Grande Recife tem maior número de crianças baleadas da série histórica do Instituto Fogo Cruzado e lidera ranking entre capitais mapeadas

Veja os vídeos que estão em alta no g1 Dois meses antes do fim do ano, o Grande Recife já registra uma marca histórica: 2025 foi o ano em que mais crianças foram baleadas na região metropolitana da capital desde que o Instituto Fogo Cruzado iniciou o mapeamento de tiroteios na região, em 2018. O Grande Recife também lidera o ranking entre as regiões metropolitanas mapeadas pelo Instituto Fogo Cruzado no país. Até o momento, o Rio de Janeiro soma 13 crianças baleadas neste ano, Salvador registrou 5 e Belém não teve casos confirmados. ✅ Receba as notícias do g1 PE no WhatsApp Até esta segunda-feira (13), 15 crianças de até 11 anos foram atingidas por disparos de arma de fogo, das quais quatro morreram e 11 ficaram feridas, segundo dados do Fogo Cruzado. O número supera todos os anos anteriores e acende um alerta sobre a exposição de menores a conflitos armados e disputas criminosas em áreas urbanas. Emily Vitória Guimarães, de 6 anos, morreu após ser baleada em festa de aniversário Reprodução/Whatsapp Região Metropolitana do Recife: 15 crianças baleadas – 4 mortas e 11 feridas Região Metropolitana do Rio de Janeiro: 13 crianças baleadas – 3 mortas e 10 feridas Região Metropolitana de Salvador: 5 crianças baleadas – 1 morta e 4 feridas Região Metropolitana de Belém: sem crianças baleadas até o momento Em entrevista ao g1, a coordenadora do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco, a cientista social Ana Maria Franca, avaliou que o recorde reflete não apenas a persistência da violência armada na Região Metropolitana do Recife (RMR), mas também mudanças nas dinâmicas criminais que afetam diretamente a população. Para a especialista, os casos de crianças baleadas "não são mais episódios isolados", mas um reflexo da violência que atinge toda a população. “São situações que vêm cada vez mais vitimizando crianças, que são uma parcela da população que não deveria nem conviver com isso e, para além de conviver, ela está sendo vitimizada”, disse. Segundo ela, as crianças não costumavam figurar entre as principais vítimas desse tipo de ocorrência. “Criança ser baleada aqui era de fato um evento raro, dentro dos números que a gente já registra de outras vítimas. O que a gente tem percebido a partir dos dados é que está tendo uma mudança também no perfil da violência aqui da região metropolitana”, disse. Ana Maria explicou que, das 15 crianças baleadas em 2025, seis foram atingidas em situações de disputa entre grupos criminosos. Esse tipo de contexto, segundo ela, não era comum em anos anteriores e mostra um cenário em que os conflitos por território têm se intensificado. “A gente está falando de crianças que foram baleadas na porta de casa, a gente teve casos de crianças baleadas em festa de aniversário infantil. Elas geralmente estão no espaço público, vivendo a vida tranquilamente, e são baleadas também em situações de bala perdida”, disse. De acordo com a cientista social, o levantamento realizado é quantitativo e não investigou as causas diretas de cada caso, mas é capaz de identificar tendências a partir dos dados coletados. “O que acontece é que, no Rio de Janeiro e em Salvador, aparece muitas crianças baleadas em operações policiais, por exemplo. Essa dinâmica a gente não tem aqui. O que temos é uma mudança no perfil da violência”, afirmou. “Os motivos pelos quais esses grupos têm entrado em mais conflitos é uma resposta que precisa de uma qualificação maior, mas certamente está havendo uma mudança. [...] Acabou de sair um dado recente do Instituto Sou da Paz dizendo que Pernambuco está num número baixíssimo em termos de resoluções de crimes, então a gente também tem uma falha nas investigações”, destacou Ana Maria. Para ela, a falta de apuração e de estratégias de inteligência contribui para a perpetuação dos conflitos. “Se a gente está falando de um possível aumento em relação ao crime organizado, precisa ter investigações que levem de fato à solução desses conflitos, que sejam preventivas na verdade, porque depois que a violência acontece, infelizmente a gente vai chegar nesses números que a gente está falando, de crianças baleadas”, disse. Ela reforçou que os números do Fogo Cruzado devem servir como ponto de partida para políticas públicas e ações integradas. “Os dados são sempre pontos de partida, tanto para a formulação de políticas públicas como também para compreender o problema”, afirmou. Relembre as crianças baladas no Grande Recife em 2025 1º de janeiro: Bento, 4 anos – Ferido quando estava em uma parada de ônibus com o pai, que morreu, na Rua José Lins do Rêgo, no bairro do Pacheco, em Jaboatão dos Guararapes. 