Além do sorriso: a importância dos cuidados com a saúde bucal durante e após o tratamento do câncer

Aos 69 anos, Geomires Costa é um dos pacientes que cuida da saúde bucal em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, após se curar de um câncer no palato, conhecido como "céu da boca". O diagnóstico da doença foi em 2015, após sentir forte rouquidão na voz. Antes de se aposentar, o idoso trabalhava como mecânico, e tinha o hábito de transferir o óleo diesel para outros recipientes através de uma mangueira com auxílio da boca. Acontece que com essa prática, o combustível entra em contato com a parte interna da boca e pode gerar diversos problemas para a saúde. Segundo o idoso, os médicos alertaram que essa pode ter sido a causa para o desenvolvimento do câncer bucal. Segundo os médicos especialistas, a doença pode se manifestar de maneira mais específica através dos seguintes sintomas: Feridas na boca que não cicatrizam em até 15 dias: Essa é a principal característica do câncer bucal; Manchas vermelhas ou brancas na boca: Elas podem ser planas ou salientes e também ser um sinal precoce de câncer; Dificuldade para mastigar, engolir ou falar; Dor na boca: De forma persistente ou sem causa aparente, também pode ser um sinal de alerta; Inchaço no pescoço: Pode indicar que o câncer se espalhou para os gânglios linfáticos. Com a voz rouca e certa dificuldade na fala, Geomires contou para o g1 Caruaru que no tratamento, seria preciso remover os dentes, mas caso isso acontecesse, ele não suportaria (veja no vídeo abaixo). Mesmo após a cura, o idoso continua o tratamento especializado a base da laserterapia para tratar a cavidade oral e evitar problemas como mucosite, uma inflamação dolorosa na mucosa que se assemelha a aftas. Geomires, idoso de 69 anos, conta como é o tratamento bucal após descoberta de câncer “Na época era para tirar todos os dentes. Os médicos disseram ‘se forem tirar todos os dentes, ele não resiste não’. Aí fizeram o tratamento com os dentes. Eles [dentes] começaram a cair e ficarem moles... Eu ainda tirei um, faz um mês”, relatou Geomires. Também diagnosticada com câncer na boca, a aposentada Maria do Socorro, de 68 anos, trata, desde 2021, um tumor maligno na mandíbula. A doença teve início a partir de um dente siso que não foi extraído. Popularmente chamado de “dente queiro”, o siso costuma nascer entre os 17 e 25 anos, como resultado de um processo evolutivo da espécie humana. Segundo a estomatologista Sarah Rachel, dentista especializada no diagnóstico e tratamento de doenças da boca, na maioria dos casos é necessário extrair os dentes sisos para evitar o desenvolvimento de problemas bucais. No caso de Maria do Socorro, o dente cresceu ainda na juventude, mas não foi removido, mesmo ela tendo sido avaliada rotineiramente por dentistas ao longo dos anos. O câncer de Maria do Socorro está em metástase, processo em que as células cancerígenas se espalham para outras partes do corpo. Com dificuldades na fala devido aos efeitos da doença, que comprometeu toda a boca, ela relatou ao g1 o difícil processo de tratamento pelo qual tem passado, que inclui quimioterapia, radioterapia e imunoterapia (veja no vídeo abaixo). Maria do Socorro, diagnosticada com câncer, e Sarah Rachel, estomatologista, falam sobre câncer bucal Como a maioria dos brasileiros, as consultas médicas e odontológicos do idoso antes da doença eram escassas. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2024, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) mostrou que 60% dos brasileiros evitam o médico. Fazendo um recorte para a saúde bucal, o número também é alarmante: mais de 20 milhões de brasileiros nunca fizeram uma consulta odontológica e metade da população não vai ao dentista uma vez por ano, como recomenda o Ministério da Saúde (MS). A importância das consultas odontológicas Segundo Sarah Rachel, as consultas odontológicas vão muito além da limpeza dos dentes. Elas são essenciais para prevenir lesões, infecções e outras doenças na boca. A dentista também destacou o uso da laserterapia em pacientes oncológicos, que ajuda a aliviar sintomas e pode reduzir a necessidade de sonda alimentar. Para evitar complicações, ela reforça que cuidados básicos, como a higiene bucal adequada e consultas regulares ao dentista, são fundamentais para prevenir doenças que podem evoluir para o câncer de boca. Ana Paula Sobral, patologista oral e maxilofacial, acrescenta que a prevenção dos efeitos da radioterapia começa antes do tratamento. Segundo ela, o paciente deve ir ao dentista para fazer a chamada “adequação do meio bucal”, que envolve tratar cáries, realizar tratamentos de canal e fazer reabilitações para que ele não inicie a quimioterapia ou radioterapia com infecções. “Esse cuidado inicial é essencial, mas o acompanhamento odontológico deve continuar durante e depois do tratamento oncológico”, reforça a especialista. Além da genética, outros fatores como a ingestão de bebida alcoólica, fumar, má alimentação e exposição de forma prolongada ao sol podem provocar a doença. De acordo co

