Teste identifica autismo com análise dos olhos em 15 minutos; entenda ressalvas da técnica em uso nos EUA
Exame pode ser feito em bebês de 14 a 30 meses nos Estados Unidos reprodução Fantástico O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem origem genética e envolve déficits na comunicação e na interação social. O diagnóstico é clínico e, geralmente, envolve uma equipe multidisciplinar — com pediatras, psicólogos e neurologistas. No entanto, novas formas de avaliação estão sendo testadas. O método, aprovado nos Estados Unidos em agosto de 2023, pode revolucionar o diagnóstico precoce do autismo. Nele, os olhos das crianças são monitorados enquanto assistem a vídeos e o resultado pode sair em apenas 15 minutos. Mas médicos brasileiros alertam para os riscos de um único biomarcador num diagnóstico tão complexo. O estudo é conduzido pelo brasileiro Ami Klin, diretor do principal centro de tratamento de autismo dos EUA, localizado em Atlanta. O exame foi aprovado pelo órgão regulador americano em agosto de 2023 e, por enquanto, é aplicado em crianças entre 1 ano e 4 meses e 2 anos e meio. Ainda não há previsão para que a tecnologia chegue ao Brasil — o uso depende da aprovação dos órgãos regulatórios nacionais. O diagnóstico tradicional e os alertas para um único biomarcador O diagnóstico do autismo é clínico e pode ser feito a partir dos 18 meses. A partir dos três anos, ele tem uma validade maior, segundo o psiquiatra de crianças e adolescentes e professor de psiquiatria da USP Guilherme Polanczyk. Ele envolve o exame direto, através de uma avaliação direta do médico com a criança, testes padronizados, a história do desenvolvimento da criança relatada pelos pais e muitas vezes por outros informantes também. Polanczyk explicou ao g1 que a comunidade médica não tem a expectativa de um único biomarcador para o diagnóstico do autismo. “A falta do contato ocular é um marcador muito frequente em crianças com autismo. Muitas vezes a criança no primeiro ano olha nos olhos, mas a partir de um determinado momento, esse olhar no olho fica que fica cada vez menos frequente. Depois, isso é um alvo de tratamento e as pessoas podem desenvolver melhor essa habilidade”, diz o médico. Mas como o autismo é muito heterogêneo, há pessoas que desde cedo não tinham contato ocular, outras que tinham e depois perderam e outras que sempre mantiveram. Polanczyk explica ainda que o fato de o novo método de diagnóstico aprovado nos EUA ter sido avaliado numa amostra específica e num determinado contexto é o início de um processo que vai precisar ser validado em outros contextos, com outras populações. “Será preciso entender, por exemplo, como esse marcador funciona em população com autismo e TDAH, com autismo e dificuldades sensoriais ou só com dificuldades sensoriais. Enfim, tem um processo de validação do biomarcador que exige vários estudos. A gente não tem essa expectativa de que um único marcador seja possível para o diagnóstico de algo tão complexo e tão heterogêneo”, afirma. O médico comenta que não são 100% das pessoas com autismo que têm prejuízos de contato ocular, por exemplo. Muitas vezes, outras questões fazem com que alguém não tenha o contato ocular. Polanczyk acrescenta ainda que a comunidade médica tem ainda toda uma preocupação de oferecer tratamento e intervenções para quem tem o diagnóstico. “Uma disseminação de uma ferramenta de diagnóstico de uma forma ampla na comunidade, sem que isso venha acompanhado de um treinamento maior dos profissionais, de intervenções adequadas para essas crianças com autismo ou outras condições pode ter um potencial de causar dano”, explica. Ele comenta ainda que a possibilidade de avaliar o risco genético de cada indivíduo e o quanto isso contribui para o diagnóstico provavelmente é um biomarcador com mais potencial do que o contato ocular. Além disso, as tecnologias de inteligência artificial, que permitem lidar com muitos dados certamente vão contribuir mais para um diagnóstico mais preciso. Saiba mais sobre o autismo O neuropediatra Carlos Gadia, especialista no tema, conversou com o Bem-Estar e explicou os sinais do TEA. Ele ressaltou que a ideia de que cada criança se desenvolve ao seu tempo é válida dentro dos limites da normalidade: “A gente sabe que tem crianças que começam a falar com sete ou oito meses e outras que começam a falar com 16 meses. Mas uma criança com 3 anos que não está se comunicando é sempre anormal”, afirma. Segundo o médico, é preciso investigar casos em que crianças de 12 meses ainda não dão tchauzinho, não respondem quando chamadas pelo nome ou não sorriem. O mesmo vale para crianças que, em qualquer idade, apresentem regressão — ou seja, percam habilidades que já haviam adquirido. A base do tratamento para o TEA envolve intervenções comportamentais e fonoaudiológicas, com foco no desenvolvimento da linguagem. Gadia reforça que os pais e familiares têm papel essencial no tratamento e alerta contra a ideia de que há um “prazo de validade” para o desenvolvimento: “Nada vai acontecer sem a participação da família. Não aceitem nenhum tipo de terapia n


