Um manual para combater o idadismo
Não basta não ser idadista – é preciso ser anti-idadista. Inspirado pelo ativismo de outros movimentos sociais, o coletivo Velhices Cidadãs lança, no fim do mês, o “Pequeno Manual Anti-idadista”, cuja distribuição será gratuita. A obra é capitaneada pelo médico gerontólogo Alexandre Kalache, uma referência mundial quando o assunto é envelhecimento, e reúne 43 autores de várias regiões do país. Juntos, eles assinam 14 capítulos que abrangem diferentes aspectos do preconceito contra os idosos. O grupo nasceu do coletivo Velhice Não É Doença, criado para combater a iniciativa da Organização Mundial da Saúde que pretendia incluir a velhice na Classificação Internacional de Doenças. “O idadismo é um ataque à humanidade. Alegar não ser idadista é simplesmente uma negação. Ser anti-idatista é um compromisso de fazer algo. Devemos responder ao idadismo diante da agressão que é”, escreve Kalache na introdução. O primeiro passo, propõem os autores, é enxergar e desconstruir o preconceito que há dentro de cada um de nós. “Talvez você não precise buscar tão longe na memória para se lembrar de uma situação em que estranhou o uso de um penteado de uma pessoa idosa ou achou que ela não era capaz de aprender algo novo. Por outro lado, talvez você não veja nada de errado com o uso da imagem de velhinhos curvados para representar idosos. O idadismo brota desses ‘microidadismos’”, ensina o manual. Pequeno Manual Anti-idadista: um guia para se educar e educar os outros para combater o preconceito Reprodução A carga cultural é tão forte que os próprios idosos adotam um discurso desqualificante como desculpa ou na tentativa de evitar problemas: “ah, eu estou velho, já não penso direito”. É bom fazer uma lista de frases – algumas até parecem inofensivas – que carregam uma forte carga de etarismo. Coisas como: “Você passou da idade pra usar (ou fazer) isso”; “Pra casar (namorar ou conviver) com alguém tão mais velha (o), tenho certeza que ela (e) deve ser muito rica (o)!”; “Não entendo por que alguém quer começar a aprender algo novo nessa altura da vida!”; “Imagino como aquela pessoa era bonita anos atrás!”; “Você está muito bem conservada (o), nem aparenta ter toda essa idade!”. O tema é recorrente deste blog e toda militância é bem-vinda, especialmente quando trata de temas que ainda são um tabu – por exemplo, o pressuposto errôneo de que idosos são desprovidos de sexualidade. O manual considera que tal visão “acrescenta mais uma camada cruel ao idadismo”, e destaca seu impacto sobre as minorias sexuais, que muitas vezes se veem obrigadas a esconder suas orientações, para que não sofram com o preconceito somado à homofobia e à transfobia. Portanto, eduque-se e eduque os outros. Atitudes baseadas em estereótipos são observadas inclusive entre os profissionais de saúde, que interpretam sintomas de declínio funcional e cognitivo como “coisas da idade” que não merecem cuidado especial. O livro também lista ações para empresas e empregadores: Capacitar os recrutadores para ajudá-los a identificar e evitar os vieses inconscientes que possam interferir nos processos de admissão. Eliminar as restrições quanto à idade para o preenchimento das vagas, focando em competências e alinhamento com a cultura organizacional. Investir na formação de equipes diversas, multigeracionais, com pluralidade de visões e experiências. Oferecer treinamento contínuo para todos os colaboradores, independentemente da idade, incluindo o aprimoramento tecnológico e o desenvolvimento de habilidades digitais. Implantar planos de carreira que valorizem a pessoa idosa, contemplando sua história e experiência; buscando equilíbrio entre a jornada de trabalho e as necessidades da vida pessoal dos trabalhadores; apoiando a transição segura para a aposentadoria. Diante das múltiplas formas de violência contra o idoso – daquela interpessoal, que pode ocorrer dentro de casa, à estrutural, nesse país com tanta desigualdade que impede que uma parcela significativa da população envelheça com dignidade – o manual convida à reflexão: você percebe o envelhecimento em seu horizonte? O que está fazendo ativamente para lutar contra o idadismo? Entenda o que é etarismo


