Estado pede desculpas a parentes de pessoas mortas pela ditadura militar, encontradas em cemitério em São Paulo
Na década de 1970, em plena ditadura, a Comissão de Familiares de Desaparecidos Políticos denunciava a existência de um cemitério clandestino na capital paulista. Mas foi só em 1990, com o fim do regime militar, que a Vala de Perus foi descoberta. Estado pede desculpas a parentes de pessoas mortas pela ditadura militar, encontradas em cemitério em São Paulo Reprodução/TV Globo Em São Paulo, em um cemitério da cidade, outra cerimônia relembrou um capítulo sombrio do passado recente do Brasil. No palco montado ao lado do local onde vítimas da ditadura foram enterradas como indigentes, uma cerimônia histórica. "O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, em nome do Estado brasileiro, pede desculpas aos familiares dos desaparecidos políticos durante a ditadura militar brasileira iniciada em 1964 e à sociedade brasileira pela negligência, entre 1990 e 2014, na condução dos trabalhos de identificação das ossadas encontradas na Vala Clandestina de Perus”, disse a ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo. A retratação é uma das recomendações de uma ação civil pública contra a União, homologada em dezembro de 2024, que pedia pressa na identificação. "Quando o Estado comete um ato violento, o pedido formal de desculpas faz parte do processo de reparação, porque ele restabelece a memória e restabelece a verdade”, afirmou Macaé Evaristo, ministra dos Direitos Humanos e Cidadania. No palco montado ao lado do local onde vítimas da ditadura foram enterradas como indigentes foi feita uma cerimônia histórica Reprodução/TV Globo Gilberto Molina representou as famílias dos desaparecidos políticos na solenidade. Os restos mortais do irmão dele, Flávio Carvalho Molina, estavam na Vala de Perus e foram identificados em 2005, mais de três décadas depois da morte de Flávio sob tortura, aos 24 anos, no DOI-CODI em São Paulo. "A minha família passou por quase 50 anos por um velório, eu chamo de velório porque era frequente isso daí, essa busca, essa angústia, essa expectativa e decepções. Os familiares que hoje ainda têm essa pendência estão com um período de velório assim muito maior. Então, eu espero agora que a gente consiga realmente atender a todos os familiares”, disse o engenheiro aposentado Gilberto Molina. A Vala Clandestina de Perus fica no Cemitério Dom Bosco, na Zona Norte de São Paulo, onde há quase 30 anos foi erguido um memorial. Na década de 1970, em plena ditadura, a Comissão de Familiares de Desaparecidos Políticos denunciava a existência de um cemitério clandestino na capital paulista. Mas foi só em 1990, com o fim do regime militar, que a Vala de Perus foi finalmente descoberta. Foi o repórter Caco Barcellos quem denunciou esse caso pela primeira vez. "O mistério começou a acabar às 10h de hoje quando a prefeitura determinou a abertura da vala. Em poucos minutos de escavação, os funcionários comprovaram a antiga suspeita. Veja só, encontraram a primeira ossada dentro de um saco de plástico”, relatou o repórter Caco Barcellos em 5 de setembro de 1990. Em 1990, com o fim do regime militar, a Vala de Perus foi finalmente descoberta Reprodução/TV Globo Mais de mil ossadas foram recolhidas. Os corpos de opositores da ditatura foram enterrados junto a restos mortais de indigentes. Ao longo dos anos, familiares de vítimas da ditadura denunciaram o abandono desse material e a lentidão do processo de identificação. Até hoje, apenas cinco pessoas foram identificadas. A ministra dos Direitos Humanos se comprometeu a retomar e agilizar esse trabalho. Uma espera que não terminou para a família do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado pela ditadura. Até agora não se sabe o paradeiro do corpo dele. A filha Vera, que estava na cerimônia, fala da importância dessa iniciativa. "Estar em paz, sabendo onde ele está enterrado e poder ir ao cemitério visitar como a gente faz com minha mãe, a Eunice. Então é isso”, disse Vera Paiva, integrante da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. LEIA TAMBÉM Macaé Evaristo faz pedido de desculpas em nome do estado brasileiro aos familiares das vítimas encontradas em vala de Perus Comissão vai retomar buscas por restos mortais de vítimas da ditadura militar; veja como vai funcionar


