Reino Unido está prestes a redefinir laços comerciais e de defesa com União Europeia

Reunião entre União Europeia e Reino Unido acontece em Bruxelas, podendo reaproximar ambos os lados, após o distanciamento do governo americano e seus aliados europeus. Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, atua para aliviar fricções com a Europa Phil Noble/Reuters O Reino Unido está prestes a firmar, nesta segunda-feira (19), a mais significativa reconfiguração de laços com a União Europeia desde o Brexit, buscando uma colaboração mais próxima em comércio e defesa para auxiliar no crescimento da economia e reforçar a segurança no continente. O primeiro-ministro Keir Starmer, que apoiou a permanência na União Europeia, apostou que aliviar as fricções comerciais e garantir benefícios tangíveis para os britânicos superará os discursos de “traição” do defensor do Brexit, Nigel Farage, ao concordar com uma maior aproximação do bloco em uma cúpula em Londres. “É hora de olhar para frente — deixar para trás as velhas disputas políticas estagnadas e encontrar soluções práticas e de bom senso que melhorem a vida do povo britânico”, disse Starmer no X (antigo Twitter). No centro dessa reconfiguração está um pacto de defesa e segurança que pode permitir que empresas de defesa britânicas participem de um programa de 150 bilhões de euros (cerca de R$ 950 bilhões) para rearmar a Europa. Segundo pessoas informadas sobre as negociações, os dois lados concordaram em conceder acesso às águas de pesca por 12 anos — uma medida que provavelmente será criticada por políticos e pelo setor industrial — a fim de eliminar checagem de fronteira e burocracias que impediram muitos pequenos produtores de alimentos de exportar desde que o Reino Unido deixou o bloco, em 2020. O Reino Unido também esperava garantir acesso mais rápido aos portões eletrônicos (e-gates) para viajantes britânicos em aeroportos da Europa. Em troca, espera-se que o país aceite um esquema limitado de mobilidade juvenil e possa participar do programa de intercâmbio estudantil Erasmus+. As negociações continuaram durante a noite até que um entendimento foi alcançado nas primeiras horas da manhã, antes do encontro de Starmer com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, António Costa. Embaixadores da União Europeia se reuniram em Bruxelas para aprovar o acordo. A reconfiguração ocorre após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter abalado a ordem global do pós-guerra e a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia, o que forçou governos ao redor do mundo a repensar seus laços comerciais, de defesa e segurança. O Reino Unido fechou um acordo comercial completo com a Índia no início deste mês e obteve algum alívio tarifário dos Estados Unidos. A União Europeia também acelerou esforços para firmar acordos com países como a Índia e aprofundar parcerias com Canadá, Austrália, Japão e Singapura. Espaço limitado para manobra O voto do Reino Unido pela saída da União Europeia, em um referendo histórico em 2016, revelou um país profundamente dividido em temas como migração, soberania, cultura e comércio. Esse processo ajudou a desencadear um dos períodos mais turbulentos da história política britânica, com cinco primeiros-ministros no cargo antes da chegada de Starmer em julho do ano passado, e dificultou as relações com Bruxelas. Pesquisas evidenciam que a maioria dos britânicos agora se arrepende do voto, embora não deseje voltar à União Europeia. Farage, que fez campanha pelo Brexit por décadas, lidera as pesquisas de opinião no Reino Unido, dando a Starmer pouco espaço de manobra. Mas o primeiro-ministro e o presidente francês, Emmanuel Macron, estabeleceram uma relação sólida por seu apoio à Ucrânia, e Starmer não esteve envolvido nas disputas anteriores sobre o Brexit, o que ajudou a melhorar o clima entre os dois lados. Quebrar o tabu O benefício econômico será limitado pela promessa de Starmer de não retornar ao mercado único ou à união aduaneira da União Europeia, mas ele tem buscado negociar melhor acesso ao mercado em algumas áreas — uma tarefa difícil, já que a União Europeia se opõe à chamada “escolha seletiva” dos benefícios do bloco sem as obrigações da adesão. Eliminar a burocracia no comércio de alimentos exigirá que o Reino Unido aceite a supervisão da União Europeia sobre padrões, mas Starmer provavelmente argumentará que isso vale a pena para ajudar a reduzir o custo dos alimentos e estimular a economia estagnada. Concordar com um acordo de longo prazo sobre direitos de pesca também será criticado por Farage, enquanto o opositor Partido Conservador rotulou o evento de segunda-feira como a “cúpula da rendição”. Um especialista em comércio que já assessorou políticos em Londres e Bruxelas disse que o governo precisava “quebrar o tabu” de aceitar regras da União Europeia, e que fazer isso para ajudar agricultores e pequenos negócios era uma atitude inteligente. Especialistas em comércio também disseram que o Reino Unido se beneficiou do foco maior na defesa, o que fez o acordo par

Mai 19, 2025 - 05:00
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Reino Unido está prestes a redefinir laços comerciais e de defesa com União Europeia

