Não consegue sair da internet? Hiperconexão prejudica atenção, memória e sono, alertam especialistas
Uso excessivo de celular e redes sociais pode levar a prejuízos para funções cognitivas Ver um filme inteiro sem parar ou olhar o celular. Fazer uma refeição sem checar notificações. Completar um treino na academia sem verificar as redes sociais entre um exercício e outro. Tarefas como estas são simples, mas parecem quase insuportáveis para quem está imerso em uma rotina hiperconectada. O uso excessivo das telas e das redes sociais é capaz de alterar o funcionamento do cérebro e trazer impactos diversos: da capacidade de atenção aos transtornos para a saúde mental. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Ceará no WhatsApp Especialistas ouvidos pelo g1 elencam alguns dos efeitos prejudiciais de estar sempre conectado e de forma quase automática, sem monitorar a própria relação com o mundo virtual. Para quem se sente culpado, vale lembrar: os mecanismos por trás das redes sociais estimulam o consumo excessivo. ➡️ Algumas dicas podem ajudar a treinar o cérebro de volta: priorizar conteúdos mais longos, escolher atividades livres das telas, fazer rituais para proteger o sono e até mesmo embarcar em um 'detox' mais radical. Pessoas comuns ouvidas para essa reportagem partilham suas tentativas, entre sucessos e recomeços, de retomar o controle sobre os próprios hábitos. A convite da reportagem, elas fizeram pequenos experimentos ao abrir mão de alguma rede social por poucos dias. Dificuldades para a atenção, memória e outras funções Uso excessivo das telas pode comprometer funções cognitivas, como atenção e memória Reprodução/EPTV As funções cognitivas envolvem áreas diversas do cérebro e incluem a atenção, a memória, a linguagem e o raciocínio, por exemplo. Em outras palavras, elas nos ajudam a perceber, interpretar e utilizar as informações que recebemos. No entanto, o uso excessivo dos celulares e das redes sociais pode comprometer o bom funcionamento destas funções. Conforme destaca Janaína Melo, professora do curso de Psicologia e da pós-graduação em Psicomotricidade na Universidade Estadual do Ceará (Uece), a convivência com o mundo virtual é bastante recente na história humana, e as pessoas não tiveram um preparo para o uso saudável. O que ela observa na clínica e nos relatos da atualidade é uma tendência de utilizar as redes sociais como uma das formas para preencher vazios existenciais. O modelo das redes sociais é atrativo para isso. Com acesso fácil a conteúdos rápidos e mediados por algoritmos personalizados, o usuário vai se habituando aos picos de liberação da dopamina, neurotransmissor do cérebro ligado à motivação e ao estímulo reforçador. LEIA TAMBÉM: Usuários acreditam ser ‘viciados’ no Instagram, mas só 2% têm sintomas; entenda por que percepção exagerada faz mal 'Cérebro podre': entenda o que é 'brain rot', expressão do ano de 2024 eleita pelo Dicionário Oxford Quem dorme tarde tende a se viciar mais em redes sociais? Pesquisa alerta para dependência entre jovens A mente até suporta o ritmo hiperconectado, mas alguns danos podem ser percebidos mesmo a curto prazo. Um dos impactos possíveis é o comprometimento da cognição. “A gente aguenta no sentido de funcionar, tanto que as pessoas permanecem [consumindo], mas isso é adoecedor. Porque a gente vai meio que se adaptando, digamos assim, e se viciando nessa dopamina. Você vai recebendo muitas informações que são prazerosas, curtas e que não exigem de você um esforço cognitivo para processar aquilo”, explica Janaína. A psicóloga elenca alguns exemplos práticos dos prejuízos: resistência para a leitura e para assistir filmes de longa duração, menor capacidade de se concentrar, dificuldade em finalizar atividades, pioras no rendimento no trabalho ou nas atividades domésticas. Quando as distrações estão sempre ao alcance da mão, manter a concentração vira um desafio, como aponta a psiquiatra Lia Sanders, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Unichristus. “Essa capacidade é moldada pelos nossos hábitos: quem se acostuma a focar por poucos segundos tem dificuldade para assistir a um filme inteiro ou ler um livro. Em outras palavras, quanto mais fragmentada nossa atenção, mais difícil é manter o foco por longos períodos”, constata. Um dos efeitos que muitas pessoas vivenciam atualmente, segundo a psiquiatra, é ‘passar’ por diversos assuntos rapidamente, sem tempo ou disposição para se aprofundar. Mais velocidade, menos qualidade Consumo constante de vídeos curtos traz riscos para cognição e saúde mental dos usuários Adobe Stock Os vídeos curtos publicados nas redes sociais revolucionaram o entretenimento e a comunicação nos últimos anos, dominando o cenário digital como principais fontes de informação e engajamento. É o que descreve um estudo de pesquisadores da Universidade de Griffith, da Austrália, publicado em novembro de 2025 na revista científica Psychological Bulletin, trazendo uma análise de pesquisas anteriores sobre os efeitos destes conteúdos para a cognição e a saúde mental.