9 de fevereiro: Menino, 9 anos – Ferido por bala perdida durante uma ação policial no bairro de Ponte dos Carvalhos, no município do Cabo de Santo Agostinho. 4 de março: Menino, 6 anos – Ferido por disparos em um bloco de carnaval, na Avenida David Guerra de Araújo, no Centro de Itapissuma. 28 de março: Emilly, 7 anos – Ferida por uma bala perdida na comunidade conhecida como "Cabo Gato", no

Out 13, 2025 - 18:30
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Grande Recife tem maior número de crianças baleadas da série histórica do Instituto Fogo Cruzado e lidera ranking entre capitais mapeadas

Veja os vídeos que estão em alta no g1 Dois meses antes do fim do ano, o Grande Recife já registra uma marca histórica: 2025 foi o ano em que mais crianças foram baleadas na região metropolitana da capital desde que o Instituto Fogo Cruzado iniciou o mapeamento de tiroteios na região, em 2018. O Grande Recife também lidera o ranking entre as regiões metropolitanas mapeadas pelo Instituto Fogo Cruzado no país. Até o momento, o Rio de Janeiro soma 13 crianças baleadas neste ano, Salvador registrou 5 e Belém não teve casos confirmados. ✅ Receba as notícias do g1 PE no WhatsApp Até esta segunda-feira (13), 15 crianças de até 11 anos foram atingidas por disparos de arma de fogo, das quais quatro morreram e 11 ficaram feridas, segundo dados do Fogo Cruzado. O número supera todos os anos anteriores e acende um alerta sobre a exposição de menores a conflitos armados e disputas criminosas em áreas urbanas. Emily Vitória Guimarães, de 6 anos, morreu após ser baleada em festa de aniversário Reprodução/Whatsapp Região Metropolitana do Recife: 15 crianças baleadas – 4 mortas e 11 feridas Região Metropolitana do Rio de Janeiro: 13 crianças baleadas – 3 mortas e 10 feridas Região Metropolitana de Salvador: 5 crianças baleadas – 1 morta e 4 feridas Região Metropolitana de Belém: sem crianças baleadas até o momento Em entrevista ao g1, a coordenadora do Instituto Fogo Cruzado em Pernambuco, a cientista social Ana Maria Franca, avaliou que o recorde reflete não apenas a persistência da violência armada na Região Metropolitana do Recife (RMR), mas também mudanças nas dinâmicas criminais que afetam diretamente a população. Para a especialista, os casos de crianças baleadas "não são mais episódios isolados", mas um reflexo da violência que atinge toda a população. “São situações que vêm cada vez mais vitimizando crianças, que são uma parcela da população que não deveria nem conviver com isso e, para além de conviver, ela está sendo vitimizada”, disse. Segundo ela, as crianças não costumavam figurar entre as principais vítimas desse tipo de ocorrência. “Criança ser baleada aqui era de fato um evento raro, dentro dos números que a gente já registra de outras vítimas. O que a gente tem percebido a partir dos dados é que está tendo uma mudança também no perfil da violência aqui da região metropolitana”, disse. Ana Maria explicou que, das 15 crianças baleadas em 2025, seis foram atingidas em situações de disputa entre grupos criminosos. Esse tipo de contexto, segundo ela, não era comum em anos anteriores e mostra um cenário em que os conflitos por território têm se intensificado. “A gente está falando de crianças que foram baleadas na porta de casa, a gente teve casos de crianças baleadas em festa de aniversário infantil. Elas geralmente estão no espaço público, vivendo a vida tranquilamente, e são baleadas também em situações de bala perdida”, disse. De acordo com a cientista social, o levantamento realizado é quantitativo e não investigou as causas diretas de cada caso, mas é capaz de identificar tendências a partir dos dados coletados. “O que acontece é que, no Rio de Janeiro e em Salvador, aparece muitas crianças baleadas em operações policiais, por exemplo. Essa dinâmica a gente não tem aqui. O que temos é uma mudança no perfil da violência”, afirmou. “Os motivos pelos quais esses grupos têm entrado em mais conflitos é uma resposta que precisa de uma qualificação maior, mas certamente está havendo uma mudança. [...] Acabou de sair um dado recente do Instituto Sou da Paz dizendo que Pernambuco está num número baixíssimo em termos de resoluções de crimes, então a gente também tem uma falha nas investigações”, destacou Ana Maria. Para ela, a falta de apuração e de estratégias de inteligência contribui para a perpetuação dos conflitos. “Se a gente está falando de um possível aumento em relação ao crime organizado, precisa ter investigações que levem de fato à solução desses conflitos, que sejam preventivas na verdade, porque depois que a violência acontece, infelizmente a gente vai chegar nesses números que a gente está falando, de crianças baleadas”, disse. Ela reforçou que os números do Fogo Cruzado devem servir como ponto de partida para políticas públicas e ações integradas. “Os dados são sempre pontos de partida, tanto para a formulação de políticas públicas como também para compreender o problema”, afirmou. Relembre as crianças baladas no Grande Recife em 2025 1º de janeiro: Bento, 4 anos – Ferido quando estava em uma parada de ônibus com o pai, que morreu, na Rua José Lins do Rêgo, no bairro do Pacheco, em Jaboatão dos Guararapes. 9 de fevereiro: Menino, 9 anos – Ferido por bala perdida durante uma ação policial no bairro de Ponte dos Carvalhos, no município do Cabo de Santo Agostinho. 4 de março: Menino, 6 anos – Ferido por disparos em um bloco de carnaval, na Avenida David Guerra de Araújo, no Centro de Itapissuma. 28 de março: Emilly, 7 anos – Ferida por uma bala perdida na comunidade conhecida como "Cabo Gato", no bairro de Peixinhos, em Olinda. 12 de abril: Helen, 4 anos – Morta por uma bala perdida no Córrego do Deodato no dia de seu aniversário, em Água Fria, no Recife. 13 de abril: Menino, 7 anos – Ferido em uma casa de festas na Rua Nigéria, em Aguazinha, Olinda. 2 de maio: Menina, 9 anos – Ferida por uma bala perdida em uma ação policial em Campina do Barreto, bairro da Zona Norte do Recife. 15 de junho: Bebê, 8 meses – Morto durante um ataque a tiros quando estava no carro dos pais, em Jardim Piedade, Jaboatão dos Guararapes. 18 de junho: Gustavo, 5 anos – Ferido por uma bala perdida enquanto aguardava a mãe nos braços do pai, na Bomba do Hemetério, Zona Norte do Recife. 23 de junho: Laysa Sophia, 9 anos – Ferida por uma bala perdida na Rua Osvaldo Rabelo, na Comunidade Sem Terra, no município de Goiana. 9 de julho: Menino, 8 anos – Ferido em uma residência no bairro Arthur Lundgren I, em Paulista. A criança estava na casa da cuidadora, que também foi baleada, quando houve o ataque. 20 de julho: Emile Vitória, 6 anos – Morta após ser baleada na cabeça em uma festa infantil, na Comunidade do Cajá, em Jardim Jordão, Jaboatão dos Guararapes. 20 de julho: Menina, 5 anos – Ferida durante um ataque a tiros na mesma festa em que Emile foi atingida, em Jaboatão dos Guararapes. 10 de outubro: Menino, 9 anos – Morto ao ser atingido no pulmão por uma bala perdida na rua de casa no bairro da Macaxeira, Zona Norte do Recife. 10 de outubro: Menino, 4 anos – Ferido na perna por uma bala perdida durante o mesmo tiroteio no bairro da Macaxeira, no Recife. O g1 procurou o governo de Pernambuco para saber a que o executivo estadual atribui o aumento do número de crianças baleadas e quais são as estratégias para lidar com a situação atualmente, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. Em julho, parentes de Emile Vitória falaram sobre tiroteio que deixou menina de 6 anos morta em Jaboatão dos Guararapes (veja vídeo abaixo). Parentes da menina baleada em festa de aniversário infantil falam sobre o caso VÍDEOS: mais vistos de Pernambuco nos últimos 7 dias