Reunião entre União Europeia e Reino Unido acontece em Bruxelas, podendo reaproximar ambos os lados, após o distanciamento do governo americano e seus aliados europeus. Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, atua para aliviar fricções com a Europa Phil Noble/Reuters O Reino Unido está prestes a firmar, nesta segunda-feira (19), a mais significativa reconfiguração de laços com a União Europeia desde o Brexit, buscando uma colaboração mais próxima em comércio e defesa para auxiliar no crescimento da economia e reforçar a segurança no continente. O primeiro-ministro Keir Starmer, que apoiou a permanência na União Europeia, apostou que aliviar as fricções comerciais e garantir benefícios tangíveis para os britânicos superará os discursos de “traição” do defensor do Brexit, Nigel Farage, ao concordar com uma maior aproximação do bloco em uma cúpula em Londres. “É hora de olhar para frente — deixar para trás as velhas disputas políticas estagnadas e encontrar soluções práticas e de bom senso que melhorem a vida do povo britânico”, disse Starmer no X (antigo Twitter). No centro dessa reconfiguração está um pacto de defesa e segurança que pode permitir que empresas de defesa britânicas participem de um programa de 150 bilhões de euros (cerca de R$ 950 bilhões) para rearmar a Europa. Segundo pessoas informadas sobre as negociações, os dois lados concordaram em conceder acesso às águas de pesca por 12 anos — uma medida que provavelmente será criticada por políticos e pelo setor industrial — a fim de eliminar checagem de fronteira e burocracias que impediram muitos pequenos produtores de alimentos de exportar desde que o Reino Unido deixou o bloco, em 2020. O Reino Unido também esperava garantir acesso mais rápido aos portões eletrônicos (e-gates) para viajantes britânicos em aeroportos da Europa. Em troca, espera-se que o país aceite um esquema limitado de mobilidade juvenil e possa participar do programa de intercâmbio estudantil Erasmus+. As negociações continuaram durante a noite até que um entendimento foi alcançado nas primeiras horas da manhã, antes do encontro de Starmer com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o presidente do Conselho Europeu, António Costa. Embaixadores da União Europeia se reuniram em Bruxelas para aprovar o acordo. A reconfiguração ocorre após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ter abalado a ordem global do pós-guerra e a invasão em larga escala da Ucrânia pela Rússia, o que forçou governos ao redor do mundo a repensar seus laços comerciais, de defesa e segurança. O Reino Unido fechou um acordo comercial completo com a Índia no início deste mês e obteve algum alívio tarifário dos Estados Unidos. A União Europeia também acelerou esforços para firmar acordos com países como a Índia e aprofundar parcerias com Canadá, Austrália, Japão e Singapura. Espaço limitado para manobra O voto do Reino Unido pela saída da União Europeia, em um referendo histórico em 2016, revelou um país profundamente dividido em temas como migração, soberania, cultura e comércio. Esse processo ajudou a desencadear um dos períodos mais turbulentos da história política britânica, com cinco primeiros-ministros no cargo antes da chegada de Starmer em julho do ano passado, e dificultou as relações com Bruxelas. Pesquisas evidenciam que a maioria dos britânicos agora se arrepende do voto, embora não deseje voltar à União Europeia. Farage, que fez campanha pelo Brexit por décadas, lidera as pesquisas de opinião no Reino Unido, dando a Starmer pouco espaço de manobra. Mas o primeiro-ministro e o presidente francês, Emmanuel Macron, estabeleceram uma relação sólida por seu apoio à Ucrânia, e Starmer não esteve envolvido nas disputas anteriores sobre o Brexit, o que ajudou a melhorar o clima entre os dois lados. Quebrar o tabu O benefício econômico será limitado pela promessa de Starmer de não retornar ao mercado único ou à união aduaneira da União Europeia, mas ele tem buscado negociar melhor acesso ao mercado em algumas áreas — uma tarefa difícil, já que a União Europeia se opõe à chamada “escolha seletiva” dos benefícios do bloco sem as obrigações da adesão. Eliminar a burocracia no comércio de alimentos exigirá que o Reino Unido aceite a supervisão da União Europeia sobre padrões, mas Starmer provavelmente argumentará que isso vale a pena para ajudar a reduzir o custo dos alimentos e estimular a economia estagnada. Concordar com um acordo de longo prazo sobre direitos de pesca também será criticado por Farage, enquanto o opositor Partido Conservador rotulou o evento de segunda-feira como a “cúpula da rendição”. Um especialista em comércio que já assessorou políticos em Londres e Bruxelas disse que o governo precisava “quebrar o tabu” de aceitar regras da União Europeia, e que fazer isso para ajudar agricultores e pequenos negócios era uma atitude inteligente. Especialistas em comércio também disseram que o Reino Unido se beneficiou do foco maior na defesa, o que fez o acordo parecer mais recíproco, e afirmaram que laços aprimorados fazem sentido em um mundo mais volátil. Quando “a interrupção do comércio é tão visível e considerável”, qualquer medida que reduza as fricções com o maior parceiro comercial do país faz sentido, disse Allie Renison, ex-funcionária de comércio do governo britânico e hoje consultora na SEC Newgate.