“Bastidores”: Passagem de Vanderlei Luxemburgo pelo Paraná Clube completa 30 anos

O torcedor do Paraná Clube lembra com muito carinho das grandes conquistas nos anos 1990, mas tem um momento que também é considerado histórico: a contratação de Vanderlei Luxemburgo, em 1995. O treinador era o atual bicampeão brasileiro com o Palmeiras e colocou o Tricolor nas notícias em todo o Brasil com a troca surpreendente. […]

Nov 5, 2025 - 09:00
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“Bastidores”: Passagem de Vanderlei Luxemburgo pelo Paraná Clube completa 30 anos

O torcedor do Paraná Clube lembra com muito carinho das grandes conquistas nos anos 1990, mas tem um momento que também é considerado histórico: a contratação de Vanderlei Luxemburgo, em 1995.

O treinador era o atual bicampeão brasileiro com o Palmeiras e colocou o Tricolor nas notícias em todo o Brasil com a troca surpreendente.

Tricampeão paranaense, o Paraná perdeu o técnico Otacílio Gonçalves para o Yokohama Flügels, do Japão. O então presidente Ocimar Bolicenho viajou até São Paulo com o objetivo de contratar Candinho, que estava na Portuguesa. O acordo, porém, não deu certo e o mandatário paranista recebeu uma sugestão ousada.

O então auxiliar-técnico do Palmeiras, Valdir Joaquim de Moraes, sugeriu para Bolicenho a contratação de Vanderlei Luxemburgo.

O treinador, que vinha de grandes resultados nos anos anteriores, estava sem emprego desde o pedido de demissão do Flamengo. Sua curta passagem pelo Rio de Janeiro teve derrota na final do Campeonato Carioca para o Fluminense, com o histórico gol de barriga de Renato Gaúcho, além de desentendimento com Romário.

Mesmo com o último recorte ruim, Ocimar Bolicenho não pensou duas vezes e foi de São Paulo para o Rio de Janeiro para negociar com Luxa. Após reunião no aeroporto Santos Dumont, o presidente teve a aprovação dos conselhos e fechou a contratação de um técnico de primeira linha no futebol brasileiro.

Junto com Luxemburgo, o Paraná Clube contratou o preparador físico curitibano Carlinhos Neves, que também já tinha uma carreira repleta de títulos.

Vanderlei Luxemburgo com Valdir Joaquim de Moraes. (Foto: Gazeta Press)

Apesar de muita mídia, passagem de Luxemburgo no Paraná Clube durou pouco

Luxemburgo desembarcou em Curitiba no dia 14 de agosto de 1995 e foi apresentado na Vila Olímpica do Boqueirão no dia seguinte. O treinador queria acabar com o “estigma” da época de que os principais profissionais estavam apenas nos clubes de São Paulo e Rio de Janeiro.

“O estigma no futebol é que grandes treinadores têm que estar em grandes clubes, no eixo Rio-São Paulo, eu penso muito pelo contrário. Onde te derem condições de trabalhar, que o clube tenha proposta de crescimento, você tem que estar próximo, isso faz bem ao futebol. Abre espaço, caminho, novos horizontes para outros treinadores”, disse Luxemburgo à TV Globo em sua primeira entrevista como treinador paranista.

A passagem de Luxa pelo Paraná Clube durou menos de três meses – 10 de agosto a 02 de novembro – e apenas 15 partidas, com campanha de cinco vitórias, cinco empates e cinco derrotas. Entre os resultados positivos estiveram os triunfos contra o Grêmio, de Luiz Felipe Scolari, logo na estreia; o Palmeiras, então bicampeão; e o Flamengo, ex-clube do técnico.

Apesar do curto período, o ex-zagueiro Ageu destacou que a vinda de Luxemburgo foi importante para o Tricolor.

“Na época que o Vanderlei veio para o Paraná, ele era o atual bicampeão brasileiro. Você ter um treinador deste porte dentro de um clube como o Paraná, que estava crescendo no momento, era de fundamental importância. Aparecemos, fizemos grandes jogos sob o comando do Vanderlei. Foi importante para ter uma maior visibilidade”, afirma Ageu.

Já o ex-presidente Ocimar Bolicenho ressaltou que a presença do treinador trouxe resultado fora das quatro linhas.

“Foi uma marca tão grande que 30 anos depois a gente ainda está falando dela. Foi um grande prazer tê-lo aqui, não nos deu um resultado técnico porque o trabalho foi de apenas dois meses e meio. Mas nos trouxe resultado de marketing muito grande no Brasil inteiro e nos trouxe resultado financeiro”, comenta.