Não basta não ser idadista – é preciso ser anti-idadista. Inspirado pelo ativismo de outros movimentos sociais, o coletivo Velhices Cidadãs lança, no fim do mês, o “Pequeno Manual Anti-idadista”, cuja distribuição será gratuita. A obra é capitaneada pelo médico gerontólogo Alexandre Kalache, uma referência mundial quando o assunto é envelhecimento, e reúne 43 autores de várias regiões do país. Juntos, eles assinam 14 capítulos que abrangem diferentes aspectos do preconceito contra os idosos. O grupo nasceu do coletivo Velhice Não É Doença, criado para combater a iniciativa da Organização Mundial da Saúde que pretendia incluir a velhice na Classificação Internacional de Doenças. “O idadismo é um ataque à humanidade. Alegar não ser idadista é simplesmente uma negação. Ser anti-idatista é um compromisso de fazer algo. Devemos responder ao idadismo diante da agressão que é”, escreve Kalache na introdução. O primeiro passo, propõem os autores, é enxergar e desconstruir o preconceito que há dentro de cada um de nós. “Talvez você não precise buscar tão longe na memória para se lembrar de uma situação em que estranhou o uso de um penteado de uma pessoa idosa ou achou que ela não era capaz de aprender algo novo. Por outro lado, talvez você não veja nada de errado com o uso da imagem de velhinhos curvados para representar idosos. O idadismo brota desses ‘microidadismos’”, ensina o manual. Pequeno Manual Anti-idadista: um guia para se educar e educar os outros para combater o preconceito Reprodução A carga cultural é tão forte que os próprios idosos adotam um discurso desqualificante como desculpa ou na tentativa de evitar problemas: “ah, eu estou velho, já não penso direito”. É bom fazer uma lista de frases – algumas até parecem inofensivas – que carregam uma forte carga de etarismo. Coisas como: “Você passou da idade pra usar (ou fazer) isso”; “Pra casar (namorar ou conviver) com alguém tão mais velha (o), tenho certeza que ela (e) deve ser muito rica (o)!”; “Não entendo por que alguém quer começar a aprender algo novo nessa altura da vida!”; “Imagino como aquela pessoa era bonita anos atrás!”; “Você está muito bem conservada (o), nem aparenta ter toda essa idade!”. O tema é recorrente deste blog e toda militância é bem-vinda, especialmente quando trata de temas que ainda são um tabu – por exemplo, o pressuposto errôneo de que idosos são desprovidos de sexualidade. O manual considera que tal visão “acrescenta mais uma camada cruel ao idadismo”, e destaca seu impacto sobre as minorias sexuais, que muitas vezes se veem obrigadas a esconder suas orientações, para que não sofram com o preconceito somado à homofobia e à transfobia. Portanto, eduque-se e eduque os outros. Atitudes baseadas em estereótipos são observadas inclusive entre os profissionais de saúde, que interpretam sintomas de declínio funcional e cognitivo como “coisas da idade” que não merecem cuidado especial. O livro também lista ações para empresas e empregadores: Capacitar os recrutadores para ajudá-los a identificar e evitar os vieses inconscientes que possam interferir nos processos de admissão. Eliminar as restrições quanto à idade para o preenchimento das vagas, focando em competências e alinhamento com a cultura organizacional. Investir na formação de equipes diversas, multigeracionais, com pluralidade de visões e experiências. Oferecer treinamento contínuo para todos os colaboradores, independentemente da idade, incluindo o aprimoramento tecnológico e o desenvolvimento de habilidades digitais. Implantar planos de carreira que valorizem a pessoa idosa, contemplando sua história e experiência; buscando equilíbrio entre a jornada de trabalho e as necessidades da vida pessoal dos trabalhadores; apoiando a transição segura para a aposentadoria. Diante das múltiplas formas de violência contra o idoso – daquela interpessoal, que pode ocorrer dentro de casa, à estrutural, nesse país com tanta desigualdade que impede que uma parcela significativa da população envelheça com dignidade – o manual convida à reflexão: você percebe o envelhecimento em seu horizonte? O que está fazendo ativamente para lutar contra o idadismo? Entenda o que é etarismo