Exame pode ser feito em bebês de 14 a 30 meses nos Estados Unidos reprodução Fantástico O Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem origem genética e envolve déficits na comunicação e na interação social. O diagnóstico é clínico e, geralmente, envolve uma equipe multidisciplinar — com pediatras, psicólogos e neurologistas. No entanto, novas formas de avaliação estão sendo testadas. O método, aprovado nos Estados Unidos em agosto de 2023, pode revolucionar o diagnóstico precoce do autismo. Nele, os olhos das crianças são monitorados enquanto assistem a vídeos e o resultado pode sair em apenas 15 minutos. Mas médicos brasileiros alertam para os riscos de um único biomarcador num diagnóstico tão complexo. O estudo é conduzido pelo brasileiro Ami Klin, diretor do principal centro de tratamento de autismo dos EUA, localizado em Atlanta. O exame foi aprovado pelo órgão regulador americano em agosto de 2023 e, por enquanto, é aplicado em crianças entre 1 ano e 4 meses e 2 anos e meio. Ainda não há previsão para que a tecnologia chegue ao Brasil — o uso depende da aprovação dos órgãos regulatórios nacionais. O diagnóstico tradicional e os alertas para um único biomarcador O diagnóstico do autismo é clínico e pode ser feito a partir dos 18 meses. A partir dos três anos, ele tem uma validade maior, segundo o psiquiatra de crianças e adolescentes e professor de psiquiatria da USP Guilherme Polanczyk. Ele envolve o exame direto, através de uma avaliação direta do médico com a criança, testes padronizados, a história do desenvolvimento da criança relatada pelos pais e muitas vezes por outros informantes também. Polanczyk explicou ao g1 que a comunidade médica não tem a expectativa de um único biomarcador para o diagnóstico do autismo. “A falta do contato ocular é um marcador muito frequente em crianças com autismo. Muitas vezes a criança no primeiro ano olha nos olhos, mas a partir de um determinado momento, esse olhar no olho fica que fica cada vez menos frequente. Depois, isso é um alvo de tratamento e as pessoas podem desenvolver melhor essa habilidade”, diz o médico. Mas como o autismo é muito heterogêneo, há pessoas que desde cedo não tinham contato ocular, outras que tinham e depois perderam e outras que sempre mantiveram. Polanczyk explica ainda que o fato de o novo método de diagnóstico aprovado nos EUA ter sido avaliado numa amostra específica e num determinado contexto é o início de um processo que vai precisar ser validado em outros contextos, com outras populações. “Será preciso entender, por exemplo, como esse marcador funciona em população com autismo e TDAH, com autismo e dificuldades sensoriais ou só com dificuldades sensoriais. Enfim, tem um processo de validação do biomarcador que exige vários estudos. A gente não tem essa expectativa de que um único marcador seja possível para o diagnóstico de algo tão complexo e tão heterogêneo”, afirma. O médico comenta que não são 100% das pessoas com autismo que têm prejuízos de contato ocular, por exemplo. Muitas vezes, outras questões fazem com que alguém não tenha o contato ocular. Polanczyk acrescenta ainda que a comunidade médica tem ainda toda uma preocupação de oferecer tratamento e intervenções para quem tem o diagnóstico. “Uma disseminação de uma ferramenta de diagnóstico de uma forma ampla na comunidade, sem que isso venha acompanhado de um treinamento maior dos profissionais, de intervenções adequadas para essas crianças com autismo ou outras condições pode ter um potencial de causar dano”, explica. Ele comenta ainda que a possibilidade de avaliar o risco genético de cada indivíduo e o quanto isso contribui para o diagnóstico provavelmente é um biomarcador com mais potencial do que o contato ocular. Além disso, as tecnologias de inteligência artificial, que permitem lidar com muitos dados certamente vão contribuir mais para um diagnóstico mais preciso. Saiba mais sobre o autismo O neuropediatra Carlos Gadia, especialista no tema, conversou com o Bem-Estar e explicou os sinais do TEA. Ele ressaltou que a ideia de que cada criança se desenvolve ao seu tempo é válida dentro dos limites da normalidade: “A gente sabe que tem crianças que começam a falar com sete ou oito meses e outras que começam a falar com 16 meses. Mas uma criança com 3 anos que não está se comunicando é sempre anormal”, afirma. Segundo o médico, é preciso investigar casos em que crianças de 12 meses ainda não dão tchauzinho, não respondem quando chamadas pelo nome ou não sorriem. O mesmo vale para crianças que, em qualquer idade, apresentem regressão — ou seja, percam habilidades que já haviam adquirido. A base do tratamento para o TEA envolve intervenções comportamentais e fonoaudiológicas, com foco no desenvolvimento da linguagem. Gadia reforça que os pais e familiares têm papel essencial no tratamento e alerta contra a ideia de que há um “prazo de validade” para o desenvolvimento: “Nada vai acontecer sem a participação da família. Não aceitem nenhum tipo de terapia nas quais elas sejam relegadas ao papel de espectador — do tipo: eu pego meu filho, deixo lá e vou embora. E essa ideia de que, em algum momento, as janelas de desenvolvimento do cérebro se fecham e não adianta mais fazer nada é absolutamente errada.” O SUS oferece atendimento a pessoas com Transtorno do Espectro Autista por meio da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, que conta com 577 unidades em todo o país. Uma pesquisa do IBGE mostrou que 2,4 milhões de pessoas foram diagnosticadas com TEA no Brasil — o equivalente a pouco mais de 1% da população. Já entre as crianças, dados de pesquisadores americanos indicam que uma a cada 31 vive com o transtorno do desenvolvimento. Ami Klin é o diretor do principal centro de tratamento de autismo dos EUA, localizado em Atlanta, e responsável pelo exame que usa rastreamento ocular em bebês para diagnosticar autismo em até 15 minutos reprodução LEIA TAMBÉM: FANTÁSTICO: 'O autismo não é uma doença', diz neurocientista brasileiro Ami Klin Brasil tem 2,4 milhões de pessoas diagnosticadas com autismo, aponta Censo; homens são maioria Há mais pessoas autistas hoje em dia? Por que é tão difícil decifrar o mistério genético do autismo Existe 'epidemia de autismo' nos EUA? O que há por trás da tese do governo Trump criticada por especialistas Infinitos diversos: confira as principais características das pessoas com austismo