Vanderlei Luxemburgo durante a passagem pelo Paraná. (Foto: Arquivo)

Luxemburgo tinha salário de primeira linha e trocou o Paraná Clube pelo Palmeiras

Vanderlei Luxemburgo tinha salário de primeira linha no Paraná Clube. Em entrevistas anteriores, o ex-presidente deu detalhes do contrato:

  • R$ 400 mil por cinco meses;
  • Luvas por R$ 50 mil – valor pago pelo programa Paraná Campeão, na época capitaneado por Lourival Ribeiro.
  • Salário de R$ 40 mil, a serem pagos nos meses de agosto, setembro, outubro, novembro e dezembro (totalizando R$ 200 mil)
  • Cheque “balão” no valor de R$ 150 mil, a ser pago em dezembro de 1995.

“Por mais que coloque o dólar de um para um, hoje teríamos R$ 400 mil de salário para o Vanderlei. Os valores praticados hoje são duas ou três vezes maior do que isso”, reforça Bolicenho.

Por ainda receber valores do contrato com o Flamengo, Vanderlei Luxemburgo tinha um vínculo informal com o Paraná Clube. Foi justamente a ausência de multa que facilitou o retorno para o Palmeiras, que fez contato direto com o treinador.

Ocimar Bolicenho garantiu que Luxa informou ao Palmeiras que só aceitaria o convite com a anuência do Paraná. “Independente de ter contrato assinado, ele só saiu quando o Paraná liberou. E só liberou quando teve alguma vantagem do Palmeiras ter vindo buscar. Só lembranças boas daquela época”, afirma.

A vantagem foi a extensão do contrato de empréstimo do lateral-direito Gil Baiano até junho de 1996, com valor fixado de compra de apenas US$ 100 mil.

Luxemburgo, Luiz Eduardo Dib (diretor de futebol) e Carlinhos Neves no Paraná.

Paraná Clube errou em contratar Vanderlei Luxemburgo?

Muitos acreditam que o Paraná Clube não tinha condições de arcar com valores tão altos para contratar Vanderlei Luxemburgo, e que a negociação teria sido o início da derrocada financeira do clube. No entanto, Bolicenho refutou essa versão.

“É lenda. Foram só dois meses e meio. Os números de hoje são mais estrambólicos do que daquela época. Realmente foi uma operação que trouxe prejuízo financeiro para o Paraná naquela época”, avalia o ex-presidente paranista.

No momento em que contratou Vanderlei Luxemburgo, o Paraná Clube vivia outra realidade. Na Série A, ostentava patrimônios milionários, grande números de sócios e bilheterias sempre lotadas, tanto que o Tricolor utilizava o Couto Pereira para mandar seus jogos.

Bolicenho afirma que, em suas gestões, o clube faturava, ao ano, cerca de R$ 12 milhões. Mas a implantação do Plano Real, em 1994, no governo de Fernando Henrique Cardoso, acabou atrapalhando os planos paranistas.

“Em 1994, mais precisamente em abril, com apenas quatro meses da minha gestão, o Paraná perdeu uma das suas principais receitas financeiras (ao menos 20% do orçamento total) em virtude da implantação do Plano Real, que praticamente zerou os rendimentos advindos do mercado financeiro”, lembra Bolicenho.

“Ainda no mesmo ano, a Serlopar (Serviços de Loteria do Paraná) não renovou a licença do Paraná para explorar uma modalidade de jogo (permitida por lei) denominada Sport Bingo que representava outra fatia representativa das receitas. Em função destes dois fatores, minha gestão acabou o ano de 1995 com um resultado deficitário de R$ 1 milhão de reais”, complementa.

Ernani Buchmann relembra situação ao assumir Paraná Clube

O presidente da gestão posterior, Ernani Buchmann, confirma a versão de Bolicenho. E revela que sua gestão herdou outras dívidas do período em que Bolicenho esteve no comando. O prêmio do tricampeonato e o 13° do ano anterior estavam pendentes quando o novo mandatário assumiu em janeiro de 1996.

“Ficaram sim [dívidas]. Mas, na verdade, o Ocimar já pegou uma situação complicada. A chegada do Plano Real acabou com muitas empresas e muitos bancos. Com o Plano Real, acabou-se a ciranda financeira. O Paraná também estava incluído entre as instituições que jogavam muito com o mercado financeiro”, conta.

Antes do Plano Real, segundo Buchmann, o Paraná recebia as mensalidades dos sócios em um mês e aplicava o dinheiro. Ao final do outro mês, o rendimento dava um outro valor igual. A inflação fazia a rentabilidade do dinheiro aplicado praticamente dobrar.

“Com esse sistema, se pagava salários. E, como a folha dos jogadores e funcionários não aumentava nesses 30 dias, você tinha sempre dinheiro para ir pagando os funcionários e guardando o restante”, relembra Buchmann.

“Quando veio o Plano Real, isso acabou. O dinheiro que você tinha em um mês, se você aplicasse no banco, ia gerar no final, 1%, 1,5%. Não era nada. O que aconteceu foi que todas essas empresas, bancos e instituições, como o Paraná, precisaram ir comendo e utilizando o próprio capital. E o Ocimar pegou isso no meio da gestão dele e foi muito difícil”, ressalta.

*Com informações da matéria do UmDois Esportes de 19/04/2021

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