Pastor é preso por suspeita de abusar de meninas na Cidade de Deus: 'Carrego isso comigo desde os 7 anos', diz vítima
Pastor é preso suspeito de abusar de meninas na Cidade de Deus, no Rio O pastor Jorge Luiz Oliveira dos Santos, líder de uma igreja evangélica na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, foi preso temporariamente suspeito de abusar sexualmente de pelo menos cinco meninas. Todas elas contam que tinham entre 7 e 12 anos quando os abusos aconteceram. O g1 conversou com quatro vítimas, hoje já maiores de idade (veja no vídeo acima e leia abaixo). O caso foi investigado pela 32ª DP (Taquara), responsável pela prisão do pastor. O inquérito foi enviado à 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal de Violência Doméstica da área Oeste / Jacarepaguá do Ministério Público. O Jorge Luiz responde por estupro de vulnerável consumado, tentativa de estupro de vulnerável e perseguição. O g1 entrou em contato com a defesa do pastor no início da tarde de segunda-feira (25) e aguarda resposta. Jorge Luiz está preso temporariamente no presídio José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio. Pastor frequentava a casa das vítimas Jorge Luiz Rodrigues dos Santos, preso por estupro de vulnerável; cinco vítimas relataram abusos à polícia Reprodução Todos os cinco depoimentos à polícia foram semelhantes: as crianças frequentavam a casa do pastor, que durante a noite entrava no quarto onde elas dormiam e tirava a roupa para esfregar seu corpo no das vítimas. Uma das meninas, que já era adolescente, conta que ele chegou a pedir fotos íntimas pelo celular. Outra denunciou que ele a estuprou pouco antes dos 13 anos. A mulher afirmou que, quando já era adulta, teve a casa onde estava invadida pelo pastor. Segundo ela, ele começou a agarrá-la, tentar tirar sua roupa e beijá-la. Ela conseguiu afastá-lo e fugir e, após conversar com o namorado, decidiu ir até a delegacia e relatar o que tinha passado. Os relatos das vítimas "Eu carrego isso comigo desde os 7 anos e nunca falei para ninguém, no máximo duas pessoas sabiam. Depois que entendi que eu não estava sozinha, que eu não precisava carregar isso sozinha, tudo mudou", desabafa uma das vítimas, hoje com 19 anos. Outra menina disse que não teve coragem de contar para a mãe, que frequentava a igreja do pastor, mas que sabia que o que ele estava fazendo era errado. "Minha mãe desde pequena falou para mim: 'Ah, um homem não pode tocar em você. Um homem não pode passar a mão nas suas partes. Única pessoa que pode ver você pelada é a mamãe", contou. "Então, isso ficou na minha cabeça quando aconteceu, eu sabia que era errado, porque meu pai nunca tinha feito isso comigo." Os relatos das mulheres, que hoje têm entre 19 e 21 anos, revelaram um padrão de violência, manipulação e silêncio imposto por anos. Uma delas contou que, durante uma oração para os jovens da igreja, Jorge Luiz disse que ela tinha "uma pomba-gira" no corpo e o "espírito da sedução". "Ele falava muito para mim: 'Ai, missionária, tá usando essa roupa, essa roupa não pode'. Ele sempre ficava observando isso e sempre fazia esses tipos de brincadeira", contou a mulher. Todas as vítimas foram atendidas pelo projeto Empoderadas, do Governo do Estado, que atua no combate à violência contra a mulher, com acolhimento psicológico, orientação jurídica e social. "Ele era pastor de uma igreja local, né? Então, a gente já entende que é um cenário que todo mundo se conhece, então, vê ele nessa posição de pastor, de um líder religioso. É uma pessoa que você confia, que você pede ajuda. Então, ele se aproveitava dessa posição para falar com as meninas", disse a supervisora jurídica do Empoderadas, Marcela Machado. "Quando você olha para um líder religioso, você espera algo paternal, né? Então, essa paternidade alcança as vítimas de certa forma, né? Tornando então presas fáceis", explicou a psicóloga Rafaella Santana. Uma das vítimas relatou que procurou o pastor porque participaria de uma peça na igreja, mas tinha vergonha, e pediu ajuda a Jorge Luiz. As conversas, segundo ela, logo passaram de aconselhamento sobre como atuar na