Uso excessivo de celular e redes sociais pode levar a prejuízos para funções cognitivas Ver um filme inteiro sem parar ou olhar o celular. Fazer uma refeição sem checar notificações. Completar um treino na academia sem verificar as redes sociais entre um exercício e outro. Tarefas como estas são simples, mas parecem quase insuportáveis para quem está imerso em uma rotina hiperconectada. O uso excessivo das telas e das redes sociais é capaz de alterar o funcionamento do cérebro e trazer impactos diversos: da capacidade de atenção aos transtornos para a saúde mental. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Ceará no WhatsApp Especialistas ouvidos pelo g1 elencam alguns dos efeitos prejudiciais de estar sempre conectado e de forma quase automática, sem monitorar a própria relação com o mundo virtual. Para quem se sente culpado, vale lembrar: os mecanismos por trás das redes sociais estimulam o consumo excessivo. ➡️ Algumas dicas podem ajudar a treinar o cérebro de volta: priorizar conteúdos mais longos, escolher atividades livres das telas, fazer rituais para proteger o sono e até mesmo embarcar em um 'detox' mais radical. Pessoas comuns ouvidas para essa reportagem partilham suas tentativas, entre sucessos e recomeços, de retomar o controle sobre os próprios hábitos. A convite da reportagem, elas fizeram pequenos experimentos ao abrir mão de alguma rede social por poucos dias. Dificuldades para a atenção, memória e outras funções Uso excessivo das telas pode comprometer funções cognitivas, como atenção e memória Reprodução/EPTV As funções cognitivas envolvem áreas diversas do cérebro e incluem a atenção, a memória, a linguagem e o raciocínio, por exemplo. Em outras palavras, elas nos ajudam a perceber, interpretar e utilizar as informações que recebemos. No entanto, o uso excessivo dos celulares e das redes sociais pode comprometer o bom funcionamento destas funções. Conforme destaca Janaína Melo, professora do curso de Psicologia e da pós-graduação em Psicomotricidade na Universidade Estadual do Ceará (Uece), a convivência com o mundo virtual é bastante recente na história humana, e as pessoas não tiveram um preparo para o uso saudável. O que ela observa na clínica e nos relatos da atualidade é uma tendência de utilizar as redes sociais como uma das formas para preencher vazios existenciais. O modelo das redes sociais é atrativo para isso. Com acesso fácil a conteúdos rápidos e mediados por algoritmos personalizados, o usuário vai se habituando aos picos de liberação da dopamina, neurotransmissor do cérebro ligado à motivação e ao estímulo reforçador. LEIA TAMBÉM: Usuários acreditam ser ‘viciados’ no Instagram, mas só 2% têm sintomas; entenda por que percepção exagerada faz mal 'Cérebro podre': entenda o que é 'brain rot', expressão do ano de 2024 eleita pelo Dicionário Oxford Quem dorme tarde tende a se viciar mais em redes sociais? Pesquisa alerta para dependência entre jovens A mente até suporta o ritmo hiperconectado, mas alguns danos podem ser percebidos mesmo a curto prazo. Um dos impactos possíveis é o comprometimento da cognição. “A gente aguenta no sentido de funcionar, tanto que as pessoas permanecem [consumindo], mas isso é adoecedor. Porque a gente vai meio que se adaptando, digamos assim, e se viciando nessa dopamina. Você vai recebendo muitas informações que são prazerosas, curtas e que não exigem de você um esforço cognitivo para processar aquilo”, explica Janaína. A psicóloga elenca alguns exemplos práticos dos prejuízos: resistência para a leitura e para assistir filmes de longa duração, menor capacidade de se concentrar, dificuldade em finalizar atividades, pioras no rendimento no trabalho ou nas atividades domésticas. Quando as distrações estão sempre ao alcance da mão, manter a concentração vira um desafio, como aponta a psiquiatra Lia Sanders, professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Unichristus. “Essa capacidade é moldada pelos nossos hábitos: quem se acostuma a focar por poucos segundos tem dificuldade para assistir a um filme inteiro ou ler um livro. Em outras palavras, quanto mais fragmentada nossa atenção, mais difícil é manter o foco por longos períodos”, constata. Um dos efeitos que muitas pessoas vivenciam atualmente, segundo a psiquiatra, é ‘passar’ por diversos assuntos rapidamente, sem tempo ou disposição para se aprofundar. Mais velocidade, menos qualidade Consumo constante de vídeos curtos traz riscos para cognição e saúde mental dos usuários Adobe Stock Os vídeos curtos publicados nas redes sociais revolucionaram o entretenimento e a comunicação nos últimos anos, dominando o cenário digital como principais fontes de informação e engajamento. É o que descreve um estudo de pesquisadores da Universidade de Griffith, da Austrália, publicado em novembro de 2025 na revista científica Psychological Bulletin, trazendo uma análise de pesquisas anteriores sobre os efeitos destes conteúdos para a cognição e a saúde mental. No campo da cognição, a pesquisa aponta que o consumo excessivo de vídeos curtos tem sido mais associado a prejuízos para a atenção e para o controle inibitório — habilidade para controlar ou inibir respostas impulsivas ou automáticas diante das situações. Para a saúde mental, o uso é associado com a ansiedade e o estresse, podendo também ter relações com depressão, solidão, piora na qualidade do sono e na sensação de bem-estar. Como descreve o estudo, a exposição repetida a esse tipo de vídeo e à constante liberação de dopamina pode levar o usuário a responder menos às fontes habituais de recompensa positiva no cotidiano, aumentando a suscetibilidade à ansiedade e à depressão. Publicado em 2024 na revista World Journal of Advanced Research and Reviews, um outro estudo vinculado a seis universidades norte-americanas revisa os impactos das redes sociais na saúde mental. O estudo aponta algumas possibilidades positivas de estar no mundo virtual, como a criação de redes de amigos e conhecidos, diminuição de barreiras geográficas e empoderamento de vozes marginalizadas nas plataformas digitais. No entanto, também são descritos alguns efeitos negativos da exposição às redes sociais: dificuldade de regular as emoções, comportamentos compulsivos a partir do excesso de uso e quadros de depressão e ansiedade.

