Avanço do mar vira casa de ponta-cabeça; cidade da PB tem perda de até 80 metros de faixa litorânea em 40 anos

Timelapse mostra destruição de casas na orla de Baía da Traição, PB Moradores de Baía da Traição, no Litoral Norte da Paraíba, denunciaram que uma casa virou de ponta-cabeça na faixa litorânea do município, devido ao avanço do nível do mar, recentemente. Um trecho da cidade sofreu com a perda de 80 metros de território devido esse avanço, que é acompanhado desde 1984, pelo professor e pesquisador Celso Santos, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). De acordo com dados da pesquisa que ainda não foi publicada e segue em curso, todo o litoral da cidade de Baía da Traição perdeu 12 metros, em média, entre 1984 e 2025, período em que vigora a pesquisa, com uma taxa de recuo de território de 0,29 metros a cada ano. Em relação aos 80 metros de território perdido, isso corresponde a apenas um dos trechos analisados na pesquisa. Os 12 metros perdidos são correspondentes as somas dos trechos analisados em toda a faixa litorânea da cidade, o que gera esse número de média. Há ainda outros trechos dentro da faixa litorânea em que houve ganho de território Foi observado que, de modo geral, a porção central da cidade onde há maior concentração urbana e turística, são encontrados os índices mais acentuados de erosão, enquanto as extremidades do município ainda mantêm certa estabilidade devido à presença de dunas e vegetação nativa. O local que houve perda de pelo menos 80 metros de território fica localizado justamente nessa parte de maior concentração urbana. (veja na imagem abaixo os pontos azuis, com acresção e os pontos vermelhos com perda). Linhas vermelhas mostram locais em que houve avanço do mar, enquanto linhas em azul mostram locais em que houve ganho de território em relação ao mar, conforme a pesquisa Celso Santos/UFPB A pesquisa dividiu em dois os motivos que levaram essa perda de território, o fator ambiental e geográfico da própria constituição da cidade e também os problemas em decorrência da ação humana. Veja abaixo: Fatores naturais: marés astronômicas elevadas (devido à influência gravitacional da Lua e do Sol combinados contra em relação à Terra), aumento do nível médio do mar, ação contínua das ondas e a ausência de grandes rios aportando sedimentos. Fatores humanos: ocupação desordenada da faixa litorânea, retirada de vegetação de restinga, instalação de quiosques e construções muito próximas à praia, além da ausência de infraestrutura de drenagem adequada, que favorece o carreamento de areia para o mar. Mesmo com os fatores naturais, o responsável pela pesquisa em curso ressaltou que a atuação humana é preponderante para o agravamento da situação ao longo dos anos, como disse ao g1. "O componente humano é determinante para intensificar o problema. A ocupação desordenada da faixa costeira, o desmatamento da vegetação de restinga e das dunas frontais, e a construção de edificações muito próximas à maré comprometem o equilíbrio natural da linha de costa. Esses fatores diminuem a capacidade de amortecimento do sistema e aceleram o recuo", ressaltou o professor. Sobre as áreas em azul (na imagem acima) que ganharam território em relação ao mar, indo contra a tendência de erosão em outros trechos da cidade, o professor destacou que esse movimento é corriqueiro em sistemas costeiros, pois "o litoral não se comporta de forma uniforme" e o "balanço entre erosição e deposição (avanço de terra) depende de múltiplos fatores". O professor disse que em relação à Baía da Traição, existem alguns trechos alvos de diferentes fenômenos. "As correntes litorâneas transportam e acumulam sedimentos, resultando em avanço temporário da linha de costa — fenômeno conhecido como acréscimo. Já em outros, onde a energia das ondas é mais intensa ou o aporte de areia é insuficiente, ocorre recuo da praia e erosão", explicou. Consequências da perda de território em Baía da Traição Moradores denunciam danos pelo avanço do mar Reprodução/TV Cabo Branco Além da casa virada de ponta-cabeça, o município já perdeu mais de 20 residências com o avanço do mar. A erosão costeira foi motivo para um decreto de situação de calamidade pública. Um dos locais mais afetados pela erosão é a Praia do Forte, onde passa a rodovia PB-008, que conecta Baía da Traição às aldeias indígenas. O município tem cerca de 86,64% da população composta por indígenas, segundo o Censo 2022. A pesquisa também revela que existem diversos problemas que aparecem devido ao avanço do nível do mar e a consequente perda de território, que afeta a população local, entre eles as comunidades indígenas, e também a economia, com o processo erosivo se intensificando e se aproximando de áreas habitadas. Foram elencadas pelo menos três riscos caso o mar continue avançando em decorrência dos fatores humanos e também naturais. Destruição de trechos de praia usados para pesca e lazer; Ameaça a infraestruturas básicas (ruas, calçamentos e imóveis); Risco à integridade dos ecossistemas costeiros, como recifes, dunas e man

