Protestos contra Trump levam clima de festa de rua a cidades dos EUA; republicanos chamam atos de 'antiamericanos'
Milhares saem às ruas nos EUA e na Europa em protestos ‘No Kings’ contra Donald Trump Grandes multidões de manifestantes fizeram atos em cidades de todo os EUA neste sábado (18) em protestos "No Kings" ("Sem Reis"). Os participantes criticam o que veem como uma guinada ao autoritarismo na gestão do presidente Donald Trump. Em muitos lugares, os eventos pareciam mais uma festa de rua. O Partido Republicano minimizou as manifestações como "protestos antiamericanos". Os manifestantes lotaram a Times Square, em Nova York, e se reuniram aos milhares em parques de Boston, Atlanta e Chicago. Grandes atos também foram registrados em Washington e no centro de Los Angeles. Houve bandas marciais, enormes faixas com o preâmbulo “We, the people” ("Nós, o povo") da Constituição dos EUA e manifestantes com fantasias. Esta foi a terceira mobilização em massa desde a volta de Trump à Casa Branca, e ocorreu em meio a uma paralisação do governo que não só fechou serviços federais, mas também testa o equilíbrio de poderes, enquanto um Executivo agressivo confronta o Congresso e os tribunais de forma que organizadores dos protestos alertam ser um deslize rumo ao autoritarismo. FOTOS: máscaras, fantasias e cartazes marcam protestos contra Trump nos EUA e no mundo Manifestantes se reúnem próximo ao Capitólio dos Estados Unidos durante o protesto “No Kings” contra as políticas do presidente Donald Trump, em Washington, D.C., em 18 de outubro de 2025. REUTERS/Leah Millis Em Washington, o veterano da Guerra do Iraque Shawn Howard disse à agência de notícias Associated Press que nunca tinha participado de um protesto, mas se sentiu motivado a comparecer por ver o que considera o “desrespeito à lei” da administração Trump. Segundo ele, detenções migratórias sem devido processo e uso de tropas em cidades americanas são atitudes “antiamericanas” e sinais alarmantes de erosão da democracia. “Lutei pela liberdade e contra esse tipo de extremismo no exterior”, disse Howard, que acrescentou ter trabalhado 20 anos na CIA em operações contra extremismo. “E agora vejo um momento na América em que temos extremistas por toda parte que, na minha opinião, estão nos empurrando para algum tipo de conflito civil.” Trump, por sua vez, passou o fim de semana em sua casa em Mar-a-Lago, na Flórida. "Dizem que estão se referindo a mim como um rei. Eu não sou um rei", disse o presidente em entrevista à Fox News exibida na sexta-feira de manhã, antes de viajar para um jantar de arrecadação de US$ 1 milhão por prato em seu clube. Uma conta da campanha de Trump nas redes sociais zombou dos protestos ao publicar um vídeo gerado por computador com o presidente vestido como monarca, usando coroa e acenando de uma sacada. Protestos em todo o país Em São Francisco, centenas de pessoas formaram com os próprios corpos as palavras “No King!” e outras frases na praia de Ocean Beach. Hayley Wingard, vestida de Estátua da Liberdade, disse que também nunca tinha ido a um protesto antes. Só recentemente passou a ver Trump como um “ditador”. “Eu estava até ok com tudo até descobrir a invasão militar em Los Angeles, Chicago e Portland — Portland me incomodou mais, porque sou de lá e não quero militares nas minhas cidades. Isso é assustador”, disse Wingard. Dezenas de milhares se reuniram no centro de Portland para um ato pacífico. Mais tarde, a tensão aumentou quando algumas centenas de manifestantes e contramanifestantes foram a um prédio do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), com agentes federais disparando gás lacrimogêneo em certos momentos para dispersar a multidão e a polícia local ameaçando prisões caso ruas fossem bloqueadas. O prédio tem sido palco de pequenos protestos noturnos desde junho — motivo usado pelo governo Trump para tentar enviar a Guarda Nacional a Portland, medida temporariamente bloqueada por um juiz federal. Cerca de 3.500 pessoas se reuniram em Salt Lake City, em frente ao Capitólio de Utah, para compartilhar mensagens de esperança e cura após um manifestante ter sido morto a tiros durante a primeira marcha “No Kings” da cidade, em junho. E mais de 1.500 pessoas se reuniram em Birmingham, Alabama, evocando