peça para elogios a ela e comentários de Jorge dizendo que queria beijar a boca da menina, que tinha 12 anos. Enquanto tentava se esquivar das mensagens de Jorge Luiz, a vítima contou que se interessou pelo enteado do pastor e, quando foi à casa dele, contou à polícia que Jorge Luiz a agarrou e tentou beijá-la à força. Ela disse que relatou o caso à mãe e a outras mulheres da igreja. Após ser desacreditada por outras mulheres, a mãe da menina saiu da igreja, e a adolescente foi morar em outro município. "Então, é importante até essa denúncia das meninas como uma forma de incentivarem outras vítimas dele a denunciarem, mostrarem que elas têm lugar de fala, que a gente acredita nelas, que a Justiça acredita nelas, porque muitas vezes elas são descredibilizadas justamente por essa posição de líder que ele ocupava", pontuou Marcela Machado. Consequências A primeira vítima que decidiu levar o caso à delegacia disse que depois dos abusos sofridos passou a conviver com uma forte ansie


Pastor é preso suspeito de abusar de meninas na Cidade de Deus, no Rio O pastor Jorge Luiz Oliveira dos Santos, líder de uma igreja evangélica na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, foi preso temporariamente suspeito de abusar sexualmente de pelo menos cinco meninas. Todas elas contam que tinham entre 7 e 12 anos quando os abusos aconteceram. O g1 conversou com quatro vítimas, hoje já maiores de idade (veja no vídeo acima e leia abaixo). O caso foi investigado pela 32ª DP (Taquara), responsável pela prisão do pastor. O inquérito foi enviado à 2ª Promotoria de Justiça de Investigação Penal de Violência Doméstica da área Oeste / Jacarepaguá do Ministério Público. O Jorge Luiz responde por estupro de vulnerável consumado, tentativa de estupro de vulnerável e perseguição. O g1 entrou em contato com a defesa do pastor no início da tarde de segunda-feira (25) e aguarda resposta. Jorge Luiz está preso temporariamente no presídio José Frederico Marques, em Benfica, na Zona Norte do Rio. Pastor frequentava a casa das vítimas Jorge Luiz Rodrigues dos Santos, preso por estupro de vulnerável; cinco vítimas relataram abusos à polícia Reprodução Todos os cinco depoimentos à polícia foram semelhantes: as crianças frequentavam a casa do pastor, que durante a noite entrava no quarto onde elas dormiam e tirava a roupa para esfregar seu corpo no das vítimas. Uma das meninas, que já era adolescente, conta que ele chegou a pedir fotos íntimas pelo celular. Outra denunciou que ele a estuprou pouco antes dos 13 anos. A mulher afirmou que, quando já era adulta, teve a casa onde estava invadida pelo pastor. Segundo ela, ele começou a agarrá-la, tentar tirar sua roupa e beijá-la. Ela conseguiu afastá-lo e fugir e, após conversar com o namorado, decidiu ir até a delegacia e relatar o que tinha passado. Os relatos das vítimas "Eu carrego isso comigo desde os 7 anos e nunca falei para ninguém, no máximo duas pessoas sabiam. Depois que entendi que eu não estava sozinha, que eu não precisava carregar isso sozinha, tudo mudou", desabafa uma das vítimas, hoje com 19 anos. Outra menina disse que não teve coragem de contar para a mãe, que frequentava a igreja do pastor, mas que sabia que o que ele estava fazendo era errado. "Minha mãe desde pequena falou para mim: 'Ah, um homem não pode tocar em você. Um homem não pode passar a mão nas suas partes. Única pessoa que pode ver você pelada é a mamãe", contou. "Então, isso ficou na minha cabeça quando aconteceu, eu sabia que era errado, porque meu pai nunca tinha feito isso comigo." Os relatos das mulheres, que hoje têm entre 19 e 21 anos, revelaram um padrão de violência, manipulação e silêncio imposto por anos. Uma delas contou que, durante uma oração para os jovens da igreja, Jorge Luiz disse que ela tinha "uma pomba-gira" no corpo e o "espírito da sedução". "Ele falava muito para mim: 'Ai, missionária, tá usando essa roupa, essa roupa não pode'. Ele sempre ficava observando isso e sempre fazia esses tipos de brincadeira", contou a mulher. Todas as vítimas foram atendidas pelo projeto Empoderadas, do Governo do Estado, que atua no combate à