goiás. “O GO Game ajudou o cenário cosplay de Goiás a voltar a crescer. Antes da pandemia, os eventos tinham caído em número e qualidade. Agora, já vemos mais gente de fora vindo para Goiânia, e mais atrações. Isso é demais pra todos nós”, afirma Rebecca. Apesar de ainda haver desafios, como o machismo e o preconceito, ambas destacam o acolhimento da comunidade cosplay. “A gente ouve comentários maldosos sobre corpo, idade, mas por sorte há muito apoio de outras mulheres e homens também. Existe um senso de cuidado entre nós”, diz Rebecca. Para Dallila, essa rede de apoio é fundamental para que o cosplay continue sendo o que é: um espaço de expressão sem barreiras. Enquanto se preparam para mais uma edição do evento, entre ajustes finais, glitter e ansiedade, as duas seguem tecendo muito mais do que roupas: elas costuram representatividade, empatia, imaginação e coragem. E, em cada pose diante da câmera ou abraço recebido de uma criança encantada, estão dizendo, sem palavras, que esse universo, feito de sonho e realidade, é para todas as cores, corpos, gêneros e idades. Porque, no fim das contas, como lembra Rebecca. “cosplay é para ser divertido, e para todos.” Dallila Virginio, vestida de Lagertha Lothbrok, da série Vikings, em Goiás Arquivo pessoal/ Dallila Virginio A cultura cosplay: uma história que se reafirma O cosplay nasceu discretamente no final do século XIX, em bailes de fantasia inspirados por obras literárias, como nos eventos literários ligados a Júlio Verne. Mas foi apenas no Japão dos anos 1980, influenciado pela Worldcon nos Estados Unidos, que o hobby ganhou força com os encontros da Comic Market em Tóquio. No Brasil, costumes cosplay começaram a despontar em 1997, no MangáCon, reunindo cerca de 30 entusiastas. Em 2003 e 2002 nasceram os sites pioneiros Cosplay Party Br e Arquivo Cosplay Brasil, que criaram a primeira comunidade nacional. Desde então, o interesse disparou com plataformas online: hoje o Cosplay Brasil reúne mais de 55 mil membros ativos em redes sociais. Em 2024, a cultura geek alcançou larga adesão no país: uma pesquisa da Ecglobal revelou que 59% dos participantes interagem com marcas geek nas redes sociais, com uma nota média de interesse de 4,1 em 5, especialmente entre as gerações Z (58%) e Y (53%). Eventos como a CCXP atraíram mais de 300 mil visitantes em 2024, com cosplayers de impacto e produção cada vez mais elaborada. Em Brasília, na Campus Party 2025, os desfiles e seletivas de cosplay brilharam como pontos altos do festival. Como começar (dicas práticas para o primeiro cosplay) Quer entrar nesse universo? Eis um guia acessível e cheio de inspiração: 1. Escolha com afeto, não perfeição Comece com um personagem que você ama, mesmo se tiver que improvisar com roupas simples, brechó ou peças do armário. O mais importante é se expressar com prazer. 2. Planeje e personalize Veja referências visuais online. Faça você mesmo os acessórios, com moldagem com EVA, pintura fácil, ajustes simples. Se puder, encomende partes que não sabe costurar. 3. Comece pelo básico e vá aprimorando Use materiais simples, vá melhorando a cada evento. Muitos cosplayers começaram com improvisos e hoje produzem trabalhos artísticos completos. 4. Aprenda nas comunidades online e grupos brasileiros Grupos nas redes sociais ajudam a trocar dicas de cosmakers, tutoriais e inspirações. 5. Adapte conforme seu orçamento Um cosplay pode custar de menos de R$ 100 até milhares, tudo depende do nível de detalhamento. Muitos cosplayers iniciam com valores baixos e evoluem aos poucos. 6. Interprete o personagem Cosplay não é apenas vestir-se. É sobre performance. Use postura, expressão e interação com o público para encarnar a personagem. 7. Vá a eventos e troque experiências Comece por eventos locais, concursos gratuitos (como nos Sescs ou parques), e vá ampliando. É ali que nascem amizades, redes de apoio e possibilidades de participação em competições maiores. Cosplays posando para foto, em Goiás Fábio Lima/ O Popular Maior evento geek do Centro-Oeste O Go Game Festival 2025 acontece entre os dias 18 e 20 de julho, no Passeio das Águas Shopping, em Goiânia (GO), e promete ser a maior edição do evento geek da região Centro-Oeste. Com uma área de 8 mil m², estrutura comparável aos grandes festivais de São Paulo e Rio, a programação reúne atrações de peso, incluindo painéis com dubladores renomados, influenciadores digitais, shows musicais, estúdio interativo, feira geek, área gamer, fliperamas, experiências em realidade virtual e concursos com R$ 35 mil em prêmios para eSports, cosplay e K-pop. ✅ Clique e siga o canal do g1 Goiás no WhatsApp Entre os nomes mais esperados está Diego Lima, novo dublador do Superman no universo cinematográfico da DC, que participa poucos dias após a estreia mundial do filme. Ele se apresenta no sábado (19/07), ao lado de Guilherme Briggs, Rodrigo Antas, Luísa Palomanes, Úrsula Bezerra e outros grandes nomes da dublagem nacional. A apresentadora Nyvi Estephan retorna ao palco principal, enquanto youtubers como Muca Muriçoca, Felca, Thiago sem T e Caracol Raivoso garantem a presença do universo digital. Com um cronograma intenso distribuído ao longo dos três dias, o evento ainda trará exposições temáticas, estandes exclusivos, área para criadores de conteúdo e destaque especial para o universo de Harry Potter. O Go Game Festival consolida-se como ponto de encontro entre fãs da cultura pop e geek, oferecendo uma imersão completa para todos os públicos, dos mais nostálgicos aos que estão chegando agora nesse universo.