'Escolha Viver': Ator transforma diagnóstico de HIV em ativismo e celebra prêmio por filme inspirado em história real

Drew Persí encontrou no ativismo uma forma de ressignificar a própria história com HIV Drew Persí/Arquivo pessoal Ao abrir um envelope do laboratório no dia 7 de agosto de 2013, Andrew Pereira da Silva, mais conhecido como Drew Persí, se deparou com o resultado 'Reagente para HIV'. Após anos em silêncio, enfrentando preconceitos e inseguranças, encontrou no ativismo uma forma de ressignificar sua história e hoje é referência no acolhimento de pessoas recém-diagnosticadas. Descoberta por acaso Aos 23 anos, saudável e vivendo uma das melhores fases da vida, Drew jamais imaginava que uma ida ao dentista mudaria tudo. Durante um atendimento em Belo Horizonte, uma estudante de odontologia se feriu e ambos precisaram fazer exames. Foi assim, “por acaso”, que ele descobriu o HIV — vírus que ataca o sistema imunológico e, se não tratado, pode levar ao desenvolvimento da Aids. “Sabe esses depoimentos de pessoas que passam por experiências de quase morte e dizem que viram a vida inteira passar como um filme? Quando a pessoa abre esse envelope, é o contrário! Eu vi passar na minha cabeça meu futuro todo! Um futuro que não vai mais existir!”, relembrou Drew em entrevista ao g1. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Zona da Mata no WhatsApp Segundo ele, hoje com 39 anos, o impacto foi devastador. Medo, culpa e raiva, até que ele entendeu que a vida seguia. Iniciou o tratamento e alcançou a carga viral indetectável, condição que impede a transmissão do vírus. Do silêncio ao ativismo Foram seis anos sem conseguir falar sobre o tema publicamente. Até que, em janeiro de 2019, no dia do próprio aniversário, decidiu gravar um vídeo contando sua história. “Eu pensei: ou eu me liberto disso agora, ou nunca mais vou viver plenamente”, disse em entrevista. O vídeo viralizou e ele recebeu mensagens de pessoas recém-diagnosticadas, muitas enfrentando depressão. Drew percebeu que poderia transformar dor em cuidado coletivo. Assim nasceu seu trabalho como ativista. Drew começou a realizar palestras, encontros e, durante a pandemia, criou o grupo de apoio 'Escolha Viver', que atualmente reúne mais de 800 pessoas de vários países. O grupo começou no WhatsApp e migrou para o Telegram, onde segue ativo até hoje. “Em isolamento, eu só pensava: as pessoas vão continuar sendo diagnosticadas e agora, sem poder abraçar ninguém. Eu precisava estar perto delas.” 'O diagnóstico não é um ponto final' Em 2024, Drew participou do curta-metragem 'Depois do Ponto Final', dirigido por Rafael Aguiar. O filme recria a história real de Celso, conhecido como Dino, que viveu e morreu nas ruas de Cataguases nos anos 1990, após ser diagnosticado com HIV e totalmente abandonado. Drew viveu o personagem Celso que morreu de Aids nas ruas de Cataguases Drew Persí/Arquivo pessoal O curta, aprovado pela Lei Paulo Gustavo e filmado em Cataguases, já conquistou dois prêmios: Melhor Filme, em Manaus, e Melhor Ator, para Drew, no festival de Itaúna. “Interpretar alguém que existiu, que viveu e morreu invisibilizado, mexeu demais comigo. Eu entreguei tudo de mim para honrar a existência do Dino. Ele não teve a chance que eu tive”, conta Drew. Uma história que segue sendo escrita Drew viveu três anos em Belo Horizonte antes de se mudar para Juiz de Fora, onde mora desde novembro de 2021. Continua produzindo conteúdo, dando palestras, coordenando o grupo de acolhimento e participando de projetos artísticos. “Quando a gente escolhe viver, tudo muda. Eu precisei morrer muitas vezes dentro de mim para nascer de novo. E continuo nascendo, todo dia”, afirma. Para ele, os prêmios pelo filme e o reconhecimento do público refletem tudo o que viveu e tudo o que decidiu transformar em cuidado coletivo. Testagem e prevenção em Juiz de Fora O Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, AIDS e Hepatites Virais (DDST) acompanha 4.160 pacientes ativos em tratamento de HIV. Em 2025, até 8 de dezembro, 159 pessoas foram diagnosticadas na cidade — em 2024, foram 221 novos casos. Durante o Dezembro Vermelho, Juiz de Fora intensifica ações de prevenção, diagnóstico e cuidado com serviços gratuitos em diversos pontos. Confira onde testar: Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA)