violência contra a mulher, com acolhimento psicológico, orientação jurídica e social. "Ele era pastor de uma igreja local, né? Então, a gente já entende que é um cenário que todo mundo se conhece, então, vê ele nessa posição de pastor, de um líder religioso. É uma pessoa que você confia, que você pede ajuda. Então, ele se aproveitava dessa posição para falar com as meninas", disse a supervisora jurídica do Empoderadas, Marcela Machado. "Quando você olha para um líder religioso, você espera algo paternal, né? Então, essa paternidade alcança as vítimas de certa forma, né? Tornando então presas fáceis", explicou a psicóloga Rafaella Santana. Uma das vítimas relatou que procurou o pastor porque participaria de uma peça na igreja, mas tinha vergonha, e pediu ajuda a Jorge Luiz. As conversas, segundo ela, logo passaram de aconselhamento sobre como atuar na peça para elogios a ela e comentários de Jorge dizendo que queria beijar a boca da menina, que tinha 12 anos. Enquanto tentava se esquivar das mensagens de Jorge Luiz, a vítima contou que se interessou pelo enteado do pastor e, quando foi à casa dele, contou à polícia que Jorge Luiz a agarrou e tentou beijá-la à força. Ela disse que relatou o caso à mãe e a outras mulheres da igreja. Após ser desacreditada por outras mulheres, a mãe da menina saiu da igreja, e a adolescente foi morar em outro município. "Então, é importante até essa denúncia das meninas como uma forma de incentivarem outras vítimas dele a denunciarem, mostrarem que elas têm lugar de fala, que a gente acredita nelas, que a Justiça acredita nelas, porque muitas vezes elas são descredibilizadas justamente por essa posição de líder que ele ocupava", pontuou Marcela Machado. Consequências A primeira vítima que decidiu levar o caso à delegacia disse que depois dos abusos sofridos passou a conviver com uma forte ansiedade. O acesso à terapia e grupos de apoio, segundo ela, fez diferença. "Eu tive várias e várias crises de ansiedade durante muito tempo da minha vida. E depois que comecei a desabafar, a contar para as pessoas diminuiu bastante." Rafaela Santana, psicóloga, descreveu o que acontece com quem é vítima deste tipo de crime. "No primeiro momento, as crises de ansiedade, elas se tornam algo recorrente, né? A construção de um pensamento intrusivo. A vítima, ela revive aquele momento diversas vezes, até que ela começa a apresentar um comportamento de autolesão. De alguma forma, ela passa a se punir por aquilo que aconteceu", relatou., citando possíveis alterações de humor. "Quando você tem uma crise de ansiedade ou outras comorbidades elas passam a ficar mais latentes. Há uma alteração no na fisiologia do próprio corpo, alteração no apetite, uma disfunção do sono", enumerou. Conselhos a outras vítimas As vítimas desabafam que não foi saudável guardarem sozinhas esse trauma e aconselham: “O recado que eu dou é para não sentir medo, porque eu senti medo e aflição de contar, mas eu diria para outras meninas seguirem em frente e falar. Não importa quando foi, não importa se a mãe não acreditar, é ir diretamente para a delegacia. Ou ligar para o Disque 100 ou o 180, pode ter certeza que vão te ouvir”. "O mais importante é não ter medo e não se sentir culpada. A sua roupa não estava errada, o lugar não estava errado. A pessoa é quem estava errada e você não está errada em ir denunciar. Não importa se é seu pai, seu irmão, seu tio ou até mesmo uma mulher, se é sua mãe, não importa, eles que estão errados", completa. Erica Paes, idealizadora dos programas Empoderadas e Empoderadinhas, diz que ensinar a reconhecer os sinais de violência é uma forma de prevenção e proteção: "Muitas vezes as crianças não têm nem vocabulário ou ferramentas para expressar situações de risco. Quando trabalhamos esse tema de maneira adequada, damos a ela recursos emocionais e comportamentais para que elas consigam identificar algo que não tá certo e pedir ajuda", disse ela, que também é Superintendente de Empoderamento e Equidade de Gênero do Estado. "É uma forma de quebrar o ciclo da violência e garantir que a infância seja vivida com segurança e liberdade", pontuou.