Out 12, 2025 - 12:00
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Avanço do mar vira casa de ponta-cabeça; cidade da PB tem perda de até 80 metros de faixa litorânea em 40 anos

Timelapse mostra destruição de casas na orla de Baía da Traição, PB Moradores de Baía da Traição, no Litoral Norte da Paraíba, denunciaram que uma casa virou de ponta-cabeça na faixa litorânea do município, devido ao avanço do nível do mar, recentemente. Um trecho da cidade sofreu com a perda de 80 metros de território devido esse avanço, que é acompanhado desde 1984, pelo professor e pesquisador Celso Santos, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). De acordo com dados da pesquisa que ainda não foi publicada e segue em curso, todo o litoral da cidade de Baía da Traição perdeu 12 metros, em média, entre 1984 e 2025, período em que vigora a pesquisa, com uma taxa de recuo de território de 0,29 metros a cada ano. Em relação aos 80 metros de território perdido, isso corresponde a apenas um dos trechos analisados na pesquisa. Os 12 metros perdidos são correspondentes as somas dos trechos analisados em toda a faixa litorânea da cidade, o que gera esse número de média. Há ainda outros trechos dentro da faixa litorânea em que houve ganho de território Foi observado que, de modo geral, a porção central da cidade onde há maior concentração urbana e turística, são encontrados os índices mais acentuados de erosão, enquanto as extremidades do município ainda mantêm certa estabilidade devido à presença de dunas e vegetação nativa. O local que houve perda de pelo menos 80 metros de território fica localizado justamente nessa parte de maior concentração urbana. (veja na imagem abaixo os pontos azuis, com acresção e os pontos vermelhos com perda). Linhas vermelhas mostram locais em que houve avanço do mar, enquanto linhas em azul mostram locais em que houve ganho de território em relação ao mar, conforme a pesquisa Celso Santos/UFPB A pesquisa dividiu em dois os motivos que levaram essa perda de território, o fator ambiental e geográfico da própria constituição da cidade e também os problemas em decorrência da ação humana. Veja abaixo: Fatores naturais: marés astronômicas elevadas (devido à influência gravitacional da Lua e do Sol combinados contra em relação à Terra), aumento do nível médio do mar, ação contínua das ondas e a ausência de grandes rios aportando sedimentos. Fatores humanos: ocupação desordenada da faixa litorânea, retirada de vegetação de restinga, instalação de quiosques e construções muito próximas à praia, além da ausência de infraestrutura de drenagem adequada, que favorece o carreamento de areia para o mar. Mesmo com os fatores naturais, o responsável pela pesquisa em curso ressaltou que a atuação humana é preponderante para o agravamento da situação ao longo dos anos, como disse ao g1. "O componente humano é determinante para intensificar o problema. A ocupação desordenada da faixa costeira, o desmatamento da vegetação de restinga e das dunas frontais, e a construção de edificações muito próximas à maré comprometem o equilíbrio natural da linha de costa. Esses fatores diminuem a capacidade de amortecimento do sistema e aceleram o recuo", ressaltou o professor. Sobre as áreas em azul (na imagem acima) que ganharam território em relação ao mar, indo contra a tendência de erosão em outros trechos da cidade, o professor destacou que esse movimento é corriqueiro em sistemas costeiros, pois "o litoral não se comporta de forma uniforme" e o "balanço entre erosição e deposição (avanço de terra) depende de múltiplos fatores". O professor disse que em relação à Baía da Traição, existem alguns trechos alvos de diferentes fenômenos. "As correntes litorâneas transportam e acumulam sedimentos, resultando em avanço temporário da linha de costa — fenômeno conhecido como acréscimo. Já em outros, onde a energia das ondas é mais intensa ou o aporte de areia é insuficiente, ocorre recuo da praia e erosão", explicou. Consequências da perda de território em Baía da Traição Moradores denunciam danos pelo avanço do mar Reprodução/TV Cabo Branco Além da casa virada de ponta-cabeça, o município já perdeu mais de 20 residências com o avanço do mar. A erosão costeira foi motivo para um decreto de situação de calamidade pública. Um dos locais mais afetados pela erosão é a Praia do Forte, onde passa a rodovia PB-008, que conecta Baía da Traição às aldeias indígenas. O município tem cerca de 86,64% da população composta por indígenas, segundo o Censo 2022. A pesquisa também revela que existem diversos problemas que aparecem devido ao avanço do nível do mar e a consequente perda de território, que afeta a população local, entre eles as comunidades indígenas, e também a economia, com o processo erosivo se intensificando e se aproximando de áreas habitadas. Foram elencadas pelo menos três riscos caso o mar continue avançando em decorrência dos fatores humanos e também naturais. Destruição de trechos de praia usados para pesca e lazer; Ameaça a infraestruturas básicas (ruas, calçamentos e imóveis); Risco à integridade dos ecossistemas costeiros, como recifes, dunas e manguezais, que funcionam como barreiras naturais contra a energia das ondas. Para combater esse avanço, o estudo indica medidas protetivas e políticas públicas de adaptação costeira. Caso contrário, a expectativa é de mais avanço e consequentes problemas. Entre as ações apontadas pelos pesquisadores estão: A criação de um plano municipal de gerenciamento costeiro específico para a Baía da Traição; O monitoramento anual via sensoriamento remoto; Projetos de recuperação de dunas e vegetação nativa, que são soluções de baixo custo e alta eficácia para conter a erosão. Avanço do mar provoca erosão e ameaça a segurança de moradores em Baía da Traição (PB) Baía da Traição ainda pode perder quase 8 metros de território até 2050 O pesquisador também apontou que, conforme os dados das últimas quatro décadas, é possível fazer uma projeção de perda de quase 8 metros na faixa litorânea de Baía da Traição até 2050, caso os problemas não sejam solucionados. "Mantendo a taxa média observada na Baía da Traição, 0,29 m ao ano, projeta-se mais ou menos e 7 a 8 m de recuo adicional até 2050, tendo como base as imagens de 1984 a 2025", disse. No entanto, essa é a previsão mais otimista, somente levando em consideração os dados do passado. Celso Santos explica que se houver aceleração de temporais e ressacas, a retirada de dunas e desmatamento de vegetação para colocar obras no lugar, tendem a intensificar o efeito da elevação do nível do mar, podendo levar trechos críticos a perdas maiores que 10 metros até 2050. Esse estudo se baseou em certos tipos de monitoramento da faixa litorânea da Baía da Traição. Conforme Celso Santos, foi utilizado um software denominado de Digital Shoreline Analysis System (DSAS), desenvolvido por um instituto americano. O mecanismo permite comparar diferentes linhas de costa ao longo do tempo para calcular quanto o litoral recuou ou avançou em determinados períodos. Conforme o professor, o diferencial do estudo foi o uso de imagens de satélite aprimoradas, nas quais nuvens e sombras foram removidas por meio de algoritmos. Essa combinação de técnicas possibilitou uma análise contínua, detalhada e de alta precisão, tornando o monitoramento das mudanças litorâneas mais confiável e eficiente para estudos ambientais e de planejamento costeiro. O que dizem as autoridades Ao g1, a Superintendência de Administração do Meio Ambiente (Sudema) informou que disponibilizou as licenças ambientais para que a prefeitura de Baía da Traição possa iniciar as obras recomendadas pelos técnicos que fazem o monitoramento da área. De acordo com representantes da Defesa Civil de Baía da Traição, a solução para impedir que o mar continue avançando é construir um semicírculo em concreto e realizar o alargamento da faixa de areia. Segundo o secretário de saúde de Baía da Traição, o investimento necessário para a realização dessas ações seria de cerca de R$ 86 milhões. Ainda segundo a Defesa Civil, em um ano o avanço do mar sobre a terra em Baía da Traição é de seis metros. Cálculos da Defesa Civil mostraram ainda que a área urbana que separa o mar do rio é de aproximadamente 30 metros, o que significa que, caso o avanço continue, as aldeias da região ficarão ilhadas e o abastecimento de água da cidade ficará impossibilitado. Baía da Traição não é caso único de avanço do mar na Paraíba Praia de Tambaba, na Paraíba, tem duas áreas divididas por uma formação rochosa com vegetação: uma destinada ao naturismo e outra onde usar roupa ou não é opcional Marco Pimentel/PBTur Em 2024, o mesmo pesquisador, professor Celso Santos, publicou em revistas internacionais de ciência que o mar também avança em outra cidade turística na Paraíba, no caso, o Conde, em áreas de praias muito conhecidas, como Tambaba e Coqueirinho. Essa pesquisa sobre o Conde alerta para a possibilidade de que 12% do território total do município pode ser encoberto por água devido ao aumento do nível do mar nos próximos anos. A previsão de perda de 12% no território de Conde é baseada em projeções para o futuro, com base em dados coletados sobre os últimos 37 anos e que leva em consideração cenários em que o mar suba entre 1, 2, 5 e 10 metros até 2042. Veja abaixo a quantidade de território que seria perdido a depender do tamanho do aumento do nível do mar. 1 metro - Afetaria 0,21% da bacia de estudo, o que equivale a 0,36 km²; 2 metros - Ampliaria a área submersa para 1,45 km², ou 0,84% da bacia; 5 metros - Impactaria aproximadamente 3,79% da bacia, ou 6,55 km²; 10 metros - 11,6% da bacia, ou 20,07 km², estariam em risco de inundação. Os dados para a projeção foram obtidos a partir de monitoramento e da perda em anos anteriores do território no Conde. Vídeos mais assistidos do g1 Paraíba