Com Del Valle, Coritiba SAF fatia seu capital social e levanta alertas
Coxa, um substantivo feminino que, em espanhol, significa muslo. Mas o poder criativo do imortal Carneiro Neto, ao captar o fato de que o Coritiba tem agora também como acionista o Independiente del Valle, do Equador, já cravou com ironia uma nova identidade: o Coritiba agora é o “El Cocha”. A aquisição de parte das […]
Coxa, um substantivo feminino que, em espanhol, significa muslo. Mas o poder criativo do imortal Carneiro Neto, ao captar o fato de que o Coritiba tem agora também como acionista o Independiente del Valle, do Equador, já cravou com ironia uma nova identidade: o Coritiba agora é o “El Cocha”.
A aquisição de parte das ações da Coritiba SAF pelo Grupo Del Valle não pode ser tratada como um fato comum, como um simples negócio de cessão de direitos societários. Analisada a fundo, é preciso investigar a verdadeira intenção da Treecorp, principal acionista da sociedade.
É notório que a Treecorp não se sentiu confortável com o negócio ao constatar que não há nada semelhante, no mundo corporativo, à paixão do torcedor. Impaciente, intransigente e cega para o estado antecedente do clube, exige resultados imediatos. Para isso, o torcedor é capaz de lotar ônibus e organizar caravanas até a sede ou a residência do dono para protestar.
Não foi coincidência que, logo após receber a visita da torcida coxa em São Paulo, a Treecorp tenha negociado parte de suas ações com a empresa Outfield. Agora, negocia outra fatia com o Grupo Del Valle, do Equador, representante de um futebol periférico da América do Sul.
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Da mesma forma que explicou o ingresso da Outfield na sociedade, a Treecorp justifica a entrada do Del Valle como a de um acionista minoritário. Essa questão, porém, é irrelevante e vem sendo usada para evitar o debate principal: a conduta da Treecorp levanta uma série de dúvidas. E deixa uma certeza: a empresa fragmentou seu capital social e o colocou à venda no mercado.
O fato de os novos acionistas, Outfield e Del Valle, serem minoritários também é irrelevante, já que eles possuem direitos que permitem intervir para não serem prejudicados por decisões do controlador majoritário.
Esses movimentos coincidem com outro ponto sensível: a maior parcela do valor que a Treecorp precisa investir está prestes a ser cobrada: a modernização do Couto Pereira, orçada em até R$ 500 milhões. Pouco se fala, no entanto, que a construção do CT de Campina Grande sequer começou, quando já deveria estar inaugurada.
Essa é a questão essencial a ser debatida no negócio com o Del Valle. Mas parece que a imprensa de Curitiba prefere se limitar ao óbvio, reproduzindo apenas o que consta na nota oficial do clube.

