BNegão e Chico Chico impedem que o dispensável tributo aos 80 anos de Raul Seixas seja um completo desastre

Capa do tributo 'Raul 80' Divulgação ♫ OPINIÃO SOBRE DISCO Título: Raul 80 – Um tributo a Raul Seixas Artistas: Ana Cañas, BNegão, Baia, Chico Chico, Maneva e Suricato Cotação: ★ ★ 1/2 ♬ Se alguém dissesse que veio de uma karaokê a gravação de Gita (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1974) por Maurício Baia ouvida no álbum Raul 80 – Um tributo a Raul Seixas, a afirmação faria sentido diante da interpretação apática da música, uma das mais emblemáticas do cancioneiro autoral de Raul Santos Seixas (28 de junho de 1945 – 21 de agosto de 1989). Falta energia! Falta alma! Como já sinalizara o single com a gravação de Metamorfose ambulante (1973) feita por Ana Cañas, com o toque country da pedal steel, do mandolim e da guitarra de Rick Ferreira, esse tributo fonográfico a Raul soa dispensável. Gravado em estúdio sob a batuta do produtor musical Rodrigo Suricato, Raul 80 – disco situado na fronteira entre EP e álbum por ter somente sete faixas e 24 minutos e meio – em nada acrescenta à obra de Raul Seixas. Qual o sentido de uma gravação asséptica como a de Cowboy fora da lei (Raul Seixas e Cláudio Roberto, 1987)? O canto de Suricato soa límpido e extremamente afinado na gravação ambientada no clima country-blues comstruido pelo toque da gaita virtuosa de Flávio Guimarães. Mas cadê a verve que pautou esse último grande sucesso de Raul? Desapareceu. Assim como sumiu toda a mística em torno de Eu nasci há dez mil anos atrás (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1976), regravada pela banda Maneva no balanço do reggae. Diante de tanta apatia, louve-se a pegada de Chico Chico no canto de Moleque maravilhoso (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1974), lado B da obra do Maluco Beleza. Ali, sim, tem alma, tem ironia, há a assinatura de um artista indomável no ponto mais alto do tributo. BNegão também imprime vigor e um toque pessoal em Tente outra vez (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1975) sem preocupações com as formalidades técnicas do canto. No arremate de Raul 80, todo o elenco se junta para cantar Sociedade alternativa (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1974) com a pegada do rock’n’roll, gênero que ganhou o sotaque e o tempero brasileiro de Raul Seixas em gravações definitivas. Toca os discos de Raul!

Out 21, 2025 - 11:30
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BNegão e Chico Chico impedem que o dispensável tributo aos 80 anos de Raul Seixas seja um completo desastre

Capa do tributo 'Raul 80' Divulgação ♫ OPINIÃO SOBRE DISCO Título: Raul 80 – Um tributo a Raul Seixas Artistas: Ana Cañas, BNegão, Baia, Chico Chico, Maneva e Suricato Cotação: ★ ★ 1/2 ♬ Se alguém dissesse que veio de uma karaokê a gravação de Gita (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1974) por Maurício Baia ouvida no álbum Raul 80 – Um tributo a Raul Seixas, a afirmação faria sentido diante da interpretação apática da música, uma das mais emblemáticas do cancioneiro autoral de Raul Santos Seixas (28 de junho de 1945 – 21 de agosto de 1989). Falta energia! Falta alma! Como já sinalizara o single com a gravação de Metamorfose ambulante (1973) feita por Ana Cañas, com o toque country da pedal steel, do mandolim e da guitarra de Rick Ferreira, esse tributo fonográfico a Raul soa dispensável. Gravado em estúdio sob a batuta do produtor musical Rodrigo Suricato, Raul 80 – disco situado na fronteira entre EP e álbum por ter somente sete faixas e 24 minutos e meio – em nada acrescenta à obra de Raul Seixas. Qual o sentido de uma gravação asséptica como a de Cowboy fora da lei (Raul Seixas e Cláudio Roberto, 1987)? O canto de Suricato soa límpido e extremamente afinado na gravação ambientada no clima country-blues comstruido pelo toque da gaita virtuosa de Flávio Guimarães. Mas cadê a verve que pautou esse último grande sucesso de Raul? Desapareceu. Assim como sumiu toda a mística em torno de Eu nasci há dez mil anos atrás (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1976), regravada pela banda Maneva no balanço do reggae. Diante de tanta apatia, louve-se a pegada de Chico Chico no canto de Moleque maravilhoso (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1974), lado B da obra do Maluco Beleza. Ali, sim, tem alma, tem ironia, há a assinatura de um artista indomável no ponto mais alto do tributo. BNegão também imprime vigor e um toque pessoal em Tente outra vez (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1975) sem preocupações com as formalidades técnicas do canto. No arremate de Raul 80, todo o elenco se junta para cantar Sociedade alternativa (Raul Seixas e Paulo Coelho, 1974) com a pegada do rock’n’roll, gênero que ganhou o sotaque e o tempero brasileiro de Raul Seixas em gravações definitivas. Toca os discos de Raul!