Jul 31, 2025 - 20:00
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Além do sorriso: a importância dos cuidados com a saúde bucal durante e após o tratamento do câncer

Aos 69 anos, Geomires Costa é um dos pacientes que cuida da saúde bucal em Caruaru, no Agreste de Pernambuco, após se curar de um câncer no palato, conhecido como "céu da boca". O diagnóstico da doença foi em 2015, após sentir forte rouquidão na voz. Antes de se aposentar, o idoso trabalhava como mecânico, e tinha o hábito de transferir o óleo diesel para outros recipientes através de uma mangueira com auxílio da boca. Acontece que com essa prática, o combustível entra em contato com a parte interna da boca e pode gerar diversos problemas para a saúde. Segundo o idoso, os médicos alertaram que essa pode ter sido a causa para o desenvolvimento do câncer bucal. Segundo os médicos especialistas, a doença pode se manifestar de maneira mais específica através dos seguintes sintomas: Feridas na boca que não cicatrizam em até 15 dias: Essa é a principal característica do câncer bucal; Manchas vermelhas ou brancas na boca: Elas podem ser planas ou salientes e também ser um sinal precoce de câncer; Dificuldade para mastigar, engolir ou falar; Dor na boca: De forma persistente ou sem causa aparente, também pode ser um sinal de alerta; Inchaço no pescoço: Pode indicar que o câncer se espalhou para os gânglios linfáticos. Com a voz rouca e certa dificuldade na fala, Geomires contou para o g1 Caruaru que no tratamento, seria preciso remover os dentes, mas caso isso acontecesse, ele não suportaria (veja no vídeo abaixo). Mesmo após a cura, o idoso continua o tratamento especializado a base da laserterapia para tratar a cavidade oral e evitar problemas como mucosite, uma inflamação dolorosa na mucosa que se assemelha a aftas. Geomires, idoso de 69 anos, conta como é o tratamento bucal após descoberta de câncer “Na época era para tirar todos os dentes. Os médicos disseram ‘se forem tirar todos os dentes, ele não resiste não’. Aí fizeram o tratamento com os dentes. Eles [dentes] começaram a cair e ficarem moles... Eu ainda tirei um, faz um mês”, relatou Geomires. Também diagnosticada com câncer na boca, a aposentada Maria do Socorro, de 68 anos, trata, desde 2021, um tumor maligno na mandíbula. A doença teve início a partir de um dente siso que não foi extraído. Popularmente chamado de “dente queiro”, o siso costuma nascer entre os 17 e 25 anos, como resultado de um processo evolutivo da espécie humana. Segundo a estomatologista Sarah Rachel, dentista especializada no diagnóstico e tratamento de doenças da boca, na maioria dos casos é necessário extrair os dentes sisos para evitar o desenvolvimento de problemas bucais. No caso de Maria do Socorro, o dente cresceu ainda na juventude, mas não foi removido, mesmo ela tendo sido avaliada rotineiramente por dentistas ao longo dos anos. O câncer de Maria do Socorro está em metástase, processo em que as células cancerígenas se espalham para outras partes do corpo. Com dificuldades na fala devido aos efeitos da doença, que comprometeu toda a boca, ela relatou ao g1 o difícil processo de tratamento pelo qual tem passado, que inclui quimioterapia, radioterapia e imunoterapia (veja no vídeo abaixo). Maria do Socorro, diagnosticada com câncer, e Sarah Rachel, estomatologista, falam sobre câncer bucal Como a maioria dos brasileiros, as consultas médicas e odontológicos do idoso antes da doença eram escassas. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2024, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) mostrou que 60% dos brasileiros evitam o médico. Fazendo um recorte para a saúde bucal, o número também é alarmante: mais de 20 milhões de brasileiros nunca fizeram uma consulta odontológica e metade da população não vai ao dentista uma vez por ano, como recomenda o Ministério da Saúde (MS). A importância das consultas odontológicas Segundo Sarah Rachel, as consultas odontológicas vão muito além da limpeza dos dentes. Elas são essenciais para prevenir lesões, infecções e outras doenças na boca. A dentista também destacou o uso da laserterapia em pacientes oncológicos, que ajuda a aliviar sintomas e pode reduzir a necessidade de sonda alimentar. Para evitar complicações, ela reforça que cuidados básicos, como a higiene bucal adequada e consultas regulares ao dentista, são fundamentais para prevenir doenças que podem evoluir para o câncer de boca. Ana Paula Sobral, patologista oral e maxilofacial, acrescenta que a prevenção dos efeitos da radioterapia começa antes do tratamento. Segundo ela, o paciente deve ir ao dentista para fazer a chamada “adequação do meio bucal”, que envolve tratar cáries, realizar tratamentos de canal e fazer reabilitações para que ele não inicie a quimioterapia ou radioterapia com infecções. “Esse cuidado inicial é essencial, mas o acompanhamento odontológico deve continuar durante e depois do tratamento oncológico”, reforça a especialista. Além da genética, outros fatores como a ingestão de bebida alcoólica, fumar, má alimentação e exposição de forma prolongada ao sol podem provocar a doença. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o termo abrange mais de 100 diferentes tipos de doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células, que podem invadir tecidos adjacentes ou órgãos a distância, causando complicações e podendo levar e morte. Como o tratamento oncológico afeta a saúde bucal O tratamento da doença é fundamental, embora os efeitos agressivos dos medicamentos possam prejudicar a saúde bucal. Pacientes submetidos à quimioterapia ou radioterapia podem apresentar efeitos adversos, como boca seca (xerostomia), mucosite (inflamação da mucosa), maior risco de infecções, cáries e, em casos mais graves, necrose óssea, que é a morte de uma parte do osso por falta de circulação de sangue na região. Com as sequelas, o ideal é que os pacientes tenham acompanhamento odontológico especializado para prevenir e tratar tais complicações bucais e possam ter uma melhor qualidade de vida durante e após o tratamento. Em entrevista ao g1 Caruaru, o médico oncologista Luiz Henrique Soares, responsável pelo Instituto do Câncer Infantil do Agreste (ICIA), afirmou que quando os pacientes são submetidos aos tratamentos à base de quimioterapia e radioterapia, precisam de um cuidado especial com laserterapia para evitar agravamentos. “Elas [as sessões de laserterapia] ajudam a diminuir o número de internações e complicações durante o tratamento oncológico. A odontologia é uma especialidade de extrema importância, tanto em nível ambulatorial quanto hospitalar", destaca o doutor. Democratização do acesso à saúde e tratamento do câncer De acordo com o Ministério da Saúde, todos os estados do Brasil tem ao menos um hospital habilitado em oncologia, onde o paciente de câncer poderá encontrar tratamentos, exames e até cirurgias mais complexas através de cirurgias mais complexas. Além do SUS, outras instituições também ofertam o tratamento oncológico de forma especializada. De forma filantrópica, o Instituto do Câncer Infantil do Agreste (ICIA) se destaca na Capital do Agreste. O local tem um papel fundamental na luta contra a doença e atende em média 1151 atendimentos mensais para crianças de diversos municípios do estado. Além dos quatro tipos de tratamento, as crianças e os pais e responsáveis também tem acesso a outros serviços de saúde como fisioterapia, atendimento psicológico e odontológico. "[Os profissionais da odontologia] estão sempre conosco para dar o suporte necessário que o paciente precisa durante o tratamento, prevenindo a perda de elementos dentários e a tão temida osteonecrose, que é a perda do osso maxilar, na mandíbula”, contou o doutor Luiz Henrique. Capacitação profissional e fiscalização CRO-PE promove capacitações e é atento às demandas da categoria Atento às demandas da saúde pública e com o objetivo de melhorar as condições de trabalho dos profissionais e, consequentemente, a qualidade do atendimento aos pacientes, o Conselho Regional de Odontologia de Pernambuco (CRO-PE) investe na capacitação contínua da categoria. Além disso, promove fiscalizações e realiza ações em instituições como o ICIA e em outras voltadas ao tratamento oncológico. Eduardo Vasconcelos, presidente do Conselho Regional de Odontologia de Pernambuco (CRO-PE) CRO-PE/Divulgação