Dez 28, 2025 - 08:30
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'Escolha Viver': Ator transforma diagnóstico de HIV em ativismo e celebra prêmio por filme inspirado em história real

Drew Persí encontrou no ativismo uma forma de ressignificar a própria história com HIV Drew Persí/Arquivo pessoal Ao abrir um envelope do laboratório no dia 7 de agosto de 2013, Andrew Pereira da Silva, mais conhecido como Drew Persí, se deparou com o resultado 'Reagente para HIV'. Após anos em silêncio, enfrentando preconceitos e inseguranças, encontrou no ativismo uma forma de ressignificar sua história e hoje é referência no acolhimento de pessoas recém-diagnosticadas. Descoberta por acaso Aos 23 anos, saudável e vivendo uma das melhores fases da vida, Drew jamais imaginava que uma ida ao dentista mudaria tudo. Durante um atendimento em Belo Horizonte, uma estudante de odontologia se feriu e ambos precisaram fazer exames. Foi assim, “por acaso”, que ele descobriu o HIV — vírus que ataca o sistema imunológico e, se não tratado, pode levar ao desenvolvimento da Aids. “Sabe esses depoimentos de pessoas que passam por experiências de quase morte e dizem que viram a vida inteira passar como um filme? Quando a pessoa abre esse envelope, é o contrário! Eu vi passar na minha cabeça meu futuro todo! Um futuro que não vai mais existir!”, relembrou Drew em entrevista ao g1. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Zona da Mata no WhatsApp Segundo ele, hoje com 39 anos, o impacto foi devastador. Medo, culpa e raiva, até que ele entendeu que a vida seguia. Iniciou o tratamento e alcançou a carga viral indetectável, condição que impede a transmissão do vírus. Do silêncio ao ativismo Foram seis anos sem conseguir falar sobre o tema publicamente. Até que, em janeiro de 2019, no dia do próprio aniversário, decidiu gravar um vídeo contando sua história. “Eu pensei: ou eu me liberto disso agora, ou nunca mais vou viver plenamente”, disse em entrevista. O vídeo viralizou e ele recebeu mensagens de pessoas recém-diagnosticadas, muitas enfrentando depressão. Drew percebeu que poderia transformar dor em cuidado coletivo. Assim nasceu seu trabalho como ativista. Drew começou a realizar palestras, encontros e, durante a pandemia, criou o grupo de apoio 'Escolha Viver', que atualmente reúne mais de 800 pessoas de vários países. O grupo começou no WhatsApp e migrou para o Telegram, onde segue ativo até hoje. “Em isolamento, eu só pensava: as pessoas vão continuar sendo diagnosticadas e agora, sem poder abraçar ninguém. Eu precisava estar perto delas.” 'O diagnóstico não é um ponto final' Em 2024, Drew participou do curta-metragem 'Depois do Ponto Final', dirigido por Rafael Aguiar. O filme recria a história real de Celso, conhecido como Dino, que viveu e morreu nas ruas de Cataguases nos anos 1990, após ser diagnosticado com HIV e totalmente abandonado. Drew viveu o personagem Celso que morreu de Aids nas ruas de Cataguases Drew Persí/Arquivo pessoal O curta, aprovado pela Lei Paulo Gustavo e filmado em Cataguases, já conquistou dois prêmios: Melhor Filme, em Manaus, e Melhor Ator, para Drew, no festival de Itaúna. “Interpretar alguém que existiu, que viveu e morreu invisibilizado, mexeu demais comigo. Eu entreguei tudo de mim para honrar a existência do Dino. Ele não teve a chance que eu tive”, conta Drew. Uma história que segue sendo escrita Drew viveu três anos em Belo Horizonte antes de se mudar para Juiz de Fora, onde mora desde novembro de 2021. Continua produzindo conteúdo, dando palestras, coordenando o grupo de acolhimento e participando de projetos artísticos. “Quando a gente escolhe viver, tudo muda. Eu precisei morrer muitas vezes dentro de mim para nascer de novo. E continuo nascendo, todo dia”, afirma. Para ele, os prêmios pelo filme e o reconhecimento do público refletem tudo o que viveu e tudo o que decidiu transformar em cuidado coletivo. Testagem e prevenção em Juiz de Fora O Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis, AIDS e Hepatites Virais (DDST) acompanha 4.160 pacientes ativos em tratamento de HIV. Em 2025, até 8 de dezembro, 159 pessoas foram diagnosticadas na cidade — em 2024, foram 221 novos casos. Durante o Dezembro Vermelho, Juiz de Fora intensifica ações de prevenção, diagnóstico e cuidado com serviços gratuitos em diversos pontos. Confira onde testar: Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA)