Ninguém vai ganhar 100%, senão não seria acordo, diz Haddad ao defender Mercosul e União Europeia

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira (31) que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia não vai ser 100% benéfico para os dois lados. Lula defende aproximação do Mercosul com o Japão "Nós não vamos chegar a uma conta que vai ser 100% benéfica para um dos lados porque senão não seria um acordo, seria outra coisa, seria uma imposição de um lado a outro", declarou durante evento do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), na França. Haddad defendeu que a Europa tenha "um olhar político" para o acordo, em defesa do multilateralismo. "Acredito que a Europa deveria ter um olhar político sobre esse acordo também e não apenas ficar discutindo item por item onde você vai ganhar, onde você vai perder", declarou. O ministro afirmou que o acordo não traz grandes vantagens econômicas ao Mercosul, mas que, na sua opinião, a insistência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em assinar o documento tem motivações políticas, para "oferecer uma alternativa a um mundo bipolar". "Nós podemos ter uma prática absolutamente defensiva, dizer não ao acordo, ou porque vai desindustrializar o Brasil ou porque vai afetar a produção agrícola francesa ou polonesa... [Mas] Nós podemos pensar diferente, integrar nossas cadeias produtivas de forma a buscar sustentabilidade, tanto social quanto ambiental", declarou. Acordo de livre comércio O acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia foi anunciado oficialmente em dezembro de 2024, após a reunião dos líderes dos blocos na cúpula do Mercosul em Montevidéu, no Uruguai. A assinatura do acordo só acontece depois que os textos passarem por uma revisão jurídica e de serem traduzidos para os idiomas oficiais dos países envolvidos. Para passar a valer, no entanto, o acordo precisa ser aprovado pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da União Europeia, os dois principais órgãos de decisão do bloco. O acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia tem o objetivo de reduzir ou zerar as tarifas de importação e exportação entre os dois blocos. Estão previstos tratados em temas importantes, tais como: Cooperação política; Cooperação ambiental; Livre-comércio entre os dois blocos; Harmonização de normas sanitárias e fitossanitárias (que são voltadas para o controle de pragas e doenças); Proteção dos direitos de propriedade intelectual; e Abertura para compras governamentais. As negociações começaram em 1999 e um termo preliminar foi assinado em 2019. Desde então, o texto passou por revisões e exigências adicionais, principalmente por parte da União Europeia, devido à pressão imposta principalmente por agricultores dos países-membros.

Mar 31, 2025 - 16:30
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Ninguém vai ganhar 100%, senão não seria acordo, diz Haddad ao defender Mercosul e União Europeia
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira (31) que o acordo entre o Mercosul e a União Europeia não vai ser 100% benéfico para os dois lados. Lula defende aproximação do Mercosul com o Japão "Nós não vamos chegar a uma conta que vai ser 100% benéfica para um dos lados porque senão não seria um acordo, seria outra coisa, seria uma imposição de um lado a outro", declarou durante evento do Instituto de Estudos Políticos de Paris (Sciences Po), na França. Haddad defendeu que a Europa tenha "um olhar político" para o acordo, em defesa do multilateralismo. "Acredito que a Europa deveria ter um olhar político sobre esse acordo também e não apenas ficar discutindo item por item onde você vai ganhar, onde você vai perder", declarou. O ministro afirmou que o acordo não traz grandes vantagens econômicas ao Mercosul, mas que, na sua opinião, a insistência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em assinar o documento tem motivações políticas, para "oferecer uma alternativa a um mundo bipolar". "Nós podemos ter uma prática absolutamente defensiva, dizer não ao acordo, ou porque vai desindustrializar o Brasil ou porque vai afetar a produção agrícola francesa ou polonesa... [Mas] Nós podemos pensar diferente, integrar nossas cadeias produtivas de forma a buscar sustentabilidade, tanto social quanto ambiental", declarou. Acordo de livre comércio O acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia foi anunciado oficialmente em dezembro de 2024, após a reunião dos líderes dos blocos na cúpula do Mercosul em Montevidéu, no Uruguai. A assinatura do acordo só acontece depois que os textos passarem por uma revisão jurídica e de serem traduzidos para os idiomas oficiais dos países envolvidos. Para passar a valer, no entanto, o acordo precisa ser aprovado pelo Parlamento Europeu e pelo Conselho da União Europeia, os dois principais órgãos de decisão do bloco. O acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia tem o objetivo de reduzir ou zerar as tarifas de importação e exportação entre os dois blocos. Estão previstos tratados em temas importantes, tais como: Cooperação política; Cooperação ambiental; Livre-comércio entre os dois blocos; Harmonização de normas sanitárias e fitossanitárias (que são voltadas para o controle de pragas e doenças); Proteção dos direitos de propriedade intelectual; e Abertura para compras governamentais. As negociações começaram em 1999 e um termo preliminar foi assinado em 2019. Desde então, o texto passou por revisões e exigências adicionais, principalmente por parte da União Europeia, devido à pressão imposta principalmente por agricultores dos países-membros.