Na década de 1970, em plena ditadura, a Comissão de Familiares de Desaparecidos Políticos denunciava a existência de um cemitério clandestino na capital paulista. Mas foi só em 1990, com o fim do regime militar, que a Vala de Perus foi descoberta. Estado pede desculpas a parentes de pessoas mortas pela ditadura militar, encontradas em cemitério em São Paulo Reprodução/TV Globo Em São Paulo, em um cemitério da cidade, outra cerimônia relembrou um capítulo sombrio do passado recente do Brasil. No palco montado ao lado do local onde vítimas da ditadura foram enterradas como indigentes, uma cerimônia histórica. "O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, em nome do Estado brasileiro, pede desculpas aos familiares dos desaparecidos políticos durante a ditadura militar brasileira iniciada em 1964 e à sociedade brasileira pela negligência, entre 1990 e 2014, na condução dos trabalhos de identificação das ossadas encontradas na Vala Clandestina de Perus”, disse a ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo. A retratação é uma das recomendações de uma ação civil pública contra a União, homologada em dezembro de 2024, que pedia pressa na identificação. "Quando o Estado comete um ato violento, o pedido formal de desculpas faz parte do processo de reparação, porque ele restabelece a memória e restabelece a verdade”, afirmou Macaé Evaristo, ministra dos Direitos Humanos e Cidadania. No palco montado ao lado do local onde vítimas da ditadura foram enterradas como indigentes foi feita uma cerimônia histórica Reprodução/TV Globo Gilberto Molina representou as famílias dos desaparecidos políticos na solenidade. Os restos mortais do irmão dele, Flávio Carvalho Molina, estavam na Vala de Perus e foram identificados em 2005, mais de três décadas depois da morte de Flávio sob tortura, aos 24 anos, no DOI-CODI em São Paulo. "A minha família passou por quase 50 anos por um velório, eu chamo de velório porque era frequente isso daí, essa busca, essa angústia, essa expectativa e decepções. Os familiares que hoje ainda têm essa pendência estão com um período de velório assim muito maior. Então, eu espero agora que a gente consiga realmente atender a todos os familiares”, disse o engenheiro aposentado Gilberto Molina. A Vala Clandestina de Perus fica no Cemitério Dom Bosco, na Zona Norte de São Paulo, onde há quase 30 anos foi erguido um memorial. Na década de 1970, em plena ditadura, a Comissão de Familiares de Desaparecidos Políticos denunciava a existência de um cemitério clandestino na capital paulista. Mas foi só em 1990, com o fim do regime militar, que a Vala de Perus foi finalmente descoberta. Foi o repórter Caco Barcellos quem denunciou esse caso pela primeira vez. "O mistério começou a acabar às 10h de hoje quando a prefeitura determinou a abertura da vala. Em poucos minutos de escavação, os funcionários comprovaram a antiga suspeita. Veja só, encontraram a primeira ossada dentro de um saco de plástico”, relatou o repórter Caco Barcellos em 5 de setembro de 1990. Em 1990, com o fim do regime militar, a Vala de Perus foi finalmente descoberta Reprodução/TV Globo Mais de mil ossadas foram recolhidas. Os corpos de opositores da ditatura foram enterrados junto a restos mortais de indigentes. Ao longo dos anos, familiares de vítimas da ditadura denunciaram o abandono desse material e a lentidão do processo de identificação. Até hoje, apenas cinco pessoas foram identificadas. A ministra dos Direitos Humanos se comprometeu a retomar e agilizar esse trabalho. Uma espera que não terminou para a família do ex-deputado Rubens Paiva, assassinado pela ditadura. Até agora não se sabe o paradeiro do corpo dele. A filha Vera, que estava na cerimônia, fala da importância dessa iniciativa. "Estar em paz, sabendo onde ele está enterrado e poder ir ao cemitério visitar como a gente faz com minha mãe, a Eunice. Então é isso”, disse Vera Paiva, integrante da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos. LEIA TAMBÉM Macaé Evaristo faz pedido de desculpas em nome do estado brasileiro aos familiares das vítimas encontradas em vala de Perus Comissão vai retomar buscas por restos mortais de vítimas da ditadura militar; veja como vai funcionar