Quadrilha internacional usa dados de vítimas de enchentes em esquema milionário de lavagem de dinheiro com fintechs

Esquema fez fortuna transformando uma das áreas mais pobres de São Paulo num laranjal Uma investigação exclusiva do Fantástico revelou que moradores do Jardim Pantanal, um dos maiores e mais pobres bairros da zona leste de São Paulo, foram usados por uma organização criminosa internacional em um esquema de lavagem de dinheiro. A quadrilha se aproveita da vulnerabilidade da população para aplicar golpes e movimentar milhões de reais por meio de fintechs. Santielle de Souza, moradora do bairro, foi uma das vítimas. Ela perdeu tudo na enchente que atingiu o Jardim Pantanal em 2022 e dias depois das fortes chuvas, um grupo bateu à sua porta. "Eles vinham nas casas, aí perguntavam se não queria fazer um cadastro para pegar uma cesta e ganhar R$ 100 para ajudar na enchente. Só que precisava dar o RG", lembra. Ela fez o cadastrou, recebeu o dinheiro, mas a cesta nunca chegou. E surgiram só problemas: multas de trânsito, contas bloqueadas e CPF inválido. Os dados são usados para abrir contas bancárias em nome das vítimas. Essas contas viram ferramentas para lavar dinheiro. A investigação mostrou que os dados dos moradores são repassados a empresas de fachada, que transferem os valores para fintechs ligadas à quadrilha. Uma dessas empresas, a RMD Administração Empresarial, teria movimentado R$ 480 milhões. Parte do dinheiro passa pela 2GO Instituição de Pagamentos, em nome do policial civil Cyllas Salerno Elias, preso durante a operação. O esquema foi descoberto por acaso, a mais de 700 km da capital, na cidade de Rosana. Um morador investiu em uma plataforma digital que prometia lucros por tarefas online. Ele perdeu R$ 33 mil e denunciou o caso à polícia. A investigação revelou que o site está hospedado fora do país e que o golpe é sofisticado, com uso de robôs para aplicar fraudes em larga escala. Já foram identificadas mais de 3 mil vítimas em todo o Brasil. O núcleo da quadrilha é formado por brasileiros e chineses. Entre os nomes apontados pela polícia estão Ricardo Daffre, Carlos Donizete de Souza, Lin Chen, Jie Zhang, Jie Wang, Yao Ji e Xiangguo Li. Cinco deles estão presos. Lin Chen e Yao Ji seguem foragidos. As defesas dos investigados negam envolvimento. O advogado de Xiangguo Li e Yao Ji afirma que não há provas concretas contra os dois. A defesa de Ricardo Daffre diz que ele colabora com a Justiça e é inocente. Já o advogado de Cyllas Salerno Elias afirmou que a 2GO forneceu todos os dados à polícia e que a fraude ocorreu no banco de origem. As defesas de Jie Wang e Jie Zhang não se manifestaram. O Fantástico não conseguiu contato com os advogados de Lin Chen e Carlos Donizete. Alguns moradores do Jardim Pantanal chegaram a ser denunciados à Justiça. Mas os promotores concluíram que eles também são vítimas. "Usaram de má fé contra muitos pais e mães de família, até senhoras, idosos mesmo, que estavam esperando alimento e tiveram seus nomes usados", lamenta Santielle. Ouça os podcasts do Fantástico ISSO É FANTÁSTICO O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts, trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo. PRAZER, RENATA O podcast 'Prazer, Renata' está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts. Siga, assine e curta o 'Prazer, Renata' na sua plataforma preferida.

Set 14, 2025 - 21:30
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Quadrilha internacional usa dados de vítimas de enchentes em esquema milionário de lavagem de dinheiro com fintechs

Esquema fez fortuna transformando uma das áreas mais pobres de São Paulo num laranjal Uma investigação exclusiva do Fantástico revelou que moradores do Jardim Pantanal, um dos maiores e mais pobres bairros da zona leste de São Paulo, foram usados por uma organização criminosa internacional em um esquema de lavagem de dinheiro. A quadrilha se aproveita da vulnerabilidade da população para aplicar golpes e movimentar milhões de reais por meio de fintechs. Santielle de Souza, moradora do bairro, foi uma das vítimas. Ela perdeu tudo na enchente que atingiu o Jardim Pantanal em 2022 e dias depois das fortes chuvas, um grupo bateu à sua porta. "Eles vinham nas casas, aí perguntavam se não queria fazer um cadastro para pegar uma cesta e ganhar R$ 100 para ajudar na enchente. Só que precisava dar o RG", lembra. Ela fez o cadastrou, recebeu o dinheiro, mas a cesta nunca chegou. E surgiram só problemas: multas de trânsito, contas bloqueadas e CPF inválido. Os dados são usados para abrir contas bancárias em nome das vítimas. Essas contas viram ferramentas para lavar dinheiro. A investigação mostrou que os dados dos moradores são repassados a empresas de fachada, que transferem os valores para fintechs ligadas à quadrilha. Uma dessas empresas, a RMD Administração Empresarial, teria movimentado R$ 480 milhões. Parte do dinheiro passa pela 2GO Instituição de Pagamentos, em nome do policial civil Cyllas Salerno Elias, preso durante a operação. O esquema foi descoberto por acaso, a mais de 700 km da capital, na cidade de Rosana. Um morador investiu em uma plataforma digital que prometia lucros por tarefas online. Ele perdeu R$ 33 mil e denunciou o caso à polícia. A investigação revelou que o site está hospedado fora do país e que o golpe é sofisticado, com uso de robôs para aplicar fraudes em larga escala. Já foram identificadas mais de 3 mil vítimas em todo o Brasil. O núcleo da quadrilha é formado por brasileiros e chineses. Entre os nomes apontados pela polícia estão Ricardo Daffre, Carlos Donizete de Souza, Lin Chen, Jie Zhang, Jie Wang, Yao Ji e Xiangguo Li. Cinco deles estão presos. Lin Chen e Yao Ji seguem foragidos. As defesas dos investigados negam envolvimento. O advogado de Xiangguo Li e Yao Ji afirma que não há provas concretas contra os dois. A defesa de Ricardo Daffre diz que ele colabora com a Justiça e é inocente. Já o advogado de Cyllas Salerno Elias afirmou que a 2GO forneceu todos os dados à polícia e que a fraude ocorreu no banco de origem. As defesas de Jie Wang e Jie Zhang não se manifestaram. O Fantástico não conseguiu contato com os advogados de Lin Chen e Carlos Donizete. Alguns moradores do Jardim Pantanal chegaram a ser denunciados à Justiça. Mas os promotores concluíram que eles também são vítimas. "Usaram de má fé contra muitos pais e mães de família, até senhoras, idosos mesmo, que estavam esperando alimento e tiveram seus nomes usados", lamenta Santielle. Ouça os podcasts do Fantástico ISSO É FANTÁSTICO O podcast Isso É Fantástico está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts, trazendo grandes reportagens, investigações e histórias fascinantes em podcast com o selo de jornalismo do Fantástico: profundidade, contexto e informação. Siga, curta ou assine o Isso É Fantástico no seu tocador de podcasts favorito. Todo domingo tem um episódio novo. PRAZER, RENATA O podcast 'Prazer, Renata' está disponível no g1 e nos principais aplicativos de podcasts. Siga, assine e curta o 'Prazer, Renata' na sua plataforma preferida.