a história de protestos da cidade e o papel crucial que teve no Movimento dos Direitos Civis duas gerações atrás. “Parece que estamos vivendo em uma América que não reconheço”, disse Jessica Yother, mãe de quatro filhos. Ela e outros manifestantes disseram sentir camaradagem por se reunirem em um estado onde Trump ganhou quase 65% dos votos em novembro passado. Um manifestante segura um cartaz durante um protesto "No Kings " contra as políticas do presidente dos EUA REUTERS/Carlos Barria Organizadores querem construir uma oposição “Grandes atos como este dão confiança a pessoas que estavam à margem, mas prontas para se manifestar”, disse o senador democrata Chris Murphy à Associated Press. Embora protestos no início do ano — contra os cortes de Elon Musk e o desfile militar de Trump — tenham reunido multidões, organizadores dizem que e


Milhares saem às ruas nos EUA e na Europa em protestos ‘No Kings’ contra Donald Trump Grandes multidões de manifestantes fizeram atos em cidades de todo os EUA neste sábado (18) em protestos "No Kings" ("Sem Reis"). Os participantes criticam o que veem como uma guinada ao autoritarismo na gestão do presidente Donald Trump. Em muitos lugares, os eventos pareciam mais uma festa de rua. O Partido Republicano minimizou as manifestações como "protestos antiamericanos". Os manifestantes lotaram a Times Square, em Nova York, e se reuniram aos milhares em parques de Boston, Atlanta e Chicago. Grandes atos também foram registrados em Washington e no centro de Los Angeles. Houve bandas marciais, enormes faixas com o preâmbulo “We, the people” ("Nós, o povo") da Constituição dos EUA e manifestantes com fantasias. Esta foi a terceira mobilização em massa desde a volta de Trump à Casa Branca, e ocorreu em meio a uma paralisação do governo que não só fechou serviços federais, mas também testa o equilíbrio de poderes, enquanto um Executivo agressivo confronta o Congresso e os tribunais de forma que organizadores dos protestos alertam ser um deslize rumo ao autoritarismo. FOTOS: máscaras, fantasias e cartazes marcam protestos contra Trump nos EUA e no mundo Manifestantes se reúnem próximo ao Capitólio dos Estados Unidos durante o protesto “No Kings” contra as políticas do presidente Donald Trump, em Washington, D.C., em 18 de outubro de 2025. REUTERS/Leah Millis Em Washington, o veterano da Guerra do Iraque Shawn Howard disse à agência de notícias Associated Press que nunca tinha participado de um protesto, mas se sentiu motivado a comparecer por ver o que considera o “desrespeito à lei” da administração Trump. Segundo ele, detenções migratórias sem devido processo e uso de tropas em cidades americanas são atitudes “antiamericanas” e sinais alarmantes de erosão da democracia. “Lutei pela liberdade e contra esse tipo de extremismo no exterior”, disse Howard, que acrescentou ter trabalhado 20 anos na CIA em operações contra extremismo. “E agora vejo um momento na América em que temos extremistas por toda parte que, na minha opinião, estão nos empurrando para algum tipo de conflito civil.” Trump, por sua vez, passou o fim de semana em sua casa em Mar-a-Lago, na Flórida. "Dizem que estão se referindo a mim como um rei. Eu não sou um rei", disse o presidente em entrevista à Fox News exibida na sexta-feira de manhã, antes de viajar para um jantar de arrecadação de US$ 1 milhão por prato em seu clube. Uma conta da campanha de Trump nas redes sociais zombou dos protestos ao publicar um vídeo gerado por computador com o presidente vestido como monarca, usando coroa e acenando de uma sacada. Protestos em todo o país Em São Francisco, centenas de pessoas formaram com os próprios corpos as palavras “No King!” e outras frases na praia de Ocean Beach. Hayley Wingard, vestida de Estátua da Liberdade, disse que também nunca tinha ido a um protesto antes. Só recentemente passou a ver Trump como um “ditador”. “Eu estava até ok com tudo até descobrir a invasão militar em Los Angeles, Chicago e Portland — Portland me incomodou mais, porque sou de lá e não quero militares nas minhas cidades. Isso é assustador”, disse Wingard. Dezenas de milhares se reuniram no centro de Portland para um ato pacífico. Mais tarde, a tensão aumentou quando algumas centenas de manifestantes e contramanifestantes foram a um prédio do Serviço de Imigração e Alfândega (ICE), com agentes federais disparando gás lacrimogêneo em certos momentos para dispersar a multidão e a polícia local ameaçando prisões caso ruas fossem bloqueadas. O prédio tem sido palco de pequenos protestos noturnos desde junho — motivo usado pelo governo Trump para tentar enviar a Guarda Nacional a Portland, medida temporariamente bloqueada por um juiz federal. Cerca de 3.500 pessoas se reuniram em Salt Lake City, em frente ao Capitólio de Utah, para compartilhar mensagens de esperança e cura após um manifestante ter sido morto a tiros durante a primeira marcha “No Kings” da cidade, em junho. E mais de 1.500 pessoas se reuniram em Birmingham, Alabama, evocando a história de protestos da cidade e o papel crucial que teve no Movimento dos Direitos Civis duas gerações atrás. “Parece que estamos vivendo em uma América que não reconheço”, disse Jessica Yother, mãe de quatro filhos. Ela e outros manifestantes disseram sentir camaradagem por se reunirem em um estado onde Trump ganhou quase 65% dos votos em novembro passado. Um manifestante segura um cartaz durante um protesto "No Kings " contra as políticas do presidente dos EUA REUTERS/Carlos Barria Organizadores querem construir uma oposição “Grandes atos como este dão confiança a pessoas que estavam à margem, mas prontas para se manifestar”, disse o senador democrata Chris Murphy à Associated Press. Embora protestos no início do ano — contra os cortes de Elon Musk e o desfile militar de Trump — tenham reunido multidões, organizadores dizem que este unifica a oposição. Líderes democratas como o chefe da minoria no Senado, Chuck Schumer, e o senador independente Bernie Sanders aderiram ao que os organizadores veem como antídoto às ações de Trump, desde a repressão à liberdade de expressão até operações migratórias em estilo militar. Mais de 2.600 atos foram planejados para sábado, segundo os organizadores. A marcha nacional contra Trump e Musk na primavera deste ano teve 1.300 locais registrados, enquanto o primeiro “No Kings Day”, em junho, registrou 2.100. “Estamos aqui porque amamos os Estados Unidos”, disse Sanders ao público em Washington. Ele afirmou que o experimento americano está “em perigo” sob Trump, mas insistiu: “Nós, o povo, vamos governar.” Críticos republicanos condenam Republicanos tentaram retratar os manifestantes como radicais fora da corrente principal e principal motivo para a paralisação do governo, agora no 18º dia. Da Casa Branca ao Capitólio, líderes do Partido Republicano os chamaram de “comunistas” e “marxistas”. Disseram que líderes democratas como Schumer estão reféns da ala mais à esquerda e dispostos a manter o governo fechado para agradar essas forças liberais. “Eu encorajo vocês a assistirem — chamamos de protesto ‘Odeiam a América’ — que acontecerá sábado”, disse o presidente da Câmara, Mike Johnson, da Louisiana. “Vamos ver quem aparece”, disse Johnson, listando grupos como “tipos antifa”, pessoas que “odeiam o capitalismo” e “marxistas em plena exibição”. Muitos manifestantes disseram responder a esse exagero com humor, observando que Trump muitas vezes apela ao teatro ao afirmar que cidades para onde envia tropas são zonas de guerra. “Muito do que vimos desta administração tem sido tão pouco sério e ridículo que precisamos responder na mesma energia”, disse Glen Kalbaugh, manifestante em Washington que usava chapéu de mago e segurava um cartaz com um sapo. A polícia de Nova York não registrou prisões durante os protestos. Democratas tentam se recuperar em meio ao impasse Os democratas se recusam a votar projetos para reabrir o governo enquanto exigem verbas para saúde. Os republicanos dizem estar dispostos a discutir o tema depois, apenas após a reabertura. A situação é uma possível virada em relação a apenas seis meses atrás, quando democratas e aliados estavam divididos e desanimados. Schumer, em particular, foi criticado por permitir que uma lei de verbas anterior passasse no Senado sem usá-la para desafiar Trump. “O que estamos vendo dos democratas é alguma espinha dorsal”, disse Ezra Levin, cofundador do Indivisible, um dos principais grupos organizadores. “A pior coisa que os democratas poderiam fazer agora é se render.”